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Crônicas de Evandro Duarte

~ Textos sobre o universo ao meu redor.

Crônicas de Evandro Duarte

Arquivos da Tag: Experiência

Nunca é tarde demais

10 quinta-feira ago 2017

Posted by Evandro Duarte in Pensamentos Imperfeitos

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Baile, Dança, Experiência, idade, Matinê, Música, Vida


De tarde. O sol vai mais um pouquinho para lá, querendo se esconder de alguns para se exibir aos outros. O tempo, lentamente, avança sobre si mesmo. Vez por outra, nesse intervalo do dia, quando há indecisão entre a tarde e a noite, passo em frente ao clube. Parados, diria até mesmo ansiosos, homens e mulheres com muita idade aguçados pela iminência da dança, da realização, da satisfação…

A porta está fechada, mas eles esperam. Imagino cá que muitos deles já estão aposentados, cumprindo um ritual que lhes completa. Alguns ajustam os óculos, apertam os cintos, desamassam as saias, passam a mão nos cabelos, preparados que só eles para o baile. Solteiros, casados, viúvos, descompromissados. Tantos acasos de histórias reunidas num mesmo ambiente. E como chegarem até ali? Tenho algumas hipóteses.

Não há sequer um milionário entre eles. Talvez, aquela alma de maior sorte tenha sido uma grande empresária do ramo imobiliário. Após perder tudo em oscilações na bolsa de valores, voltou-se para a segunda atividade que sabia fazer melhor: a dança. Dois ou três deles eram caminhoneiros. Viajaram o país inteiro e já não conseguem mais ficar muito tempo no mesmo lugar; por isso, sacodem o corpo para lá e para cá. Também se fazem presente os advogados sem gravata, as juízas sem a toga, os cozinheiros sem o avental, as policiais sem a farda… Hoje, exatamente ali, o que os identifica é tão somente a habilidade com que balançam.

Porque são humanos, e muito vividos, traquinam com a experiência de outros tempos. Longe de serem velhos, tornam-se uma novidade para si mesmos. Flertam. Os abalos sísmicos provocados por dois corpos distintos ou iguais, complementares e espelhados, retumbam. De longe, bem afastado mesmo, também somos sacudidos com o ritmo, a cadência, a ginga de quem não foi apenas passado, mas sim um total de presentes.

De fato, jamais entrei numa matinê destas. Meus calcanhares nunca ultrapassaram a porta. Fiz todas essas deduções da porta do carro para dentro, nas muitas vezes que observei da janela esse entusiasmo vespertino. Ainda assim, ouso idealizar o mais belo dos cenários, porque aquele me parece ser um bom jeito de viver.

Anoitece. A música diminui até cessar. A lua chega para abençoar o sono dos dançarinos.

Nunca é tarde demais.

> Crônica publicada no jornal Notícias do Dia em 10/08/2017.

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Crônica sobre adolescentes

20 quinta-feira abr 2017

Posted by Evandro Duarte in Pensamentos Imperfeitos

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Adolescente, Experiência, Família, Juventude, Vida


Não é novidade dizer que os adolescentes são uma espécie curiosa. Eles estão naquela mística fronteira do que já foi e do que ainda não é. Nem criança, tampouco adulto. Já paga suas contas, mas não ganha para seu sustento. Os que têm oportunidades estudam. Os mais ansiosos querem sair de casa e abraçar o mundo – ‘inda mais nesse tempo de distância encurtadas pela proximidade virtual. Não satisfeitos com uma única causa, assumem para si o passo seguinte da humanidade. Eles não compreendem as próprias mutações, mas não tardam a bradar por revoluções e mudanças de ordem prioritária. Claro, há os que abstêm – mas aí não são apenas os adolescentes.

Ainda que uma experiência individual não justifique o entendimento sobre toda uma espécie, teço cá algumas nuanças sobre o tema porque já passei pela adolescência. Se tive facilidades para algumas coisas, como criar uma redação, por exemplo, passei por grandes desafios que cabem a todo principiante. Erramos; aprendemos. Às vezes, erramos de novo, mas por outros motivos, e assim seguimos até que nos damos por amadurecidos – e aqui vai de brinde um segredinho: ninguém nunca amadurece por completo.

O adolescente ou a adolescente tem todo o direito de errar. Mas, espere aí um momento: não vá ser um vacilão. Os erros de quem tem caráter são bem distintos daqueles que insistem no conforto do conflito. Para minha limitada compreensão desta espécie, o que causa preocupação mesmo são as influências. E, ainda que negue veementemente, o adolescente é influenciado o tempo todo. A experiência causa dores, frustrações e afins que bloqueiam grande parte destas sugestões de terceiros. Antes que venha a apreensão, calma lá: tem muito divertimento e alegria pelo caminho. Difícil é dosar o entendimento do que faz bem ou mal para a mente e o corpo. Daí a importância de ter a constância de uma companhia experiente, que seja mentora de novas ideias e não uma reprodutora de conceitos ultrapassados.

Adolescentes, provavelmente, pouco se importam para o que pensamos deles. “Uma crônica de jornal? Bláh!”, exclama um deles hipoteticamente, com toda a autoridade de sua jovem idade. E, então, pensamos: na nossa época, também éramos assim?

> Crônica publicada no jornal Notícias do Dia em 20/04/2017.

O primeiro suspiro

24 quinta-feira nov 2016

Posted by Evandro Duarte in Pensamentos Imperfeitos

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American way of life, Aposentadoria, Existência, Experiência, Futuro, Sabedoria, Vida


Há por aí uma sensação incômoda, como se tudo fosse oito ou oitenta, como se luz e trevas fossem caminhos únicos e distintos. Bobagem pura que qualquer criança destrói qual uma torre de cartas. Pior ainda é crer num mundo à direita ou à esquerda, mesmo sem ter qualquer compreensão do que tais posicionamentos significam na prática.

O que acontece em grande medida é um esforço demasiado pela picuinha. Quem se atém a não-valores comezinhos perde um tempo precioso num universo irresoluto. Sem se dar conta, muitos insistem na tristeza movidos por uma incapacidade (e falta de incentivo, saliente-se) de verificar o plano geral da própria vida – não a vida de cada um, mas a existência em si, o porquê filosófico de estarmos aqui nesse mundo passando calor ou frio, suando a camisa com uma sabedoria sempre limitada e uma compulsão quase desenfreada pelo conflito, seja numa luta de classes ou na insensível busca pelo poder.

Chega mesmo a ser bobo esse sentimento de autossuficiência que alguns encontram quando estão num estágio melhor. É o rico que se dá por satisfeito quando não tem mais que se preocupar com dinheiro e se esquece do mundo. Ou o político saudado pelo povo, mas cujo coração de pedra deteriorou praticamente todas as suas relações pessoais. Para cada ação, uma reação. Cada vitória implica numa derrota. Escolher é perder a outra opção.

Essa visão de sucesso profissional construída sob a febre do american way of life afasta-nos de uma estrada muito mais feliz porque não condiciona as oportunidades ao trabalho. Logo, talvez estejamos errados em nossas expectativas para com o futuro distante. Transitamos por trabalhos, ideologias e outros subterfúgios da realidade porque acreditamos numa redenção vindoura; como se a aposentadoria nos trouxesse alguma paz, e a verve juvenil fizesse de nós uns nostálgicos de marca maior. Com a idade, aceitamos o destino de tudo porque nos pegamos impotentes ante o mundo. Uns se frustram, outros vão à praia – quando a aposentadoria permite, claro.

As trevas e a luz estão por aí desde o primeiro suspiro humano: aceitá-las como uma única força é um aprendizado que ainda não alcançamos. Mas temos tempo.

> Crônica publicada no jornal Notícias do Dia em 24/11/2016.

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Perfil

Jornalista. Escritor. Leitor. Espectador. Algumas passagens da minha trajetória: Em 1998, fui Diretor de Imprensa do grêmio estudantil da Escola Técnica Federal de Santa Catarina (Florianópolis/SC). Entre 2001 e 2005, editei o fanzine JornalSIN na UNISUL (Palhoça/SC). No mesmo período, editei a seção de Literatura do portal cultural www.sarcastico.com.br (Florianópolis/SC). Realizei a cobertura crítica do Fórum Social Mundial (em Porto Alegre/RS) nos anos de 2002, 2003, 2005 e 2010 para o site www.sarcastico.com.br. Em 2002, atuei como cronista de cinema e editor de Cultura do Jornal Mercosul (Florianópolis/SC). Em 2004, publiquei o livro "Caderno Amarelo de Poesias". Entre 2005 e 2006, atuei na área se assessoria de imprensa na Exato Segundo Produções – tendo como clientes a Banda Os Chefes, o Fundo Municipal de Cinema de Florianópolis, Catavídeo – Mostra de Vídeos Catarinenses, além de diversas produções audiovisuais. Em 2008, fui um dos vencedores do 6º Concurso Literário Conto e Poesia realizado pelo Sinergia - com a poesia "Nova Iorque em Vermelho". Em 2011, fui um dos vencedores do 7º Concurso Literário Conto e Poesia realizado pelo Sinergia - com a poesia "Soldado sem sentido" e com o conto "Velhos corações imaturos". Entre 2013 e 2015, fui editor-chefe do Jornal Independente (Biguaçu/SC). De 30/04/2009 a 10/08/2017, fui cronista semanal do jornal Notícias do Dia (Florianópolis/SC). Desde 2016, sou um dos fundadores e cronistas do site www.centopeia.info. Escrevo constantemente para meu blog www.cronicasdoevandro.wordpress.com e atualizo o perfil do instagram @cronicasdoevandro.

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