• Sobre o autor
  • Contato
  • Colaboradores

Crônicas de Evandro Duarte

~ Textos sobre o universo ao meu redor.

Crônicas de Evandro Duarte

Arquivos da Tag: Estado

DNA de Carnaval

23 quinta-feira fev 2017

Posted by Evandro Duarte in Ideias Imperfeitas

≈ Deixe um comentário

Tags

Carnaval, DNA, Estado, Festas, Governo, Poder Público


As festas e os poderes públicos têm ligações antigas e remontam às primeiras civilizações. Quando surgem as cidades, nada mais clássico do que entreter essa galera cada vez mais reunida, que fazia das próprias paredes os muros divisórios. Gregos e romanos de um passado distante sabiam disso. Já com as tribos indígenas ou os nômades árabes, a coisa parecia ser menos grudenta, com cada um na sua oca ou tenda, mas as festas traziam todos para o mesmo espaço de convivência e, possivelmente, era ali que ficavam sabendo das fofocas dos vizinhos.

Com ou sem líderes, festejar parece estar no sangue da humanidade. Deem mais um tempinho para os biólogos e eles logo encontrarão um bloco carnavalesco unindo Adenina, Timina, Citosina e Guanina, os compostos orgânicos que formam o DNA. Se for em tempos de Carnaval, basta ligar o microscópio e lá veremos o quarteto de abadá florido, ansioso para pular atrás do trio elétrico. A genética sempre será nossa aliada para provarmos que ninguém sabe de nada e o que importa é mesmo curtir o baile.

Hoje, o clima está meio morno, como aquele café no escritório que ninguém bebe mais. Com essa crise aí (esta, em especial), gastar ou investir em festas ficou ruim para todo mundo. Até mesmo os governos, que sempre torraram dinheiro ou o deixaram escoar em desvios ilegais, encontraram desculpas razoáveis para cortar os recursos dos eventos públicos. Mas até o Carnaval?, perguntam os mais entusiasmados. O Carnaval não é um dos atrativos do país, movimentando o mercado interno, atraindo turistas estrangeiros e promovendo as qualidades da nação? Pode ser, ainda que tudo isso aconteça sem a infraestrutura adequada.

Neste momento, o mais pessimista questionaria a necessidade de investir recursos públicos nas festas, em especial no Carnaval, considerado pelos publicitários ufanistas como o maior espetáculo da Terra. Ainda que pertinente, a questão levantada por esse ser de pouca fé não faz qualquer sentido. Traços culturais não existem por causa do Estado, mas apesar dele. O próprio Carnaval é um símbolo disso, com suas origens pagãs que foram solenemente ignoradas quando a festa foi assimilada pela Igreja Católica.

Opa, lá está saindo o Bloco do Genoma! O último a chegar é a mulher do padre!

> Crônica publicada no jornal Notícias do Dia em 23/02/2017.

Conversa entre Estado e Cidadão

20 quinta-feira ago 2015

Posted by Evandro Duarte in Ideias Imperfeitas

≈ Deixe um comentário

Tags

Cidadãos, Estado, Origens, Reacionário, Revoluções, Tradição


Estado: Olá.

Cidadão: Não me venha fazendo agrados não.

Estado: Mas que agrados, cidadão? Apenas fui cortês para com sua pessoa. Disse-lhe olá porque quero manter nossos laços firmes e azeitados.

Cidadão: Sei, sei… até parece que seus laços são fraternais. Você começa com um simples olá e, talvez num intervalo de um mês, já sabe de todos os meus dados, quer saber das minhas contas e ainda me faz passar papel de bobo entre os meus. Além disso, você vive às minhas custas.

Estado: Parece-me que seu coração está magoado e não há espaço para quaisquer coisas que não sejam radicalismos. Se eu não te conhecesse desde o dia em que nasceu, diria que você é um revolucionário ou, quiçá, um golpista.

Cidadão: Golpista? Eu? Como se você não me desse uma rasteira a cada dia. Prefiro ser visto como um revolucionário em vez de um reacionário. Sim, em verdade, você já está por estas bandas muito antes do meu nascimento e sempre manteve essa sua postura de lorde fora de época. Seus traços mais marcantes são o conservadorismo desnecessário e uma irrefreável vontade de que não se mexam nas instituições – mas não porque vocês as respeite, e sim porque elas o mantém em atividade.

Estado: Eu faço a minha parte. E olha que minhas responsabilidades não são poucas. Num mundo que sempre tende a divergir, eu tento manter minha integridade enquanto uma estrutura fundamental. E, para além dessa sua irritação matinal, lembre-se que foram seus antepassados que me deram origem. Na ancestralidade da existência, Estado e Cidadão são parentes consanguíneos.

Cidadão: Ora, não me venha falar de sangue que disto eu entendo; já derramei litros desse suor vermelho nas últimas décadas. Eu e meus companheiros deixamos inúmeros assoalhos vermelhos de tanto apanhar. E tudo isso para quê? Para que pudesses abrigar déspotas que se diziam esclarecidos. Uns imbecis de longa data que apostam cegamente na tradição sem conhecer causas ou consequências.

Estado: Não seja injusto para comigo! Eu tenho de manter minha neutralidade. É assim que sempre foi e sempre será. E, no mais, meu atual estado é de crise – não posso participar tanto quanto seria preciso.

Cidadão: Ainda bem… não pela crise, claro, mas por sua falta de participação. Hoje a festa é minha. Eu estava aqui quieto e você chega me dizendo “olá” como se fossemos amigos dos tempos de escola. Francamente!

Estado: Des-desculpe. Só queria sair um pouco do isolamento…

Cidadão: Parece até que você está passando pela crise da meia idade. Só falta agora comprar um carro esportivo… e ainda com o meu dinheiro!

> Crônica publicada no Jornal Notícias do Dia em 20/08/2015.

O desafio da América Latina

26 quinta-feira mar 2015

Posted by Evandro Duarte in Ideias Imperfeitas

≈ Deixe um comentário

Tags

América Latina, Bem-estar social, Crise, Estado, Neoliberal


Ainda que a América Latina não fale o mesmo idioma, principalmente quando se leva em conta que seu maior país fala quase que solitariamente o português, parece-nos que os desafios dessas nações são os mesmos. Há, claro, singularidades regionais, mas tais exceções não são capazes de escapar de um conjunto de medidas que praticamente impõe o ritmo do subdesenvolvimento.

Muitos interpretam que o fraco desempenho na melhoria da qualidade de vida e o aumento das desigualdades ocorrem pela crise econômica mundial? Mas quando, afinal, o mundo não viveu dias de crise? Questões sociais que muitos evitam responder são inevitáveis na organização do capitalismo, gerando divergências entre as diversas camadas da sociedade.

Ainda hoje, na maioria das democracias latinas, o Estado exerce papel fundamental nas políticas sociais consolidadas no pós-guerra. Vale ressaltar que a política do bem estar social vai muito além dos interesses públicos, sendo também um mecanismo de controle e poder. O bem-estar liberal é o antecedente imediato do neoliberalismo. Nesse modelo, o Estado do bem-estar liberal quer saber de produtividade e lucro. Logo, os bens sociais se mercantilizam. A doutrina neoliberal deixa os serviços sociais menos igualitários e nos faz retornar ao século XIX, quando o Estado cumpria seu papel assistencialista.

Na América Latina, os processos de democracia sofreram inúmeras restrições por causa das ditaduras militares e outras formas de Estado autoritário. Além disso, diferentemente dos países desenvolvidos, a estrutura das classes sociais latino-americanas mostram um elevado grau de empobrecimento urbano, mesmo que exista um significativo proletariado industrial.

Os países latino-americanos podem ser considerados como Estados de bem-estar por reconhecerem na sua legislação o conceito de direitos sociais, e garantirem seguridade social como formas institucionais, tais quais aposentadoria, assistência medica, auxílio saúde, perda de renda, entre outros. Isso nos leva a crer que as políticas sociais são as de um Estado de bem-estar, mas estas operam de forma restrita ou incompleta. Os governos seguem a lógica de remediar e não modificar a origem da desigualdade. Assim, são os problemas sociais que determinam as políticas que devem ser estabelecidas.

Com um Estado engessado pela economia, o sistema entra em colapso, enquanto enormes contingentes de pobreza se unem contra essas desigualdades e uns poucos com dinheiro e poder buscam a individualização total. O desafio está em unir toda essa gente.

> Crônica publicada no Jornal Notícias do Dia em 26/03/2015.

O Corretor

08 quinta-feira maio 2014

Posted by Evandro Duarte in Florianópolis

≈ Deixe um comentário

Tags

Crime, Crise Econômica, Estado, Governo, Vigilante, YouTube


A primeira década do século XXI foi cheia de novas responsabilidades. Mesmo assim, muitos não souberam encarar as próprias ações, agindo como se fosse uma obrigação seguir modismos. A tecnologia roubou algum tempo útil, é bem verdade, mas também oportunizou novas ações engajadas. Mudar o mundo ficou bem mais acessível, mas tão difícil quanto no passado. Ninguém lembra mais o dia, mas todos acompanharam a primeira aparição do Corretor.

Enquanto os países caçavam terroristas ou tentavam consertar a economia no Velho Continente, esqueciam de olhar para as questões internas porque ninguém quer carregar a culpa dos desastres históricos. Felizmente, os historiadores sabem colocar heróis e vilões nos seus devidos lugares. E assim também foi com o Corretor.

Uma câmera de segurança da Polícia Militar flagrou o herói pela primeira vez. Anos depois, soubemos que ele se deixou filmar para afligir os confortáveis e confortar os aflitos – uma expressão que não era sua, mas lhe caía muito bem. No vídeo, que se tornou um dos mais acessados do Youtube em todos os tempos, o Corretor impediu um roubo a um carro forte. Apesar da fraca definição das imagens, era possível ver seu uniforme completamente escuro, certamente uma roupa militar modificada. No peito, um único traço branco horizontal, como a marca que fica dos corretores ortográficos (e foi assim que a população batizou seu primeiro vigilante). Seus movimentos eram rápidos e precisos como os de um atleta olímpico, mas suas habilidades com as armas não letais que carregava eram ainda mais impressionantes. Imobilizou três homens que carregavam potentes metralhadoras apenas com seus bastões de choque. Prendeu os criminosos junto a uma cabine telefônica e discou para o 190, deixando o fone para fora do gancho sem dizer uma palavra sequer. E sumiu feito um truque de mágica, para a surpresa dos seguranças do carro forte que acompanharam tudo.

Antes, a população de Florianópolis já havia realizado algumas ações (algumas contra a sua própria carne) que, aparentemente, eram obrigações dos governos e do Estado. Mas, lembramos, as novas responsabilidades surgiram e já não era mais tempo de ser inocente. Com a chegada do Corretor, as pessoas perceberam que as oportunidades só aparecem para aqueles que estão preparados. As leis são importantes, mas nunca partem de uma demanda verdadeiramente popular. O Corretor não era o melhor de todos, apenas o mais preparado. Seus vídeos continuam bombando na internet, enquanto os vilões insistem nos erros.

> Crônica publicada no Jornal Notícias do Dia em 08/05/2014.

A situação geral

30 quinta-feira maio 2013

Posted by Evandro Duarte in Ideias Imperfeitas

≈ 3 Comentários

Tags

Brasil, China, Economia, Estado, Estados Unidos, Política


Até que o otimismo é convenientemente necessário, mas não sejamos ingênuos como a Branca de Neve que mordeu a maçã sem nem mesmo lavá-la. A situação geral é razoável, para ser alguma medida justo e outra porção pacífico. Nossos índices de desenvolvimento melhoraram nos últimos anos, mas em 1500 o clima era bem mais festivo – os indígenas que o digam.

O país já esteve à beira do colapso, mas foi salvo por um coração mecânico e a invenção de um plano real. Foi mais ou menos quando todos estavam sonhando com a democracia que a realidade os pegou desprevenidos. Os caras-pintadas deixaram as ruas e agora acessam a tudo pela internet. Em tempos de redes sociais, “compartilhar” já não é mais o que era. Curtiu?

É fato que poderíamos imaginar este cenário desde o final dos governos militares. Mesmo a Anistia Política de 1979 foi um capricho que ainda vai demorar a arrefecer. Porque todos desejam um Estado de Direito, mas se esquecem dos Direitos do Estado. E eis que o Presidente do Senado, com uma tripa de denúncias nas costas, vem a assumir o país interinamente.

O jogo político-partidário já teve lá a sua graça, mas piada velha não agrada nem plateia amiga. O sorriso amarelo dos eleitos não esconde a falta de horizonte. A economia perdeu o rumo ainda em sua fase embrionária, quando Collor e os seus asseclas abriram o mercado como quem abre uma garrafa de champagne: primeiro, o estouro de alegria; depois, a embriaguez. Mas a bebedeira não é exclusividade nossa. Vejam aí o Euro, carro-chefe monetário do Velho Continente, precisando de reparos nalgum martelinho de ouro. Mesmo os Estados Unidos foram enganados por sua própria fome de consumo, com as finanças em declínio e a obesidade em ascendência. E a China? Exceção que confirma a regra, ainda que outra bolha econômica seja uma tendência inevitável.

Fundamental é perceber a liberdade imoral dessas prevaricações sustentáveis. Aqueles que elogiam os avanços também fecham os olhos para as falhas do roteiro. E mesmo que a história possa ser escrita mais de uma vez, os autores quase sempre são coniventes com a situação, seja ela qual for. Não, isto não é uma crítica maldosa, mas sim um comentário pouco apaixonado por esta época dita contemporânea. Vamos dar tempo ao tempo, tendo ou não um rolex no pulso. Esta é a liberdade que o capital nos (im)possibilita: viver é à vista, não tem como parcelar.

E os que esperam uma recompensa? Ou apenas uma resposta? Talvez ela venha em forma de uma maçã verde, esperando amadurecer junto com o Brasil. Ao vencedor, a primeira mordida.

> Crônica publicada no Jornal Notícias do Dia em 30/05/2013.

Perfil

Jornalista. Escritor. Leitor. Espectador. Algumas passagens da minha trajetória: Em 1998, fui Diretor de Imprensa do grêmio estudantil da Escola Técnica Federal de Santa Catarina (Florianópolis/SC). Entre 2001 e 2005, editei o fanzine JornalSIN na UNISUL (Palhoça/SC). No mesmo período, editei a seção de Literatura do portal cultural SARCÁSTICOcomBR (Florianópolis/SC). Nos anos de 2002, 2003, 2005 e 2010, realizei a cobertura crítica do Fórum Social Mundial (em Porto Alegre/RS) para o site SARCÁSTICOcomBR. Em 2002, atuei como cronista de cinema e editor de Cultura do Jornal Mercosul (Florianópolis/SC). Em 2004, publiquei de modo independente o livro "Caderno Amarelo de Poesias". Entre 2005 e 2006, atuei na área de assessoria de imprensa na Exato Segundo Produções (Florianópolis/SC). Em 2008, fui um dos vencedores do 6º Concurso Literário Conto e Poesia realizado pelo Sinergia - com a poesia "Nova Iorque em Vermelho". Em 2011, fui um dos vencedores do 7º Concurso Literário Conto e Poesia realizado pelo Sinergia - com a poesia "Soldado sem sentido" e com o conto "Velhos corações imaturos". Em 2012, apresentei o Programa Geral e o Ponto de Encontro no canal fechado TVN (São José/SC). Entre 2013 e 2015, fui editor-chefe do Jornal Independente (Biguaçu/SC). De 30/04/2009 a 10/08/2017, escrevi crônicas semanais para o jornal Notícias do Dia (Florianópolis/SC). Desde 2016, sou um dos editores e cronistas do Centopeia Site. Também produzo e apresento programas para o canal Centopeia TV no YouTube e para o podcast Centopeia Falante no Spotify. Publico semanalmente no blog Crônicas do Evandro e atualizo ocasionalmente o perfil do Instagram @cronicasdoevandro.

Redes Sociais

  • Instagram
  • Facebook
  • Twitter

Categorias

Cidades Colaborações Cronicontos Filmes Florianópolis Histórias em Quadrinhos Ideias Imperfeitas Livros Músicas

Tags

Alfred Hitchcock Amor Anos 1980 Artes Brasil Carnaval Casablanca Chuva Cinema Colaborações Conhecimento Cronicontos Crônicas Cultura Democracia Desterro Economia Educação Escola Estado Estados Unidos Existência Família Fernando Pessoa Filmes Filosofia Florianópolis Futebol Futuro Governo Grécia História Histórias em Quadrinhos Hollywood Howard Hawks Humanidade Humphrey Bogart Infância Ingrid Bergman Internet John Huston Jornalismo Justiça Karl Marx Lembranças Liberdade Literatura Literatura Brasileira Livros Machado de Assis Marilyn Monroe Martin Scorsese Michael Curtiz Músicas Natal Natureza Nostalgia Palavras Paris Poesia Política Ponte Hercílio Luz Praia Praça XV de Novembro Rio de Janeiro Rock’n’roll Romeu & Julieta Segunda Grande Guerra Sociedade Teatro Tempo Terra Universo Vida William Shakespeare

Mais acessados

  • O melhor dos anos, o pior dos anos
  • Em primeiro plano
  • James Stewart (1908-1997)
  • Marilyn Monroe (1926-1962)
  • Judy Garland (1922-1969)
  • Humphrey Bogart (1899-1957)
  • Casablanca (1942), de Michael Curtiz
  • Sonhos de um Sedutor (1972), de Herbert Ross
  • Não Somos Anjos (1955), de Michael Curtiz
  • Uma Aventura na Martinica (1944) e Os Homens Preferem As Loiras (1953), ambos de Howard Hawks
janeiro 2021
S T Q Q S S D
 123
45678910
11121314151617
18192021222324
25262728293031
« dez    

Arquivo do Blog

Centopeia Site

SARCÁSTICO

Politicalidades

Blog do Tiago Masutti

Blog no WordPress.com.

Privacidade e cookies: Esse site utiliza cookies. Ao continuar a usar este site, você concorda com seu uso.
Para saber mais, inclusive sobre como controlar os cookies, consulte aqui: Política de cookies