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Crônicas de Evandro Duarte

~ Textos sobre o universo ao meu redor.

Crônicas de Evandro Duarte

Arquivos da Tag: Democracia

Democracia sem méritos

01 quinta-feira set 2016

Posted by Evandro Duarte in Pensamentos Imperfeitos

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COnstituição, Democracia, Dilma Rousseff, Fernando Collor, Política


Com a fadiga de uma ideia, a culminância da irresponsabilidade. Assim o é para com a democracia, único sistema que está em risco em todos os momentos porque, justamente, é aquele que trabalha com a maior margem entre os erros e os acertos. Para uma república jovem como a brasileira, as mudanças não consentidas pelos votos são igualmente trágicas quanto esperadas. Se à nação escapam ainda as reformas mais elementares e radicais, parece-nos até lógico imputar-lhe historicamente os dados que se seguem: 25 presidentes constam na trajetória republicana, sendo que somente cinco destes foram eleitos pelo voto popular e continuaram no posto até o fim.

Ainda assim, a destituição da presidente Dilma Rousseff no último dia 31/08/2016 revela um sintoma inesperado – pelo menos quando levamos em conta a Constituição de 1988. Trata-se, evidentemente, de um desequilíbrio estrutural que diz respeito ao próprio presidencialismo. Sobretudo, quando levamos em conta as regras jurídicas cada vez mais consideradas no exercício da governança. O cargo de presidente da república em todos os países nos quais este também é o chefe de estado pressupõe um valor simbólico e personalista. O voto é, portanto, direcionado às aptidões pessoais do então candidato, de sua biografia e, no caso de reeleição, de sua experiência teórica e prática. Já quando de seu mandato, o presidente deve ser capaz de equalizar demandas internas (os apoiadores, a coligação, os mercados…) com as conveniências globais (a oposição, os países aliados, a população…). O desequilíbrio surge quando tais demandas e conveniências partem de um pressuposto simplório e anti-democrático: o mérito. Aí está a principal diferença deste processo de impeachment em relação ao de Fernando Collor nos anos 1990. Em todas as etapas, votações e afins, jamais se deixou de lado os aspectos ideológicos – muitas vezes, sobrepujando os políticos. Numa democracia altiva a qual se pretendia pela atual Carta Magna, o direito de opinião é um aspecto relevante do escrutínio político, não seu guia máximo e tampouco deveria ser utilizado como baliza processual. Erros e acertos, conjunturas e popularidade, nada disso importa porque o mérito (ou a falta dele) presidencial em nada tem a ver com a regularidade de seus atos.

É assim que a democracia se abala. É assim que uma ideia chega num clímax de regozijo apenas para aqueles que fraquejam quando a política mais precisa deles. Mas a derrota também integra a história dos grandes vencedores.

> Crônica publicada no Jornal Notícias do Dia em 01/09/2016.

Partidos inteiros

29 quinta-feira out 2015

Posted by Evandro Duarte in Pensamentos Imperfeitos

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Democracia, Parlamentarismo, Partidos Políticos, Política


Ainda que uns poucos não acreditem, a democracia é um caminho para lá de interessante. Pode não ser o melhor possível, mas tem seus méritos que fazem valer a pena mesmo de almas pequenas. Na democracia republicana, porém, as almas pequenas se apequenam ainda mais quando fazem dos partidos políticos a engrenagem propulsora da administração nacional. Às vezes, partidos surgem com intenções sinceras, noutras não. E é este entendimento (ou a falta dele) que contribui negativamente para uma política de alianças tão duvidosas quanto a brasileira.

Em momentos de crises, os ilustres idiotas estão apenas preocupados em encontrar culpados e não em apontar iniciativas modernizadoras. Por que não anseiam pelo revigoramento partidário? Se perdemos o bonde do parlamentarismo, por que não trazer o assunto à baila outra vez e de novo?

Alguns partidos atuais assumem para si posições tão divergentes que, no final das contas, deixam de ser, exatamente, partidos. Partidos inteiros não deveriam existir num regime presidencialista como o nosso. Um partido é um fragmento da sociedade, uma demanda que deve se instaurar na república para fortalecer os pontos de vistas, colaborar com a diversidade e trabalhar por objetivos específicos das pessoas. Já num partido inteiro o que acontece é justamente o contrário: nenhum ponto de vista é fortalecido, pois o próprio partido aceita a contrariedade; não colabora com a diversidade, pois necessariamente um grupo pequeno deverá representar o partido em nível nacional, desprezando as divergências internas; e não trabalha por objetivos do cidadão, pois sua sustentação é através do próprio partido, cada vez mais preocupado em participar das esferas do poder. E, para ser ainda mais claro, esta última característica que consiste em olhar primeiro para si mesmo é precisamente aquilo que, por fim, o iguala a todos os outros partidos dentro desta bengala institucionalizada chamada governabilidade.

A governabilidade vem falando mais alto desde a redemocratização, e todo o resto vira acessório – incluindo os Três Poderes e sua incapacidade de trabalhar de forma organizada e individual. Nosso modelo desgastado precisa de uma chacoalhada direta, sem falsas representatividades, sem ideias retrógradas quais a volta de um regime militar ou a separação de alguns estados em novos países, sem incentivadores do conchavo e do poder a todo custo. A responsabilidade é de todos os partidos e do cidadão que deixou de participar desse jogo de interesses. Xeque-mate em quem? A democracia quer a resposta.

> Crônica publicada no Jornal Notícias do Dia em 29/10/2015.

Abaixo ao muro

19 quinta-feira mar 2015

Posted by Evandro Duarte in Pensamentos Imperfeitos

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Another brick in the wall, Democracia, Pink Floyd, Sociedade


Outro tijolo no muro / another brick in the wall. A frase-título da famosa música do grupo inglês Pink Floyd nos remete a uma discussão sem fim, ou com um fim, aparentemente, muito distante.

Somos realmente apenas outro tijolo no muro? Estamos aqui porque servimos para alguém? É difícil saber o real motivo de tudo o que nos cerca. Acredito que, em diversas vezes, o chamado “sistema” impele ao ser humano determinadas ações que não são sequer passíveis de explicação. As atividades ocorrem de forma sintomática, tão mecânica quanto um relógio. Tic, Tac.

Inocentes e culpados. Certo ou errado. Por impulso, seguimos em frente ouvindo o som oriundo das hélices do helicóptero (ou seria um drone?) que sobrevoa nossas cabeças, como um vigilante atento a todos os passos da humanidade. Fim da privacidade? Será que ainda existe alguma privacidade?
A tecnologia está aí para quem quiser ver e para alguns poderem usufruí-la. O destino da nossa espécie reside num botão capaz de iniciar uma guerra, eliminando de uma só vez milhões de vidas.

O bombardeio do helicóptero começa. As forças do poder instituído, mas não respeitado, ajudam nesse massacre que controla o avanço das forças contrárias ao sistema vigente. Tijolos e dinheiro ergueram o império. E você? Você é apenas outro tijolo no muro?

As hélices giram formando um círculo contínuo de som e vento. Os mísseis são lançados numa velocidade que os olhos não vêem, mas o coração sente. Mesmo que estejam despedaçados, ainda existem os corações que batem fora de ritmo tal qual a vida de seus donos inconformados.

No lugar de corações, medalhas. No lugar de vitórias, perdas. Ninguém sai lucrando quando um lado quer se manter no alto do pódio, comandando seus exércitos que seguem com vendas nos olhos para que não vejam os horrores que cometem – tal e qual a musa Justiça.

A sintonia não existe mais. O ritmo agora segue fora do compasso. A música que toca dispensa apresentações e vai direto ao assunto, sem rodeios, sem perguntas. O intervencionismo é a ordem da vez.

O sonho da democracia existe, ainda que muitos vivam em pesadelo constante. Quem luta pela paz faz guerra. Quem proclama a liberdade prega o fascismo. Sonhos perseguidos, destruídos por bombas de status.

A prova mais dura para um estudante. A lição que o pai não sabe como explicar para seu filho.

O caminho da conciliação, do entendimento, do respeito mútuo, da celebração das diferenças é só mais um tijolo no muro erguido sobre o sangue civil. Mas, ainda assim, é o tijolo que fazemos questão de carregar.

> Crônica publicada no Jornal Notícias do Dia em 19/03/2015.

Dúvidas eleitorais

21 quinta-feira ago 2014

Posted by Evandro Duarte in Pensamentos Imperfeitos

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Democracia, Eleições, Liberdade, voto


O voto é uma ação duvidosa. Se por um lado parece justo, afinal é a maioria quem decide o resultado, por outro soa como uma mal humorada caminhada num sábado de manhã com chuva.

Não acredito que alguém possa definir com clareza a sua escolha política através de debates com perguntas figurativas, com entrevistas em programas de televisão que fazem jornalismo de empresa ou mesmo com o mal chamado “horário eleitoral gratuito”, no qual a concretude dá lugar à dramaticidade acusatória e à emoção defensiva.

A política representativa gira em torno de si mesma, porque tudo no mundo segue a principal invenção humana: a roda. De uma maneira tergiversante, tudo que está aí vem da roda – uma imitação lógica e mesmo trivial dos astros que guiaram nossos ancestrais, mostrando que sempre estamos no mesmo lugar. E giramos como tontos.

Mas viver em sociedade, apesar de tudo, é conviver com uma porção de coisas da qual não se gosta. É um mundo cheio de carnes para um vegetariano. É uma fascinação por regras que se deturpam para um anarquista. É um universo virtual para quem ainda prefere o toque da pele. É votar por obrigação.

Não votamos em candidatos, e tampouco nos partidos. Sequer votamos nas propostas. O que acontece na prática é um voto nas circunstâncias. Foi o voto das circunstâncias que elegeu um candidato sem vínculo partidário no primeiro pleito da redemocratização, que elegeu um intelectual a partir de um movimento econômico praticamente inadiável como foi o Plano Real, que elegeu um ex-metalúrgico porque era possível fazê-lo sem que fosse um risco social, que elegeu sua sucessora numa estrutura de governo que se mantêm a mesma desde 1990.

O ideal democrático de nosso país está muito mais forjado numa “democracia eleitoral” do que propriamente numa “democracia de governo”. E, no final das contas, a única democracia que interessa (a “democracia social”) foi deixada de lado, como que acumulando poeira desde que os militares governaram o Brasil pisando em ovos.

Assim, parece-me inevitável encarar a campanha eleitoral como uma sucessão de desacertos entre o que se faz e o que se projeta. Ou, em outras palavras, basicamente aquilo que é a comunicação (jornalismo, publicidade, markenting…) para as massas.

Para votar com alguma propriedade, pois, é necessário interagir com o mundo, conhecer a história que nos trouxe até aqui, conversar com amigos que nada ganham com a política, apreciar as obras de arte porque elas também mostram quem somos e o que nos tornamos. Fazer isso não é uma garantia de votar certo, mas uma possibilidade fazê-lo sem a arrogância de quem inventou a roda e ficou girando no mesmo lugar.

> Crônica publicada no Jornal Notícias do Dia em 21/08/2014.

Atividades públicas de foro íntimo

17 quinta-feira out 2013

Posted by Evandro Duarte in Pensamentos Imperfeitos

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Bill Clinton, Democracia, Eliot Spitzer, EUA, Itamar Franco, JFK, Lílian Ramos, Marilyn Monroe, Monica Lewinsky, Tio Sam


Durante o governo Itamar Franco, 02 de Outubro de 1992 até 01 de Janeiro de 1995, um episódio não necessariamente de caráter político repercutiu ainda mais do que seu desejo pessoal de colocar o fusca novamente em produção. Falo cá do carnaval de 1994, quando a modelo Lílian Ramos esteve no camarote ao lado do então presidente mostrando, digamos assim, a parte que a calcinha comumente esconde. Comentários e risadinhas perduraram por algum tempo, mas nada que abalasse o governo do maior topete da história do planalto.

Nos Estados Unidos, algumas circunstâncias envolvendo (a falta de) roupas de foro íntimo tiveram desfechos um tanto mais graves. No dia 12 de Março de 2008, o governador de Nova Iorque demitiu-se do cargo que ocupava por estar envolvido em escândalos sexuais com prostitutas de luxo. Eliot Spitzer, o agora ex-governador, teria gasto algumas dezenas ou centenas de milhares de dólares com belíssimas garotas locais e, também, ao menos uma brasileira que fora ganhar a vida naquela terra de liberdade.

Ainda que não se confunda liberdade com libidinagem, os estadunidenses vez por outra se metem em situações sexuais que acabam deixando marcas indeléveis de suas vontades mais íntimas. De Bill Clinton com a estagiária da Casa Branca, Monica Lewinsky, até John F. Kennedy e um suposto caso com a diva do cinema, Marilyn Monroe. Ambas as ocorrência, saliente-se, não terminaram lá muito bem. A estagiária e um vestido fizeram Clinton mentir em rede nacional de televisão (tornando célebre a frase “Eu não tive relações sexuais com esta mulher, a senhorita Lewinsky”), o que quase levou o mandatário ao impeachment. Monroe, por sua vez, pode ter sido a amante mais famosa de JFK. Em menos de um ano, a atriz de Os Homens Preferem as Loiras seria encontrada sem vida por conta de uma até hoje mal explicada uma overdose de barbitúricos e o presidente seria assassinado em plena vigência do mandato. Trágica coincidência ou mais um caso de conspiração tão frequente na terra do Tio Sam?

Dentre todos os casos mencionados, indubitavelmente o de Itamar e sua colega despreocupada talvez mereça uma saudação por parte dos nós brasileiros, tanto pela proximidade quanto pelo fato de que “não existe pecado ao sul do equador”. E, bem, a culpa do incidente não foi necessariamente dele.

Para o bem ou para o mal, tais atos indicam apenas a fragilidade de todos os homens – e mulheres – que levam uma vida pública cada vez menos secreta. Governantes são tão mortais como nós, sucumbindo ou não às tentações do poder e, em algumas oportunidades, até mesmo logrando alguma diversão. Eis a plena democracia.

 > Crônica publicada no Jornal Notícias do Dia em 17/10/2013.

Políticos e insensatos

15 quinta-feira nov 2012

Posted by Evandro Duarte in Pensamentos Imperfeitos

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Autoritarismo, Barbara W. Tuchman, Democracia, Marcha da Insensatez, Renascimento, República, Vietnã


O que me incomoda profundamente não é tanto a incompetência das administrações públicas brasileiras, mas principalmente a defesa das práticas burras a favor de uma pseudo defesa das garantias democráticas. Caso alguém ainda não tenha compreendido, nivelar por baixo não distribui renda ou sabedoria. A ignorância política é a pior das ignorâncias porque pressupõe a falta de ligação entre os grandes problemas sociais.

E essa não é uma questão contemporânea. Alguém aí se lembra porque Luís XVI e Maria Antonieta perderam as cabeças? Numa palavra: descontrole. Antes como agora, várias foram as oportunidades que os governantes perderam para comandar lado a lado daqueles que representam. Nas mal chamadas repúblicas, a escolha de um representante deveria ser o sucesso da maioria e não se transformar na glória pessoal do político. E se Maria Antonieta estava preocupada demais em frivolidades materiais não parece muito diferente destes mandatários de egos ainda maiores que seus patrimônios financeiros.

A historiadora estadunidense Barbara W. Tuchman, em seu livro “A Marcha da Insensatez”, apresenta uma curiosa e ignóbil tradição de governantes que buscam políticas contrárias aos seus próprios interesses. De Tróia ao Vietnã, a historiadora desnuda a fragilidade dos governos e afirma: “Sendo óbvio que a perseguição de desvantagem após desvantagem é algo irracional, concluímos, em consequência, que o repúdio da razão é a primeira característica da insensatez”. Por isso, os troianos aceitaram o cavalo; por isso, os Estados Unidos entraram no Vietnã, mesmo que tudo levasse a crer que essa seria uma jogada ruim.

É arriscado especular se vivemos ou não num período de transição, especificamente no caso brasileiro. É da mesma forma pouco prudente imaginar que qualquer período histórico não seja um longo processo transitório, o que dá margem para muitas teorias tão bem fundamentadas quanto inacabadas. E alguma lógica existe para que após um momento tão revigorante quanto o Renascimento apareçam os governos autoritários ao longo do século XX. Inflados por um poder que não lhes é de direito, esses ditadores de ocasião caminham para a inexorável derrota. Mas se duas grandes guerras ainda não extinguiram esses déspotas do planeta, há algo de podre nessas democracias tão exaltadas quais sejam americanas ou europeias.

Os políticos brasileiros marcham, mesmo sem saber, para o expurgo. Haverá um tempo em que as mudanças serão irrevogáveis e os governantes que pregam a burrice servirão apenas para as aulas de história, como um capítulo complementar ao livro da Barbara.

> Crônica publicada no Jornal Notícias do Dia em 15/11/2012.

A lógica democrática dos perversos

08 quinta-feira nov 2012

Posted by Evandro Duarte in Pensamentos Imperfeitos

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Barack Obama, Brasil, Democracia, Eleições, Estados Unidos, Europa, Mitt Romney, Platão, República


Pode não ter a mínima importância, mas etimologicamente os dois grandes partidos (Republicano e Democrata) que disputaram a eleição nos Estados Unidos da América dizem que todos são mais do mesmo. Vejamos: República, do latim “res publica” ou “coisa pública”; Democracia, do grego “demos kratos” ou “autoridade do povo”. De alguma forma, então, pode-se dizer que as eleições, lá como aqui, são jogos de cartas marcadas porque os jogadores são os mesmos em qualquer ocasião.

Assim, Republicanos ou Democratas pouca diferença farão neste grande contexto que é o da economia global. Mesmo que as barreiras sociais permaneçam absurdas em praticamente todo o planeta, os fatores econômicos ainda sofrem de um aviltante distanciamento humanitário. O que interessa é sanar a dívida estadunidense e manter o mercado comum europeu firme e forte, como se um complementasse o outro. Eis a lógica dos perversos: bolso cheio em meia dúzia de países e barriga vazia nas demais nações.

Muito tempo antes desse pleito que reelegeu Barack Obama para dormir novamente em seu amplo quarto da Casa Branca, o filósofo grego Platão afirmou que a democracia é um regime político tão ruim que está praticamente no mesmo patamar da timocracia (“governo dos ricos”), da oligarquia (“governo de poucos”) e da tirania (“governo com poderes ilimitados”). A única opção aceitável para o filósofo seria a aristocracia, na qual apenas os mais sábios e bem preparados guiariam os interesses de todos. Ainda que os pensamentos de Platão sejam fundamentados com alguma coerência, principalmente quando olhamos para muitos dos resultados das eleições municipais em 2012 no Brasil, o fato é que teríamos de fazer um outro pleito para escolher os mais sábios – e a história se repetiria.

Mesmo que as eleições nos país dos hambúrgueres sejam diferentes das brasileiras, as intenções políticas são praticamente as mesmas, guardadas as devidas variantes culturais. Direta ou indiretamente, há uma lacuna gritante entre os políticos e os cidadãos comuns. A derrota de Mitt Romney é compartilhada por todos os eleitores que não terão vez/voz nos rumos do país/planeta por, pelo menos, quatro anos.

O povo com autoridade ao definir suas metas para a coisa pública não passa de uma limitação vernacular. É mesmo angustiante perceber que o jogo democrático está decidido antes mesmo da partida começar, não importam as cartas e tampouco os votos. A decepção com a reeleição de Obama é a nossa única certeza de que esquerda e direita se tornaram tão somente setas de orientação no trânsito.

> Crônica publicada no Jornal Notícias do Dia em 08/11/2012.

Um longo, longo ano

14 quinta-feira jan 2010

Posted by Evandro Duarte in Pensamentos Imperfeitos

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1968, Democracia, Pós-Guerra, Rosselini


Talvez estejamos vivendo num vácuo “continuum” desde 1968, já que este é o ano que jamais teve fim. Creio ser praticamente impossível pensar o mundo ocidental e suas criações artísticas desde então sem que sejam levadas em conta as consequências daquele fatídico ano. Não que a zero hora do dia primeiro de janeiro de 1969 o mundo tornou-se despropositado. Nada disso. Mas assim que as décadas posteriores, incluindo os anos 2000-10, deram com a realidade sem maquilagem, tivemos a nítida sensação de que todos os caminhos, impreterivelmente, sugeriam a fatalidade niilista.

Assim, tais sentimentos contemporâneos, como amor, paz e prosperidade, caíram na vala comum das teorias tão ocas quanto complicadas. Do materialismo dialético à teologia da libertação, o homem se encontra na difícil escolha de negar divergências e aceitar passivamente uma estrambólica comunhão entre o sagrado e o profano, entre o divino e o pagão, entre a arte e a ciência. Do que sobra, os aproveitadores de plantão escrevem livros, regurgitando o Humanitismo de Quincas Borba ou aconselhando aos outros tudo aquilo que não conseguiram para si mesmos.

Inserindo o presente na narrativa mundial, fica evidente sua inevitabilidade, posto que é chama. E ao que chamamos destino, vinculam-se os anos dos pós-guerras e todos os questionamentos concomitantes. Daí o cinema de Roberto Rossellini (Alemanha Ano Zero, De Crápula a Herói) imergir no imaginário conceitual daqueles dias imediatamente após-1945. Não existem vilões ou heróis na obra de Rossellini, porque para os cidadãos comuns não importam vitoriosos ou perdedores, e sim a comida do dia seguinte: o que sintetiza o aspecto da sobrevivência. Suas personagens sobrevivem, apesar de… Que importam os motivos, se nada mais faz sentido algum?

O ano de 1968 nos legou a verdade do erro (uma verdade que estava oculta de nós desde o aprofundamento filosófico dos gregos antigos – e seus imitadores romanos). Porque a saída da ignorância para aqueles também era fruto de uma época, de um poder previamente distribuído num conceito ligeiramente básico de Democracia – não muito diferente de hoje, este 1968 que pode ser qualquer ano, até mesmo 2010.

> Crônica publicada no Jornal Notícias do Dia em 14/01/2010.

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Perfil

Jornalista. Escritor. Leitor. Espectador. Algumas passagens da minha trajetória: Em 1998, fui Diretor de Imprensa do grêmio estudantil da Escola Técnica Federal de Santa Catarina (Florianópolis/SC). Entre 2001 e 2005, editei o fanzine JornalSIN na UNISUL (Palhoça/SC). No mesmo período, editei a seção de Literatura do portal cultural www.sarcastico.com.br (Florianópolis/SC). Realizei a cobertura crítica do Fórum Social Mundial (em Porto Alegre/RS) nos anos de 2002, 2003, 2005 e 2010 para o site www.sarcastico.com.br. Em 2002, atuei como cronista de cinema e editor de Cultura do Jornal Mercosul (Florianópolis/SC). Em 2004, publiquei o livro "Caderno Amarelo de Poesias". Entre 2005 e 2006, atuei na área se assessoria de imprensa na Exato Segundo Produções – tendo como clientes a Banda Os Chefes, o Fundo Municipal de Cinema de Florianópolis, Catavídeo – Mostra de Vídeos Catarinenses, além de diversas produções audiovisuais. Em 2008, fui um dos vencedores do 6º Concurso Literário Conto e Poesia realizado pelo Sinergia - com a poesia "Nova Iorque em Vermelho". Em 2011, fui um dos vencedores do 7º Concurso Literário Conto e Poesia realizado pelo Sinergia - com a poesia "Soldado sem sentido" e com o conto "Velhos corações imaturos". Entre 2013 e 2015, fui editor-chefe do Jornal Independente (Biguaçu/SC). De 30/04/2009 a 10/08/2017, fui cronista semanal do jornal Notícias do Dia (Florianópolis/SC). Desde 2016, sou um dos fundadores e cronistas do site www.centopeia.info. Escrevo constantemente para meu blog www.cronicasdoevandro.wordpress.com e atualizo o perfil do instagram @cronicasdoevandro.

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