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Crônicas de Evandro Duarte

~ Textos sobre o universo ao meu redor.

Crônicas de Evandro Duarte

Arquivos da Tag: escrita

Contar uma história

25 quinta-feira maio 2017

Posted by Evandro Duarte in Pensamentos Imperfeitos

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Conhecimento, Crônica, Drama, escrita, História, Liberdade


Após a leitura do título, um aviso essencial: qualquer pessoa pode contar uma história. Variam intenções e formatos, mas o drama humano é sempre o ponto de partida. Você pode falar de outras espécies vivas, deste ou de outro planeta, ou mesmo traçar uma narrativa sobre objetos inanimados. Não importa. O drama estará ali, em seu sentido verbal e não naquele popular que o assemelha ao desespero.

Qualquer história parte sempre da própria experiência. Um biógrafo jamais conseguiria escrever sobre alguém sem jogar em seu biografado suas próprias expectativas. Tanto faz gostar ou não dos personagens (reais ou fictícios), o autor escolherá o recorte que dirá um tanto de si e outro tanto do outro.

Sim, isso acontece com os cronistas também. Quando nosso texto fica enquadrado dentro do jornal, temos uma liberdade limitada pelo conhecimento que adquirimos e nada além disso. Ninguém pode escrever pelo outro – só assinar pelo outro, o que não passa de pura vigarice. Os mínimos fatos e argumentos que se transformam em crônicas vieram de muito longe para ganhar a forma final. Mesmo assim, depois de publicada, não raro o autor faria mais uma revisão, alterando uma palavrinha apenas, porque a perfeição nunca chega e temos de nos conformar.

Contar uma história pode transformar um momento trivial num momento único. Até os temas mais cotidianos, como a violência, a corrupção e o fim do namoro ganharão contornos singulares quando a inspiração do autor encontra o respaldo necessário no ato de criar. Rio encontra o mar; as águas oceanam-se. Uma crônica não é muito diferente disso, só que bem menos molhada.

Não acredito que existam receitas infalíveis, seja para bolos de chocolate ou para bolar uma história. Uns e outros dependem de muitas variáveis, incluindo, evidentemente, o receptor. Se saborosos ou não, bolos ou histórias fogem ao controle de quem os criou. Ainda assim, acredito que há sempre possibilidades de ser bem recompensado, mesmo que a satisfação esteja na obra em si.

O show não pode parar assim como a história tende a continuar. O próximo a contar mais sobre o drama humano pode fazê-lo com a certeza de que terá de nós alguma compaixão – afinal, padecemos do mesmo bem.

> Crônica publicada no jornal Notícias do Dia em 25/05/2017.

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Cansaço

09 quinta-feira mar 2017

Posted by Evandro Duarte in Pensamentos Imperfeitos

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Autor, Biografia, escrita, História, Lembranças


 

Começou a escrever entorpecido de cansaço. Olhou ao redor procurando as horas mal dormidas e não encontrou nada além de ausência. Assuntos não lhe faltavam; era outra coisa que lhe incomodava. Sim, como manda a tradição conservadora, ele tinha a sua própria musa, única que lhe dava atenção quando ninguém mais o fazia. Inspiração também encontrava no próprio mistério da vida; era uma surpresa a cada dia, afinal. Ainda assim, o texto lhe escapava como um rato que descobre a mecânica de uma ratoeira. As palavras se fingiam de mortas nalgum canto qualquer do universo ou de sua mente. Mas o prazo… o prazo!

Não poderia furar de novo. Acontecera duas ou três vezes anteriormente. Uma delas foi puro esquecimento. Outra fora um mal entendido na troca de e-mails. E a última ocorrera por uma ressaca dos diabos – nada mais adequado, já que se dera justamente naquele período chamado inferno astral. Mas seu aniversário já passara há tempos e tudo que restara para si era uma folha em branco.

Escrever é como um duelo de faroeste. De um lado, o rosto concentrado, as mãos ansiosas para realizar seu trabalho, a respiração buscando um ritmo cadenciado. No sentido oposto, uma tela de computador intimidadora, ausente de conteúdo, mas cheia de si, cobrando-lhe a responsabilidade ao sussurrar “mas você quem decidiu ser escritor… não reclame”. Quem saca primeiro ganha a parada e, com sorte, uma história.

Por alguma razão desconhecida, lembrou-se de fragmentos do seu passado. Talvez estivesse buscando uma história pessoal que valesse a pena compartilhar. As desventuras na escola, as trapalhadas românticas da adolescência; momentos mais do que interessantes, mas que pareciam unicamente fazer sentido para si mesmo. Na ficção, o espaço para biografias é muito reduzido. Até mesmo uma crônica não pode carregar muito da vida pessoal autor com o risco de se tornar um autoelogio. O pintor sempre carrega nas tintas quando cobre a parede da própria casa. Por fim, o escritor deixou o passado na gaveta outra vez.

Estava para desistir de tudo. Bolou até uma resposta elaborada sobre uma nova enfermidade, quando veio aquela manjada ideia de falar sobre as dificuldades de escrever. E já tinha até mesmo a primeira frase: “Começou a escrever entorpecido de cansaço”.

> Crônica publicada no jornal Notícias do Dia em 09/03/2017.

Leitor autor leitor

03 quinta-feira set 2015

Posted by Evandro Duarte in Pensamentos Imperfeitos

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Alfabetização, escrita, Leitura, Palavras


Parece-me muito apropriado pensar na escrita e na leitura como as mães das artes, das ciências e de todas as formas de vermos e nos expressarmos no mundo. Não que elas tenham surgido antes e nem que isso tenha alguma influência no entendimento da vida. O fato é que pensamos através das palavras e, assim que acordamos, lá estão elas ocupando o pequeno infinito espaço que lhes cabe.

Meditações que esvaziam as mentes à parte, damos com as palavras desde cedo para nunca mais deixá-las. Não por acaso, o princípio formal do conhecimento contemporâneo se dá pela alfabetização: Letras, palavras e frases que nos levam longe, mesmo sem sair do lugar. E há uma graça inequívoca em muitas letrinhas e suas formas geométricas. Linhas, traços, círculos, triângulos e outras configurações que se transformam naquilo que a gente quiser.

Com as palavras, movo o mundo e sequer preciso de uma alavanca ou ponto de apoio como necessitava Arquimedes. Com apenas sete letras, faço o castelo; com três, a lua. E com uma única letra afirmo a existência de todo o universo: É! Mas não fiquemos com atos isolados. Basta um divertido pensamento para juntar tudo e transformar o castelo no reinado de um jovem príncipe nas crateras da lua. E sempre que ele promulgar uma nova lei, dirá somente uma única expressão: – É!

É certo que as palavras são as melhores amigas da imaginação. Seja para elaborar a primeira lei de Newton ou para compor a nona sinfonia de Beethoven. Arte e ciência são parceiras indissociáveis desde que as palavras as uniram. Nunca confie num artista ou cientista ou em quaisquer tipos de especialistas que acreditam antes em si do que nos outros. Tudo o que é original vem de uma longa tradição do pensamento – que é, essencialmente, o pensamento alheio. As palavras que usamos não são nossas por origem. Mesmo os neologismos têm uma base anterior. Entretanto, podemos nos apropriar do texto escrito e falado, alterando sentidos e sensações, refazendo a natureza das suas interpretações que se locupletam a posteriori.

E não há melhor maneira para ser amigo das palavras do que por meio dos livros. Grandes ou pequenos, velhos ou novos, com dedicatória ou embalados: os livros são como baús imateriais. Cada exemplar é um guia do que fazer e do que não fazer. Quanto mais leitura, maior a compreensão das vilezas, das mesquinharias e das hipocrisias. Somos filhos da escrita, casados com leitura e pais de nossa fantástica aventura chamada vida. Anote aí.

> Crônica publicada no Jornal Notícias do Dia em 03/09/2015.

As confusões tardias do escritor

11 quinta-feira out 2012

Posted by Evandro Duarte in Pensamentos Imperfeitos

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cigarro, Conto, escrita


Mas ele era um escritor confuso. Possuía as qualidades mais inverossímeis da escrita desordenada. Não fosse pela falta de jeito, seria um esbanjador ou, ao menos, um autor de porte. Como queria se livrar daquelas velhas fotografias! – e das atuais igualmente. Onde estava com a cabeça ao pensar que tudo acabaria bem? Todo mundo sabe que um sólido adeus repercute mesmo por tempos líquidos. Ela o abandonaria, mesmo e apesar de tudo. Tinha certeza disso. Já não haveria mais clima para conversas ou quaisquer outras formalidades. As refeições, não importam local ou sommelier, já perderiam o sabor quando tudo fosse revelado – e fatalmente isso aconteceria em alguns poucos dias. Porque estava envolvido dos pés até o pescoço, o coração já cedera aquele espaço nobre para outrem que não ela. A mente, prejudicada pelo corpo adversário, duelava consigo mesma em possibilidades e outras opções de risco. Sentia-se angustiado por uma pressão oculta de pessoas que jamais o trataram com gentileza. E, para ser algo honesto, achava tudo isso ridículo, mas ainda o incomodava. Fingir sorrisos ou dizer frases feitas cada vez mais se tornava frequente e frustante. Era maravilhoso quando não sabia o que sentia e apenas satisfazia as ideias com elucubrações de gênero ao redor de uma mesa cheia de bebidas e cinzas de cigarro. Não amava fumar, mas fumava – vez por outra, que se registre. Utilizava certa moderação para quase tudo, o que tornava ainda mais perturbador aquele recente sentimento. Precisava se concentrar no trabalho, mantendo suas convicções e proposições no mesmo ritmo de sempre, mas era justamente ali onde o problema se encontrava. Ele era um escritor confuso, sem dúvidas. O trabalho de editor deveria facilitar as coisas, porque já se tornara especialista em separar as partes boas e identificar os pontos que mereciam mais destaque. Só não contava com problemas que se disfarçam de virtudes. E que virtudes aquela jovem trazia escondidas sob uma serenidade avassaladora impressa nos olhos escuros. Havia ocasiões em que ela parecia uma espécie em extinção de tão única. Nestes momentos, o escritor tirava seus óculos, esfregava os olhos com as mãos, depois limpava vagarosamente as lentes e só então voltava a respirar. A cada novo encontro, o alívio pela sobrevivência se lhe apresentava como uma fuga necessária – e ainda bem que fugir não parecia tão desesperador. Estava prestes a jogar tudo para o alto e se arriscar no que há de mais incompreensível em se apaixonar, mas não houve tempo: o mundo simplesmente acabou, pelo menos para aquele escritor confuso.

> Crônica publicada no Jornal Notícias do Dia em 11/10/2012.

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Perfil

Jornalista. Escritor. Leitor. Espectador. Algumas passagens da minha trajetória: Em 1998, fui Diretor de Imprensa do grêmio estudantil da Escola Técnica Federal de Santa Catarina (Florianópolis/SC). Entre 2001 e 2005, editei o fanzine JornalSIN na UNISUL (Palhoça/SC). No mesmo período, editei a seção de Literatura do portal cultural www.sarcastico.com.br (Florianópolis/SC). Realizei a cobertura crítica do Fórum Social Mundial (em Porto Alegre/RS) nos anos de 2002, 2003, 2005 e 2010 para o site www.sarcastico.com.br. Em 2002, atuei como cronista de cinema e editor de Cultura do Jornal Mercosul (Florianópolis/SC). Em 2004, publiquei o livro "Caderno Amarelo de Poesias". Entre 2005 e 2006, atuei na área se assessoria de imprensa na Exato Segundo Produções – tendo como clientes a Banda Os Chefes, o Fundo Municipal de Cinema de Florianópolis, Catavídeo – Mostra de Vídeos Catarinenses, além de diversas produções audiovisuais. Em 2008, fui um dos vencedores do 6º Concurso Literário Conto e Poesia realizado pelo Sinergia - com a poesia "Nova Iorque em Vermelho". Em 2011, fui um dos vencedores do 7º Concurso Literário Conto e Poesia realizado pelo Sinergia - com a poesia "Soldado sem sentido" e com o conto "Velhos corações imaturos". Entre 2013 e 2015, fui editor-chefe do Jornal Independente (Biguaçu/SC). De 30/04/2009 a 10/08/2017, fui cronista semanal do jornal Notícias do Dia (Florianópolis/SC). Desde 2016, sou um dos fundadores e cronistas do site www.centopeia.info. Escrevo constantemente para meu blog www.cronicasdoevandro.wordpress.com e atualizo o perfil do instagram @cronicasdoevandro.

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