Pequeno Príncipe, grande ilhéu


Entre as muitas morais possíveis presentes na história d’O Pequeno Príncipe, escrita pelo francês Antoine de Saint-Exupéry, gosto da que fala sobre a viagem enquanto uma forma de aprendizagem. E viajar não diz respeito apenas aos longos deslocamentos pelo espaço, voando em cometas, ou cruzando fronteiras por terra e mar. Existem aquelas viagens que têm início no exato momento em que ouvimos uma história.

As aventuras de Saint-Exupéry são histórias que se confundem com o próprio enredo do século XX. Para alguns, o aviador esteve inclusive por estas nossas terras, fazendo grandes amizades no bairro Campeche, que utilizava como campo de pouso. O francês ainda teria frequentado bailes no Lira Tênis Clube, então um reduto da elite florianopolitana. Se há ou não evidências destas suas passagens pela Ilha, pouco importa para nós que temos certeza da visita do Pequeno Príncipe.

Ninguém sabe como ele chegou por aqui, mas creio que se lhe perguntassem ele também não responderia. Assim era o Príncipe: muito mais interessado em descobrir do que em explicar. E todos apreciavam esta característica! Sua filosofia não era como aquela dos pensadores antigos, preocupados em entender o cosmos, mas afastando-se do essencial que é invisível aos olhos. Para ele, conhecer novas coisas só fazia sentido para lhes dar alguma utilidade. Era assim que experimentava a vida.

O Pequeno Príncipe esteve por aqui um pouco antes daquela Segunda Grande Guerra que uniu o mundo e, também, o separou em duas metades. Mas aquele jovem viajante de cabelos dourados não queria saber de guerra e suas histórias traziam sempre paz para os moradores ilhéus.

Foi numa roda de conversa, provavelmente lá no meio das dunas da Lagoa da Conceição (sim, ela adorava a areia), que ele contou sobre um país distante cercado de mar, mas que ficava muito próximo a um continente. “Naquele país, o que mais se fazia era esperar”, disse o Príncipe. “No começo, eles sempre possuíam comida, bebida, saúde. Esperavam que as frutas caíssem das árvores para comê-las. Esperavam que a chuva caísse para beber. Esperavam que o tempo curasse as feridas”. E, enquanto todos ouviam atentamente para saber como a história terminaria, ele perguntou: “Vocês realmente querem esperar pelo final da história ou preferem viver?”. Foi quando eles perceberam que o país distante era a própria Ilha em que viajavam, e que agora eram eternamente responsáveis por aquilo que cativaram.

Dizem que o Pequeno Príncipe foi o melhor governante que passou por estas terras; e ele jamais teve de dar uma ordem sequer.

  > Crônica publicada no Jornal Notícias do Dia em 03/10/2013.