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Crônicas de Evandro Duarte

~ Textos sobre o universo ao meu redor.

Crônicas de Evandro Duarte

Arquivos da Tag: Futuro

Em tempo

18 quinta-feira maio 2017

Posted by Evandro Duarte in Ideias Imperfeitas

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Conhecimento, Existência, Futuro, Máquina do Tempo, Passado, Presente, Tempo, Viagem no Tempo


Creio que não exista pessoa que nunca quis viajar no tempo, principalmente para o passado. Aquele desejo de consertar as coisas ou conviver novamente com figuras que já partiram faz parte desta mistura entre ficção científica e nostalgia. A ciência nos leva a acreditar que, quanto mais o tempo passa, mais estamos perto de dobrar o tempo à nossa vontade. E isso parece sobremaneira injusto com quem veio antes.

Todo mundo deveria ter uma cota de viagens no tempo. Poderíamos viajar uma vez aos trinta anos e outra aos sessenta, por exemplo. Assim, ajeitaríamos aquelas coisinhas que ficaram não ditas pelo medo de não dar certo. Hoje, porém, sabemos o resultado. Compreendemos que muito do que fizemos ou deixamos de fazer teve implicações questionáveis, ainda que importantes. Olhar para trás é buscar o entendimento: o texto só faz sentido depois de lido.

A ideia de uma máquina do tempo soa fascinante, mas principalmente excludente. É preciso tempo (claro!), dinheiro, uma boa dose de loucura e outra de conhecimento científico para elaborar tamanha empreitada. Além do mais, o criador de uma máquina assim certamente a trataria com egoísmo justamente por participar de um poder que, em princípio, só caberia a uma divindade. Quem rala para colocar a comida na mesa no dia seguinte jamais teria tempo para bolar algo tão mirabolante e, quando muito, ficaria sabendo disso apenas pelos jornais.

Sob um aspecto bem orgânico, a viagem no tempo é a própria existência. Estamos permanentemente presos ao presente, em contato direto com tudo o que veio antes e caminhando com o momento seguinte. E se não ficamos satisfeitos com tal odisseia, é porque aprendemos a carregar o mistério qual uma mochila que há muito deixou de incomodar as costas. O insucesso da onipotência é parte da graça, quer seja para o soberano, quer seja para o bobo da corte.

Entrementes, viajar no tempo é uma máscara para lidar com o conhecimento adquirido. De nada adiantaria ir ao passado sem carregar na bagagem toda a nossa experiência até aqui. Se assim o fizéssemos, cometeríamos os mesmos erros e acertos porque não se pode alterar aquilo que jamais foi.

Eu sei exatamente para quando voltaria. E você?

> Crônica publicada no jornal Notícias do Dia em 18/05/2017.

O ser literário

11 quinta-feira maio 2017

Posted by Evandro Duarte in Ideias Imperfeitas

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Artes, Crônicas, Futuro, Imortal, Literatura, Palavras, Tempo


Disse, nas duas ou três vezes que me perguntaram, que literatura é tudo aquilo que está escrito. Claro, alguns dirão que tamanha isenção ou tão abrangente definição de pouco adianta para fins práticos. A estes, então, cabe toda a liberdade de escolha para pôr as coisas sob suas óticas particulares. Pois se não temos um acordo sob a ortografia que dirá sob uma forma de arte tão singular quanto a literatura?

Dito isto, podemos nos concentrar naquilo que nos apetece: as palavras. Pensamos por meio delas e, ainda assim, não lhes damos o devido valor. A etimologia mais profunda chegará num abismo infinito que atenderá pela dupla alcunha Necessidade-Criatividade. Penso que não existem raízes mais resistentes em quaisquer formas de arte ou comunicação. A Necessidade da palavra – que nasce sonora antes de ser escrita – supre uma condição inerente ao homem de ir além do mundo ao seu redor. Já a Criatividade que lhe acompanha é a explicação de si mesma; imaginamos sua origem a partir de nossa própria mente criativa; talvez seja Deus, talvez seja a ciência, talvez seja outra coisa – e este é um mistério para o qual, de certo modo, estamos preparados.

A palavra escrita e a literatura são entidades que tendem a flertar com uma ideia de imortalidade. Permitimo-nos imaginar um mundo sem nós quando deixamos versos, fatos e versões nalgumas páginas, quer sejam de papel ou não. Escrever é acreditar que o passado fará diferença no futuro. Em verdade, praticamente ninguém escreve para ser lido no mesmo instante. É até meio chato quando alguém fica sob o seu ombro conferindo cada nova letra que surge para complementar a anterior. Assim, o mais exibido dos autores ficará inibido porque a literatura nasceu para ser uma prática solitária, diferentemente do cinema, da música, da pintura…

Imortais ou não, continuamos a escrever. Eu aqui em 2017 e você que agora me lê no século XXII estaremos ligados até o final desta crônica, mesmo que nunca tenhamos nos esbarrado pelo tempo. De qualquer modo, a veia artística da literatura tem muito mais a ver em fazer perguntas do que entregar respostas insatisfatórias. A literatura é sobre ser. É ou não é?

> Crônica publicada no jornal Notícias do Dia em 11/05/2017.

O primeiro suspiro

24 quinta-feira nov 2016

Posted by Evandro Duarte in Ideias Imperfeitas

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American way of life, Aposentadoria, Existência, Experiências, Futuro, Sabedoria, Vida


Há por aí uma sensação incômoda, como se tudo fosse oito ou oitenta, como se luz e trevas fossem caminhos únicos e distintos. Bobagem pura que qualquer criança destrói qual uma torre de cartas. Pior ainda é crer num mundo à direita ou à esquerda, mesmo sem ter qualquer compreensão do que tais posicionamentos significam na prática.

O que acontece em grande medida é um esforço demasiado pela picuinha. Quem se atém a não-valores comezinhos perde um tempo precioso num universo irresoluto. Sem se dar conta, muitos insistem na tristeza movidos por uma incapacidade (e falta de incentivo, saliente-se) de verificar o plano geral da própria vida – não a vida de cada um, mas a existência em si, o porquê filosófico de estarmos aqui nesse mundo passando calor ou frio, suando a camisa com uma sabedoria sempre limitada e uma compulsão quase desenfreada pelo conflito, seja numa luta de classes ou na insensível busca pelo poder.

Chega mesmo a ser bobo esse sentimento de autossuficiência que alguns encontram quando estão num estágio melhor. É o rico que se dá por satisfeito quando não tem mais que se preocupar com dinheiro e se esquece do mundo. Ou o político saudado pelo povo, mas cujo coração de pedra deteriorou praticamente todas as suas relações pessoais. Para cada ação, uma reação. Cada vitória implica numa derrota. Escolher é perder a outra opção.

Essa visão de sucesso profissional construída sob a febre do american way of life afasta-nos de uma estrada muito mais feliz porque não condiciona as oportunidades ao trabalho. Logo, talvez estejamos errados em nossas expectativas para com o futuro distante. Transitamos por trabalhos, ideologias e outros subterfúgios da realidade porque acreditamos numa redenção vindoura; como se a aposentadoria nos trouxesse alguma paz, e a verve juvenil fizesse de nós uns nostálgicos de marca maior. Com a idade, aceitamos o destino de tudo porque nos pegamos impotentes ante o mundo. Uns se frustram, outros vão à praia – quando a aposentadoria permite, claro.

As trevas e a luz estão por aí desde o primeiro suspiro humano: aceitá-las como uma única força é um aprendizado que ainda não alcançamos. Mas temos tempo.

> Crônica publicada no jornal Notícias do Dia em 24/11/2016.

O Liberalismo da Pós-Era

07 quinta-feira jul 2016

Posted by Evandro Duarte in Cronicontos

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Bolsa de Valores, Cronicontos, Futuro, Informação, Liberalismo Econômico, Tecnologia


Mais uma vez, o tempo correu frouxo, com algum receio do que poderia acontecer no futuro. Ainda faltavam alguns minutos para que a Bolsa de Valores Mundial encerrasse suas operações, mas Carlos Prudente estava otimista. Sim. Fizera as trocas justas, apertara o cinto onde menos doía, calculara os fatores de risco e não se esquecera das frestas. Tudo no rumo, tudo no prumo. O castelo de cartas não cairia, mesmo naquela última aposta.

No outro lado da cidade, a facilitadora de informações, Anelize Rocha, antevia o futuro com seu dispositivo secreto. O pai, inventor que era, trabalhou naquele aparelho por anos. Juntou ultrapassados equipamentos de telefonia móvel e tablets de tela sensível (tão comuns naqueles distantes dias do início dos anos 2000), dando forma à primeira expressão do futuro projetada em tempo real. Morreu, todavia, antes de aprimorar sua genial invenção, e o dispositivo apelidado de TV Posterior visualizava apenas cinco minutos adiante. Mas Anelize conseguira resultados estupendos, mesmo com tão pouco tempo de margem. Impedira alguns graves acidentes entre carros-planadores, evitara um desastre ecológico na Cidade Redoma e, claro, se beneficiara com uma brilhante carreira de facilitadora de informações, uma das atividades mais relevantes da Pós-Era.

Anelize estava para guardar a TV Posterior em sua bolsa, quando viu a projeção de Carlos Prudente na Bolsa de Valores. Ele estava autorizando uma grande compra de ações, aparentemente comum. Mas, então, o dispositivo demonstrou a sucessão de eventos que levariam à bancarrota toda a economia do planeta. Na Pós-Era, o desenvolvimento econômico havia acabado com as fronteiras entre pessoas físicas, pessoas jurídicas e o próprio estado. As relações financeiras eram sem pudores, abertas, auto-determinadas por uma complicada engenharia social desenvolvida por especialistas liberais pouco antes do final do século XXI. Hoje, porém, o sistema iria ruir. Mais precisamente em cinco minutos, todo o progresso alcançado no último século findaria pelas mãos de um sujeito chamado Prudente. Carlos Prudente.

Anelize disse para si mesma: “Como poderei avisar Carlos, se as comunicações exteriores são proibidas na Bolsa de Valores?”. Ela estava praticamente no extremo oposto da Cidade Redoma, não haveria tempo para chegar lá, mesmo com as vias aéreas totalmente liberadas. Decidiu arriscar. Passou uma falsa informação de ataque virtual na Bolsa. “Se Carlos estiver com o aparelho de mídia expansiva ligado, ele não apostará nas ações”, pensou Rocha. Mas Prudente não viu. E foi o fim do liberalismo da Pós-Era exibido na TV Posterior.

> Crônica publicada no Jornal Notícias do Dia em 07/07/2016.

cronicafalada

Gravidade zero

02 quinta-feira jun 2016

Posted by Evandro Duarte in Ideias Imperfeitas

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Corrupção, Cosmos, Cotidiano, Espaço, Esportes, Futuro, Governo, Gravidade, Leis


Num futuro talvez não tão distante assim, os que sobrarem de nós e dos nossos terão abandonado a Terra seja pela poeira das indústrias ou pela contaminação de mares e rios. Esse planetinha que nós tanto amamos (ainda que não o tenhamos respeitado como deveríamos) será somente uma lembrança nos corações vindouros e talvez a grande ficha cairá sobre eles como um meteorito de alta precisão.

O vácuo do espaço, então, será o abrigo temporário, enquanto os físicos de então buscarão uma forma de contornar a velocidade da luz para ocupar planetas longínquos. A exploração espacial já não terá mais este nome porque fará parte do cotidiano daquelas gerações sobreviventes. E, cá entre nós, na imensidão do cosmos sabemos de pouquíssimos lugares convidativos. O jeito será permanecer protegidos em naves ou estações espaciais que possam garantir a manutenção da espécie e, com sorte, de parte do meio ambiente que nos sustenta.

Assim, surgirão dúvidas sobremaneira relevantes quanto à existência sob o impacto da gravidade zero. Para além das dificuldades normais (como, por exemplo, os objetos caírem para cima), que outros dilemas essa força de atração nos legará?

Vejamos, por exemplo, as relações privadas. Imagine você amando tão próximo às estrelas, mas as cobertas teimando em levitar por conta própria, descobrindo os corpos encaixados. O espaço é frio, lembrem-se disso. Só o calor humano e um aquecedor de ar para dar conta do recado.

Outras impropriedades repercutirão nos esportes. Se haverá algum contratempo para marcar um gol num jogo de futebol, imagine para pontuar numa partida de vôlei, quando a bola obrigatoriamente precisa encostar no chão para a jogada ter fim. Será o caos para os árbitros.

Do esporte, pois, partimos às atividades domésticas. Regar o jardim? Só se a grama estiver no teto. Mudar os móveis de lugar? Sim, mas com pregos e martelo do lado. Donos e donas de casa ainda precisarão manter sempre seus lares fechados, pois todos os seus pertences poderão sair pelas janelas caso esta medida não seja tomada.

Mas o que falar das leis e dos governos? A ausência de gravidade trará algum benefício nesses aspectos? É difícil prever, pois vivemos um período de grande desrespeito para com a jurisprudência. O que valeu para ontem poderá não valer para amanhã. Mesmo assim, podemos supor que a corrupção e a bandalheira em geral não terão o mesmo peso em gravidade zero. Os inimigos públicos deixarão de carregar um enorme fardo que parecerá muito mais leve do que realmente é. A eles, desejamos um futuro pesado no único espaço que lhes compete: a cela de uma cadeia. É esperar para ver.

> Crônica publicada no Jornal Notícias do Dia em 02/06/2016.

cronicafalada

Perfil

Jornalista. Escritor. Leitor. Espectador. Algumas passagens da minha trajetória: Em 1998, fui Diretor de Imprensa do grêmio estudantil da Escola Técnica Federal de Santa Catarina (Florianópolis/SC). Entre 2001 e 2005, editei o fanzine JornalSIN na UNISUL (Palhoça/SC). No mesmo período, editei a seção de Literatura do portal cultural SARCÁSTICOcomBR (Florianópolis/SC). Nos anos de 2002, 2003, 2005 e 2010, realizei a cobertura crítica do Fórum Social Mundial (em Porto Alegre/RS) para o site SARCÁSTICOcomBR. Em 2002, atuei como cronista de cinema e editor de Cultura do Jornal Mercosul (Florianópolis/SC). Em 2004, publiquei de modo independente o livro "Caderno Amarelo de Poesias". Entre 2005 e 2006, atuei na área de assessoria de imprensa na Exato Segundo Produções (Florianópolis/SC). Em 2008, fui um dos vencedores do 6º Concurso Literário Conto e Poesia realizado pelo Sinergia - com a poesia "Nova Iorque em Vermelho". Em 2011, fui um dos vencedores do 7º Concurso Literário Conto e Poesia realizado pelo Sinergia - com a poesia "Soldado sem sentido" e com o conto "Velhos corações imaturos". Em 2012, apresentei o Programa Geral e o Ponto de Encontro no canal fechado TVN (São José/SC). Entre 2013 e 2015, fui editor-chefe do Jornal Independente (Biguaçu/SC). De 30/04/2009 a 10/08/2017, escrevi crônicas semanais para o jornal Notícias do Dia (Florianópolis/SC). Desde 2016, sou um dos editores e cronistas do Centopeia Site. Também produzo e apresento programas para o canal Centopeia TV no YouTube e para o podcast Centopeia Falante no Spotify. Publico semanalmente no blog Crônicas do Evandro e atualizo ocasionalmente o perfil do Instagram @cronicasdoevandro.

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