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Existência, Graphic Novel, Heróis, Histórias em Quadrinhos, Jack Kirby, Moebius, Stan Lee, Super-Heróis, Surfista Prateado
Assim como Stan Lee, não acredito em heróis perfeitos. A antiguidade clássica nos ensina sobre a falibilidade dos mitos; porque, sob nosso ponto de vista, não existe outra narrativa que não a humana. O cosmo pode até estar aí desde sempre, mas é nossa presença nele que desperta essa coisa chamada história. Por excelência, Stan Lee era um contador de histórias. Com drama, intuição e objetividade, criou personagens que se parecem com a gente mesmo, mas a quem coisas inacreditáveis aconteceram… como ser picado por uma aranha radioativa ou ser atingido por raios gama. A genialidade, no entanto, não está no absurdo das tramas, e sim na relação pessoal para com estes desafios surpreendentes. A vida, por si só, é esta coisa sem explicação, com tantos sentidos possíveis que fazem o destino nos escapar das mãos. As grandes histórias em quadrinhos partem dessa perplexidade existencial – e o Surfista Prateado (concebido por Jack Kirby, outro mestre da nona arte, e desenvolvido dramaticamente por Lee) talvez seja um dos maiores veículos para discutir quem somos e para onde vamos. Além disso, pasmem!, ele surfa no ar. Quando Stan Lee e o também genial ilustrador francês Moebius se reuniram para produzir uma graphic novel, pareceu inevitável que um fenômeno singular na arte contemporânea despontasse no final da década de 1980. Surfista Prateado: Parábola é menos a propósito de escolhas e mais sobre consequências. O poder (mimetizado por Galactus) e sua fascinação inerente contam a história humana do passado ao futuro. O olhar decepcionado do Surfista para com as pessoas talvez seja o resultado de sua vida solitária, ainda que urdido na miséria de nossa espécie. E ninguém escapa dessa parábola.
> Surfista Prateado: Parábola. Texto de Stan Lee, arte de Moebius, cores de Mark Chiarello e John Wellington. Abril Jovem, 1989.
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