• Sobre o autor
  • Contato
  • Colaboradores

Crônicas de Evandro Duarte

~ Textos sobre o universo ao meu redor.

Crônicas de Evandro Duarte

Arquivos da Tag: Amor

Closer – Perto Demais (2004), de Mike Nichols

16 quinta-feira maio 2019

Posted by Evandro Duarte in Filmes

≈ Deixe um comentário

Tags

Amor, Cinema, Clive Owen, Closer - Perto Demais, Damien Rice, Filmes, Jude Law, Julia Roberts, Natalie Portman, The Blower's Daughter


As pessoas amam a si mesmas, ainda que estejam apaixonadas por outras. Talvez seja essa a idiossincrasia mais evidente na narrativa de Closer – Perto Demais (2004), de Mike Nichols. O roteiro do filme, adaptado de um texto teatral, flana sobre algumas das mais características experiências cotidianas da sociedade ocidental neste início de século. A esperança, o medo, o sexo e o amor são apenas metáforas de seus desejos comezinhos.

São estranhos que se encontram, mas jamais se desnudam verdadeiramente um para outro. A mentira se insurge no âmago das relações amorosas. Alice (Natalie Portman) manipula a si mesma, como uma marionete consciente. Sai de Nova Iorque para cair em Londres na tentativa de esquecer alguém que já não ama. O profissional frustado Dan (Jude Law), aquele que traz a culpa consigo e, sabendo-se culpado, faz disso um elemento de sustentação, claudica ao edificar uma base que suporte os defeitos com os quais não é capaz de lidar.

A fotógrafa americana Anna (Julia Roberts), por capricho ou por acaso, não se entende com os homens seja por falta de sorte, seja pelo desejo de um amor completo; mas amores completos são qualquer coisa de quebra-cabeça terminado: perde-se a graça ao final. Assim, lhe convém estar sempre à procura de um novo amor. E eis que o médico Larry (Clive Owen), um homem peculiarmente bruto e sincero, aparece numa dessas coincidências que o destino costuma reservar.

O tempo-texto flutua numa sequência de elipses ao longo de quatro anos… com o plano final distanciado num futuro próximo. De cena em cena, de tempo em tempo, os amores se consomem e se destroem; os casais trocados não tardam a se reencontrar. E a fragilidade de todos fica evidente: as mulheres nova-iorquinas se contentam com suas próprias mentiras; os homens londrinos conseguem o que querem da pior maneira.

Dan encontra a solidão a que, inevitavelmente, suas atitudes o levaram. Anna volta com Larry por não compreender a si mesma. Larry se mostra satisfeito em ter sua relação de volta, não importando o prejuízo de sentimentos que acarretará esse retorno impreciso. Alice, que nem mesmo tem esse nome, volta para a Grande Maçã na ânsia de apagar Londres de sua memória. Mas ela e os outros sabem que todo amor modifica uma pessoa e esse é o risco de estar perto demais. A desconhecida Jane Rachel Jones, acompanhada de outros tantos anônimos, caminha indiferente ao que aconteceu no meio da multidão, enquanto música The Blower’s Daughter, de Damien Rice, não deixa ninguém tirar os olhos e os ouvidos do que é mais importante.

closer

Clímax (2017), de Bruna Lombardi

27 quinta-feira dez 2018

Posted by Evandro Duarte in Livros

≈ Deixe um comentário

Tags

Amor, Bruna Lombardi, Clímax, Diadorim, Livros, Poesia, Poeta, Rosa, Sexo, Vida


Flanar entre contraditórios de si ou de mim; porque não há fuga possível – pelo contrário, há sim. Uma hora ela se faz poetisa, outra poeta. Por vezes, romantiza. Noutras, decreta: o amor não tem estado definido. É bruto, é leve, é sexual e também hígido. Quem nasceu para comandar também pode se dar ao luxo de dar. Receber e brincar com a palavra, seduzir como quem o coito sucede à lavra. J’ai travaillé au max. Imagina em francês o livro Clímax! Bruna Lombardi, autora e atriz, e muito mais. Destila sensações proféticas quais gritos de “ais”. A obra é ficção, mas se completa na realidade. E se um não é não, também pode ser outra coisa dependendo da idade. O pudor contempla a si mesmo tramando receber um beijo. Os versos são inversos conforme o ensejo. Wait a little. Espere um pouco. São Paulo or Seattle? Ser são ou louco? Agradecer aos céus, retribuir os dias idos em Paris. Desabrochar feito rosa do povo ou nobre flor de lis. Sua rede é de felicidade, sua gente é de expressão. Em todas as sertanidades, nem Diadorim é exceção. Personagem de seu próprio enredo, quiçá adorável iconoclasta? Oras, bela porque se lhe cabe, mas não lhe basta. Ela olhou para dentro, viu uma luz e deu o melhor de si. Sua escala poético-musical não começa em dó e tampouco termina em si.

> Clímax. Escrito por Bruna Lombardi. Editora Sextante, 2017.

climaxdabruna

> Siga também o Instagram:
instagram.com/cronicasdoevandro

o que o sol faz com as flores (2017), de rupi kaur

20 quinta-feira dez 2018

Posted by Evandro Duarte in Livros

≈ Deixe um comentário

Tags

Amor, Girassol, Literatura, Livros, o que o sol faz com as flores, Poesia, rupi kaur, Sexo


mulheres e homens trafegam por um mesmo espectro de dramas e tramas. por venturas e circunstâncias, existem questões de gêneros que se acumularam ao longo dos séculos e vieram ter entre si no alvorecer do segundo milênio. não é qual explosão de um vesúvio, tampouco uma sensação de alívio: ao contrário! tal encontro é quase um desvio nos caminhos, um convívio de pergaminhos. sim, a literatura, como todas as artes, une a todos. algumas nuanças apenas nos exaltam, despetalando ideias que surgem com o tempo. rupi kaur, em o que o sol faz com as flores, tem a seu favor toda essa estranheza típica de uma era que prefere o empoderamento possível ao temível poder. seu momento permite uma discussão libertária sobre temas tão antigos quanto ainda longe dos consensos. o amor, o sexo, o feminismo, o feminino, a imigração, o corpo, a alma, a natureza… tudo o que toca, tudo o que sente… e mais… porque a poesia tem das suas e explicar seus versos tão somente enseja uma possibilidade dentro de um universo sem fim. assim, entre ações e contradições, homens e mulheres se encontram porque não têm por onde. o girassol procura o astro-mor ou a si mesmo?

> O que o sol faz com as flores. Escrito por Rupi Kaur. Editora Planeta, 2018.

solfazflores

> Siga também o Instagram:
instagram.com/cronicasdoevandro

Constituição Federal de 1988, de Todos os Brasileiros

18 quinta-feira out 2018

Posted by Evandro Duarte in Livros

≈ Deixe um comentário

Tags

Amor, Brasil, Constituição Federal, Cultura, Humanidade, Liberdade, Livros, Política, Povo, Vida


Desde crianças que somos/fomos, dizem-nos para separar a política das outras esferas da vida comum. “Não misturem com futebol, com religião, com nada que cause algum incômodo”. Dizem-nos ainda para não discutir política. “Não perca amizades, parentes ou amores”. São ditos que se repetem ao longo de gerações justamente para nos ausentar de um debate que integra todos os dias de nossas vidas. A política, como a cultura, o afeto e outras incontáveis formas de socialização, tem a ver com tudo que diz respeito a nossa forma de ser humano. Querer afastá-la do nosso convívio é tão inútil quanto esperar que alguém deixe de sentir por vontade própria. Os que gostamos da boa política (aquela sem vícios de dominação) e dos grandes livros temos de aumentar nossa intimidade para com um dos textos mais importantes que nos diz respeito. A Constituição Federal de 1988 é o resultado de muitas vontades somadas; exemplo dos mais relevantes quando da inclusão social e da preservação da dignidade dos brasileiros. Desde a Constituição dos Estados Unidos (1787-1789), passando pela Constituição francesa de 1781 (que incorporou a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão), os direitos e deveres de cada um de nós se ampliam para nos lembrar do quanto somos brilhantes como espécie, mas também seres finitos. Carecemos de um entendimento maior, possibilidade que, ao que tudo indica, jamais virá a ser. Ainda assim, há beleza no mistério. O parágrafo único do Artigo 1º da Constituição de 1988 determina: “Todo o poder emana do povo”. A frase é simples, direta e, até mesmo, nada poética. Mas coloca uma responsabilidade sobre nossos ombros do tamanho da história. E nos lembra de que a política está para todos nós como o amor está para o poeta: é impossível terminar esta relação!

consti

> Siga também o Instagram:
instagram.com/cronicasdoevandro

As definições do cronista

22 quinta-feira jun 2017

Posted by Evandro Duarte in Ideias Imperfeitas

≈ Deixe um comentário

Tags

Amor, Conhecimento, Destino, Paixão, Verdade, Vida


Quisera definir o amor ou, quiçá, uma coisa menos espetacular como a paixão. Ter respostas para perguntas diretas, simples e objetivas, explicando o que é a vida?, por que existimos?, para onde vamos? Assim, poderia equilibrar os sonhos no mesmo pêndulo da realidade que insiste em se voltar para nós. Com um pouco de obstinação, entenderia essa vontade indômita para com o tempo, o espaço, as coisas belas e sujas que encontramos ao longo do caminho. Tamanho conhecimento teria grande valor para medir as ideias mais sublimes, que se desmancham no ar feito algodão doce tomando vento.

Essa experiência do dia zero ao dia final acontece tendo a companhia constante de incertezas, dúvidas e suspeitas. Não, não é pessimismo. Tanto mistério pode ser ainda mais interessante. Só que um tantinho de fatos definitivos não fariam mal a ninguém. A própria narrativa histórica agradeceria se a verdade tivesse um lado, pelo menos uma vez na história. “Em cada lago a lua toda brilha porque alta vive”. Procure a referência.

Na metade do caminho (ou antes ou depois), você se dá conta de tudo que ainda não aprendeu. Pode ter a ver com as suas escolhas – algumas vezes tem mesmo –, mas é provável que uma imagem qualquer de você mesmo tenha se projetado no primeiro muro ou espelho que se lhe atravessou. Sem mais, nem menos. Único e igual a todo o resto. A vontade foi ainda mais forte do que nas oportunidades passadas. Olhando com cuidado, meio que de repente, parece ser o momento certo para colocar tudo em perspectiva. E é o que se dá neste exato instante. Precisão. Paixão. Amor.

Por um momento ou dois, você ainda insiste em culpar o destino. Eu, particularmente, já deixei de fazê-lo há tempos. Na maioria dos casos, culpas ou responsabilidades só adiam a leitura do contexto, cegam-lhe os olhos feito spray de pimenta em manifestações de rua. Não tenho interesse em visitar sinas e esquinas mais do que uma vez. Tomando fôlego, a odisseia será menos heroica e mais cotidiana. Alguém continuará tramando os tapetes que nunca chegam ao fim porque o personagem principal ainda está perdido, qual o filho que volta para casa depois dos 30 anos.

Quem não encontra respostas ou definições continua a tecer crônicas. Nisso eu acredito.

> Crônica publicada no jornal Notícias do Dia em 22/06/2017.

Boa fé

30 quinta-feira mar 2017

Posted by Evandro Duarte in Ideias Imperfeitas

≈ Deixe um comentário

Tags

Adolescente, Amor, Fé, Infância, Juventude, Robin Hood


Hoje, o dia vai ser legal. Senti isso assim que uma lufada de vento gostoso, com cheiro de sorvete e sabor de orvalho, invadiu meu quarto. Coloquei a coberta de lado; não era preciso dobrar a roupa de cama. Teremos tempos melhores para isso. Com um pouco de fé e uma xícara de café, o mundo está pronto para se abrir, como uma janela que recebeu óleo em suas juntas.

Por alguns instantes, talvez até mesmo horas, deixo as notícias tristes de lado e me embalo com a felicidade. São tantas as possibilidades que chego a me perder. Ensaios, enredos, tramas, temas: a ocasião faz o bom ladrão de sonhos e beijos e abraços. Robin Hood ainda mais romântico do que nos romances de capa-e-espada. Muito amor e nenhuma arma.

Na pracinha do bairro, a reunião de alunos após a aula matinal às vésperas do almoço. Observo-os com atenção. Riem e atropelam as palavras com a urgência de quem vive o juízo final – “só que não”, eles mesmos completam antenados com a gíria da vez. Espertos e exagerados, como sempre compete aos adolescentes. Entre a ingenuidade e a crítica mordaz, cometem os erros que a idade lhes oferece. Todos encontram algum tipo de alegria, longe de uma geração mais velha, antiga e reacionária.

Ali próximo, no parquinho infantil, aquela energia de quem está sobremaneira ansioso para crescer e se tornar um super-herói ou um professor (duas das profissões mais ousadas de que temos notícias). Crianças interagem com os tatibitates, fazendo-nos crer no entendimento entre povos, nações, religiões, partidos e ideologias. Pequenas amostras muito mais relevantes que um estudo detalhado do genoma humano. Ah, e nada contra a ciência; pelo contrário. Somos filhos do átomo em permanente evolução.

Há um mistério superior que sempre vai nos escapar. E isso não me incomoda. Tenho boa fé nos detalhes que ainda são tão emocionantes quanto a própria aventura principal. Cada qual à sua maneira, mas numa única narrativa compartilhada, como se fosse possível shippar a humanidade. Ou, sei lá, ao menos cutucá-la pelo Facebook.

Nesse clima supimpa, aceno com as duas mãos. Estou te convidando para dar o fora daqui, agora mesmo. O sol está meio escondido, mas quem se importa? Já desliguei o celular. Hoje, o mundo será o bastante. Amanhã, vamos querer ainda mais.

> Crônica publicada no jornal Notícias do Dia em 30/03/2017.

Bowie & Mercury

14 quinta-feira jan 2016

Posted by Evandro Duarte in Cronicontos

≈ Deixe um comentário

Tags

Amor, Cronicontos, David Bowie, Freddie Mercury, Músicas


Heróis por um dia todos podemos ser. Não pelo sacrifício, mas em razão de um legado que se faz presente por que fora do tempo. Bowie sabia disso quando cantou o amor moderno ou a rebeldia glam.

– Vamos dançar!, dizia naquela voz protuberante.

E as pessoas agitavam seus corpos como que entorpecidas de algum sentimento que pode ser deste ou de outro planeta. Se a gente é feita de poeira estelar, nada mais adequado que essa experiência musicada chamada vida seja oriunda do pó – para onde, também e não por acaso, retornaremos.

De longe, aquele sujeito das estrelas observa com interesse os sapatos vermelhos equilibrando mulheres e homens sem ter por onde. Este é heroísmo de quem faz os dias menos tumultuados como é característico dessa humanidade carente.

Não muito longe, e sob a mesma pressão, Mercury desenha uma rapsódia quase tão singular quanto o reinado pacífico e duradouro. De novo, o herói é carregado nos braços do povo, enrolado à bandeira da Inglaterra ou do Brasil ou da galáxia mais próxima. Nada realmente importa, nem bandeira alguma se torna fronteira para quem busca alguém para amar.

– Nós somos os campeões!, bradava sem camisa ao piano.

Vivendo sozinho, queria se libertar de qualquer doença ou cisma. Desejava viver para sempre – e quem não queria isso também? –, mas aceitou o tempo que lhe cabia. O show tinha que continuar, independente do preconceito alheio.

Bowie e Mercury vieram a ter muitos anos mais tarde. Já não existiam muros separando Berlim ou Jerusalém. A política havia sido banida pela arte como um movimento natural: o vaivém das ondas do mar ou do rádio. Nesta conversa épica, revelaram alguns segredos existenciais e se divertiram inventando novas personalidades. Dividiram um tipo de mágica que trouxeram daquela estranha odisseia espacial.

Os cálculos foram executados com perfeição e o controle da missão autorizou a decolagem da nave. Daquele dia em diante, todos os momentos foram extintos e transformados em música permanente. Ainda haveria lugar para os heróis, mas que viessem da ficção como tudo o mais.

…

Outro dia, deixei o rádio ligado na estação de sempre. Em uníssono, as vozes de David Bowie e Freddie Mercury me buscaram de um distante raciocínio pormenorizado sobre contas a pagar ou algo do gênero. A realidade te tira do sério e não sorri de volta. Aumentei o volume porque não havia mais nada a ser feito. Desta vez, eu era o herói da História – pelo menos enquanto a música estava tocando.

> Crônica publicada no Jornal Notícias do Dia em 14/01/2016.

Oposições gentis

16 quinta-feira jul 2015

Posted by Evandro Duarte in Ideias Imperfeitas

≈ Deixe um comentário

Tags

Amor, Che Guevara, Romeu & Julieta, São Judas Tadeu, Visão política


Não é preciso que um casal concorde politicamente para ter um relacionamento pacífico, carinhoso e feliz. Veja o caso de Serafim e Virgínia, casados há duas décadas, mesmo que nunca tenham votado nos mesmos candidatos. Poderia ser coincidência, mas foi proposital: eles se conheceram ainda na escola, quando concorriam ao grêmio estudantil. Serafim perdeu a disputa, mas ganhou as atenções da vitoriosa Virgínia.

“Eu era um cara mais conservador, do tipo que altera os processos com cautela. Não acredito em revoluções porque fui criado por um pai policial que desistiu de ser padre para patrulhar as ruas. Minha mãe era devota de São Judas Tadeu, mas tinha uma quedinha pelo Che Guevara. Tudo bem, meu pai nunca reclamou porque a foto do argentino ficava sempre guardada na gaveta, enquanto a do Santo ocupava uma parte grande da parede da sala. Por tudo isso, aprendi a tolerar as diferenças, até mesmo dos mais descrentes. Quando Virgínia apareceu na minha vida, estava fazendo algumas curvas perigosas e decidi ir à esquerda. E ela era de parar o sinal!”, explicou-me um empolgado Serafim enquanto limpava sua coleção de rifles de caça.

Nas vezes em que os encontrei lado a lado, percebi que as discórdias de ambos nunca passaram dos limites do bom senso. E como opinavam distintamente! Entre um gole de chá (para ele) ou de cerveja (para ela), as proposições eram praticamente respostas que contradiziam tudo aquilo que o outro explicara.

“O Serafim é muito na dele. Para mim, nem tudo é o que parece. Tenho a necessidade de estar sempre descobrindo, de pensar diferente da mesmice que está absorvendo a inteligência de muitos companheiros de luta. As verdadeiras revoluções são movidas por sentimentos de amor, acho que foi o Che quem disse isso em algum lugar. E dou graças a Deus que temos alguns poucos exemplos do passado para mostrar o quanto já erramos. Assim, não posso pensar num amor de verdade que não seja contraditório. Se eu me casasse com alguém com a mesma visão política que a minha, morreria de tédio. O Serafim me contempla e me completa. E vice-versa como versa um grande amor”, a Virgínia comentou quando eu a presenteei com um quadro do Guevara – que fica exposto com toda a pompa no escritório da ONG em que ela trabalha.

O caso de Serafim e Virgínia é o auge da gentileza. Nunca elegeram o mesmo candidato porque não precisam que os outros lhes digam como se portar. É uma história de sabedoria que teria feito toda a diferença para as famílias de Romeu & Julieta, por exemplo. E como eles têm sorte por serem tão contrários justamente onde não é importante!

> Crônica publicada no Jornal Notícias do Dia em 16/07/2015.

A coerção pela concessão

11 quinta-feira jun 2015

Posted by Evandro Duarte in Ideias Imperfeitas

≈ Deixe um comentário

Tags

Amor, Ciência, Cumplicidade, Economia, Fé, Governo, Humanidade, Justiça, Liberdade, Política


O mundo não vai bem, obrigado por perguntar. Aqui pela vizinhança ou lá longe, somos todos estrangeiros que carecem de cumplicidade. Sim, a palavra da vez é mesmo cumplicidade, que alguns entendem erroneamente como condescendência. Um engano corriqueiro, mas praticamente letal. Os cúmplices legítimos nem sempre concordam quanto à cor da gravata ou à política econômica. E essa discordância só faz aumentar a cumplicidade, que se estreita independente da dimensão do horizonte.

Se no princípio tudo era escuridão e vazio, parece que ainda estamos naquela etapa de pegar o castiçal para só então encontrar a vela e preencher o ambiente com um pouco de luz. E nesses tempos em que a conta da energia elétrica anda tão cara, a ideia de usar velas muito nos convém. Mas se uns poucos têm luz própria, estes exemplares da nossa espécie não podem servir de exceção. Ninguém é perfeito ou imperfeito o suficiente para sucumbir ao senso comum. A conformação acaba se mostrando como único caminho possível, mas isso acontece porque não se conheceu os demais. Antes da extinção deste planetinha azul que tanto nos apetece, temos a obrigação de experimentar estas vias iluminadas, nas quais as lombadas e os semáforos são desnecessários.

Na dúvida, não escolha um lado para se apoiar. Tomar partido é uma grande falácia de nossa era. Nestes poucos mais de dois milhões de anos, incluindo aqui nossos ancestrais habilis, erectus e neandertais, formaram-se aglomerações umas contra as outras porque a espécie só sabia evoluir na base da porrada. Mas a porrada é um caminho dolorosos demais, seja numa luta com ossos de animais ou num míssil disparado por um drone. A porrada não deixa espaço nem para a felicidade nem para os dentes. Ninguém precisa se deixar apanhar por uma visão de mundo tão medíocre.

E como a história teima em se repetir, a liberdade que pregam por aí está mais para a coerção pela concessão. Com a troca de favores, ganha-se poder, mesmo que a alma se perca pelo caminho. Os governos usam das concessões para se perpetuar, enquanto os cidadãos guardam dinheiro no colchão com medo do confisco. Eis a coação se fingindo de livre-arbítrio.

Daí que temos quatro ideias fundamentais: o amor, a justiça, a fé e a ciência. Por alguma triste sina, esse quarteto genial é utilizado para justificar os atos mais bárbaros de que já tivemos notícia. Enquanto houver extremos, não haverá lugar para a cumplicidade. O mundo não vai bem, mas obrigado por quem tenta mudar.

> Crônica publicada no Jornal Notícias do Dia em 11/06/2015.

Minuta

09 quinta-feira jan 2014

Posted by Evandro Duarte in Ideias Imperfeitas

≈ Deixe um comentário

Tags

Amor, Beleza, Carl Sagan, Cartola, Frei Bartolomé de las Casas, Manifestações, Minuta, Pierre-Auguste Renoir, Voto Nulo


Mas nem parecia outra coisa que não a sua própria vontade de ser feliz. Será que era isso mesmo? Bastava um pensamento positivo e toda sua existência culminaria numa explosão de alegria, como um sambinha bom do Cartola que a gente escuta enquanto ginga os quadris.

Era possível, sim. Ninguém nunca lhe dissera que a vida era um paraíso destruído como um livro do Frei Bartolomé de las Casas. E, se tivessem lhe contado esta história, não teria sentimentos tristes por um tempo e um trópico que já não lhe pertencem mais.

Estudava porque era uma intenção quase pura, uma aceitação de sua situação incompleta para com o mundo. Existia e isso, sim, era um dom, divino ou não. Com a imaginação, lançava-se para longe daqueles que lhe queriam mal ou que nunca compreenderam a beleza justamente como o contrário da vaidade. Belo, belo! Não precisava de um universo paralelo! O que mais lhe cativava estava ali mesmo, bem ao seu lado, como uma coleção de minutas auto-explicativas – lembram-se das explicações sorridentes de Carl Sagan sobre o Cosmos?

Sorria tão espontaneamente que aquilo se tornara um hábito, felizmente, automático, mas nada mecânico. Não gostava de robôs porque eles tinham qualquer coisa de escravos. E a liberdade ainda continuava a ser mais importante que a companhia de andróides andróginos sem coração. Amar era, é e sempre será uma estima superior, impossível de ser alcançada com cálculos matemáticos.

Enquanto amava, manifestava-se nas agitações populares. E ninguém era capaz de lhe prender. Tanta gente ao seu lado, tantos corações batendo numa sincronia acelerada. Tudo tão verde, tão festivo como o baile no “moulin de la galette”, igualzinho à famosa pintura do Renoir. Esse povo todo sabia que, em essência, nada é proibido.

Politicamente militava contra os partidos: só acreditava no que era inteiro. Integralmente dedicado às travessuras fantásticas, votava nulo porque sempre desconfiava daqueles que tinham certeza do que diziam. Era inventivo, criativo, receptivo e, mais do que tudo, vivo. Não queria perder nada ou ninguém. Entre cores, flores e outros sonhos contemporâneos, sentia-se imerso em doces dores e amigáveis amores.

Agora, chegara o momento de escrever sua própria minuta. Um legado definitivo sem mais delongas. Estava sem caneta à mão. Andou até encontrar uma casa lotérica e lá notou uma esferográfica pendurada num barbante. Sua chance, por fim, aparecera. Tirou o bloco de anotações do bolso. Fez alguns cálculos e chegou aos seis números necessários para realizar a aposta.

 > Crônica publicada no Jornal Notícias do Dia em 09/01/2014.

Receita para a páscoa gorda

28 quinta-feira mar 2013

Posted by Evandro Duarte in Ideias Imperfeitas

≈ 2 Comentários

Tags

Amor, Fé, Páscoa, Receita


Vamos aos ingredientes de forma prática: pegue duas ou três garrafas de amor-próprio e esvazie-as dentro de uma bandeja dourada – na ausência de ouro, pode ser plástico mesmo. Antes, porém, unte o recipiente com testemunhos de amizade, mas do Tipo A: aqueles que você só consegue dos verdadeiros e fiéis Amigos. Com uma colher de madeira, apanhe alguns pedaços de memórias familiares meio amargas, pois é importante entender que tudo faz parte desta receita, mesmo os dias difíceis, mesmo as horas tristes.

Se tiver à mão cachos de saudade, também não se furte a usá-los com parcimônia. Afinal, saudade em excesso poderá te deixar meio grogue e nunca se sabe quando a blitz vai te parar. Na dúvida, elimine as saudades recentes, pois as recordações antigas trazem mais conforto porque já estão bem sedimentadas.

Seja coerente consigo mesmo na escolha dos ingredientes principais. Adicione as doces declarações de amor como quem prepara uma festa de aniversário. Não se preocupe com o nível de açúcar em seu sangue, pois tudo se transformará em sorrisos despreocupados e prazerosos gemidos de “hummm”.

Para o tempero, é preciso alguns litros de condescendência. Não, não tente agradar a todos, pois este é o jeito mais fácil para errar em cheio. Dizem os grandes cozinheiros que a melhor receita não é aquela popular, mas sim a especial. A singularidade de uma receita para a páscoa gorda deve ser medida em todos os temperos escolhidos. Pitadas de bom senso são sempre bem vindas, assim como doses grandes de humildade e paciência.

Mas nunca, jamais, nunca mesmo se esqueça da fé. Por um momento, deixe de lado a ideia de que fé e religião são vizinhas íntimas. Fique apenas com a fé numa porção exata para abrandar aquele inevitável sabor de fatalidade que vem com os anos. A medida exata da fé é, evidentemente, variável. A cada preparo, a execução e o resultado mudam a partir da experiência individual. Esta porção, assim, culminará com uma maravilhosa explosão no paladar, expandindo-se para todo o corpo e, se tudo der certo, alcançando aqueles que lhes são próximos.

Esta é uma receita simples, mas relativamente trabalhosa. Foi construída ao longo dos séculos por praticamente todos os seres humanos que já viveram. Para um ou para outro, ganhou motivações e significados mais apurados. Judeus e cristãos têm mais afinidade para com a páscoa, mas a receita é válida para qualquer um, em qualquer tempo ou lugar. E se, ainda assim, persistir o medo de engordar, não se preocupe: faz muito bem à saúde se empanturrar de fatias e mais fatias de amor.

> Crônica publicada no Jornal Notícias do Dia em 28/03/2013.

Manifesto sobre a arte popular

16 quinta-feira ago 2012

Posted by Evandro Duarte in Ideias Imperfeitas

≈ Deixe um comentário

Tags

Amor, Artes, Popular


Olhando por um sentido menos apaixonado ou aguerrido para com a arte popular, ficaremos um pouco ressentidos se lembrarmos que tudo poderia ter sido muito diferente, mais bem acabado e, obviamente, melhor. Porque essa necessidade de diversão ou essa pseudo-esperteza de alguns criadores nada mais é do que um sintoma mal inventado, mesmo que pareça fazer sentido sobre todas as coisas. Até o soldado sabe que “fazer sentido” nada mais é que uma obrigação involuntária. As rotinas, por certo, raramente são planejadas por quem espera sempre mais dos outros e de si mesmo. Essa falência de um bem querer (desejar o melhor) só teve no materialismo de nossos dias um retrato infiel e característico de um sonho que não deu certo. Vingou, isso é verdade, mas quando todos acordarem, se acordarem, verão que o assombro durou muito além do imaginado. A arte popular, outrora o que nos esperava atrás do arco-íris, caiu feito uma chuva torrencial; enxurrada de não-ideias largada a esmo. Mais do mesmo. E o complicado é que a repetição da prática não levará à perfeição. Dentre todas essas viagens pessoais, sociais ou planetárias, não existe um espaço claro de imensidão utópica. Tudo ao rés-do-chão como um chinelo surrado; os passos claudicantes num prejuízo preciso à longa caminhada humana. Poderíamos falar, em última estância, da natureza e seus fenômenos irracionais. Mas isso ficou démodée como todo o resto. A consciência está cuspindo para cima, sem saber para onde ir ou mesmo quem encontrar para ter com alguma coerência. Ainda que a ciência não queira viver na escuridão, almejando inclusive a totalidade do universo, soa-nos distante o sentimento de liberdade, parecendo pouco menos verossímil que um comercial de refrigerantes. Ou de cerveja. E, particularmente, fico preocupado com o amor, um velho guerreiro expatriado pela inconformidade de um tempo sem espaço. Se houve um esquecimento abissal dentro das estruturas da arte popular este se deu com o amor, porque ele não pode se proteger atacando, diferentemente de tantas outras intenções. O amor foi a intenção primeira que se tornou grande, mas padece de ir ainda mais para longe do senso comum – eis o conflito de criador e criatura chegando ao ponto mais extremo. Não acredito – novamente, lembro que esta é uma opinião individual sem a obrigação de ser compartilhada – que o clímax da arte popular surgirá da pressão das massas, tampouco que as elites sofrerão o revés mental para uma mudança significativa. Em algum momento, o amor sumirá sem deixar vestígios… e ninguém fará nenhuma arte para impedir.

> Crônica publicada no Jornal Notícias do Dia em 16/08/2012.

Cheiros

06 quinta-feira out 2011

Posted by Evandro Duarte in Ideias Imperfeitas

≈ 1 comentário

Tags

Amor, Cheiros, Humor, Michael Jackson, Nariz


Benditos aqueles que não sofrem de rinite e podem apreciar a todo momento os cheiros que a vida coloca diante de nossos narizes. Quem tem essa peculiar característica nasal muitas vezes não usufrui de um dos sentidos mais interessantes, talvez o segundo ou o terceiro dentre os sete existentes.

Qual não é a desapontamento de uma namorada ao borrifar um de seus mais caros e adocicados perfumes e… nada! Nenhuma exclamação, elogio ou afago que mencione o aroma comprado em dez ou mais prestações – e o vidrinho parecia ser menor do que a quantidade indicada no frasco. Mas o namorado, coitado, não é nenhum insensível para com as coisas do amor: somente outro a quem a rinite veio ter indefinidamente. São em situações assim nas quais me pergunto para que servem as 20 milhões de células sensoriais que carregamos em nosso epitélio olfativo? Parece muito, mas é muito pouco se compararmos a um cachorro, por exemplo, que possui mais de 100 milhões de células sensoriais. Tanta capacidade para armazenar as informações dos cheiros acaba sendo insuficiente em certas ocasiões. E quem tem rinite sabe que essa falta de informação olfativa dá nos nervos, transformando a respiração – nosso movimento corporal imprescindível – numa irritante atividade.

Por suposto, temos alguma teoria especulativa oriunda de tanta ausência de cheiros: estamos todos irritados demais para sentir qualquer odor ao nosso redor. O nariz coça e coça, você espirra e espirra, mas pensa apenas em quão bom seria se não tivesse de passar por todo aquele aborrecimento, por tamanha insatisfação sensorial. E, pensando em tudo isso, ninguém é capaz de sentir o sabor do ar.

Mas vamos e venhamos: quantas vezes falamos bem do nariz de alguém? Num certo sentido, o nariz é visto apenas como suporte para óculos e, quando muito, objeto de mutação para viciados em cirurgias plásticas – e aqui o nome do astro pop Michael Jackson sempre aparece na ponta da língua (ou do nariz). Ainda assim, devemos muitos bons momentos ao nariz e às sensações que o mesmo nos proporciona, destarte que muitas refeições não seriam tão aprazíveis sem aquele frescor do aroma que pode ser considerado o início da degustação.

Fica a dica, então, para todos aqueles obcecados pelas fragrâncias, colecionadores de perfumes ou apenas entusiastas dos cheiros: se for namorar alguém com rinite, perdoe-o de todo coração, pois suas desventuras já são suficientemente grandes para mais uma coisa lhe tirar o humor. Quando tudo acabar, basta respirar fundo e agradecer pela oportunidade.

 > Crônica publicada no jornal Notícias do Dia em 06/10/2011.

Perfil

Jornalista. Escritor. Leitor. Espectador. Algumas passagens da minha trajetória: Em 1998, fui Diretor de Imprensa do grêmio estudantil da Escola Técnica Federal de Santa Catarina (Florianópolis/SC). Entre 2001 e 2005, editei o fanzine JornalSIN na UNISUL (Palhoça/SC). No mesmo período, editei a seção de Literatura do portal cultural SARCÁSTICOcomBR (Florianópolis/SC). Nos anos de 2002, 2003, 2005 e 2010, realizei a cobertura crítica do Fórum Social Mundial (em Porto Alegre/RS) para o site SARCÁSTICOcomBR. Em 2002, atuei como cronista de cinema e editor de Cultura do Jornal Mercosul (Florianópolis/SC). Em 2004, publiquei de modo independente o livro "Caderno Amarelo de Poesias". Entre 2005 e 2006, atuei na área de assessoria de imprensa na Exato Segundo Produções (Florianópolis/SC). Em 2008, fui um dos vencedores do 6º Concurso Literário Conto e Poesia realizado pelo Sinergia - com a poesia "Nova Iorque em Vermelho". Em 2011, fui um dos vencedores do 7º Concurso Literário Conto e Poesia realizado pelo Sinergia - com a poesia "Soldado sem sentido" e com o conto "Velhos corações imaturos". Em 2012, apresentei o Programa Geral e o Ponto de Encontro no canal fechado TVN (São José/SC). Entre 2013 e 2015, fui editor-chefe do Jornal Independente (Biguaçu/SC). De 30/04/2009 a 10/08/2017, escrevi crônicas semanais para o jornal Notícias do Dia (Florianópolis/SC). Desde 2016, sou um dos editores e cronistas do Centopeia Site. Também produzo e apresento programas para o canal Centopeia TV no YouTube e para o podcast Centopeia Falante no Spotify. Publico semanalmente no blog Crônicas do Evandro e atualizo ocasionalmente o perfil do Instagram @cronicasdoevandro.

Redes Sociais

  • Instagram
  • Facebook
  • Twitter

Categorias

Cidades Colaborações Cronicontos Filmes Florianópolis Histórias em Quadrinhos Ideias Imperfeitas Livros Músicas

Tags

Alfred Hitchcock Amor Anos 1980 Artes Brasil Carnaval Casablanca Chuva Cinema Colaborações Conhecimento Cronicontos Crônicas Cultura Democracia Desterro Economia Educação Escola Estado Estados Unidos Existência Família Fernando Pessoa Filmes Filosofia Florianópolis Futebol Futuro Governo Grécia História Histórias em Quadrinhos Hollywood Howard Hawks Humanidade Humphrey Bogart Infância Ingrid Bergman Internet John Huston Jornalismo Justiça Karl Marx Lembranças Liberdade Literatura Literatura Brasileira Livros Machado de Assis Marilyn Monroe Martin Scorsese Michael Curtiz Músicas Natal Natureza Nostalgia Palavras Paris Poesia Política Ponte Hercílio Luz Praia Praça XV de Novembro Rio de Janeiro Rock’n’roll Romeu & Julieta Segunda Grande Guerra Sociedade Teatro Tempo Terra Universo Vida William Shakespeare

Mais acessados

  • O melhor dos anos, o pior dos anos
  • Em primeiro plano
  • James Stewart (1908-1997)
  • Marilyn Monroe (1926-1962)
  • Judy Garland (1922-1969)
  • Humphrey Bogart (1899-1957)
  • Casablanca (1942), de Michael Curtiz
  • Sonhos de um Sedutor (1972), de Herbert Ross
  • Não Somos Anjos (1955), de Michael Curtiz
  • Uma Aventura na Martinica (1944) e Os Homens Preferem As Loiras (1953), ambos de Howard Hawks
janeiro 2021
S T Q Q S S D
 123
45678910
11121314151617
18192021222324
25262728293031
« dez    

Arquivo do Blog

Centopeia Site

SARCÁSTICO

Politicalidades

Blog do Tiago Masutti

Crie um website ou blog gratuito no WordPress.com.

Cancelar
Privacidade e cookies: Esse site utiliza cookies. Ao continuar a usar este site, você concorda com seu uso.
Para saber mais, inclusive sobre como controlar os cookies, consulte aqui: Política de cookies