Super 8 (2011), de J. J. Abrams


Em certa medida, aquela geração de 1975-85 também foi responsável por tudo isto. Tivemos a oportunidade de assumir a culpa por nossos antepassados (estado, nação, família), ainda que rejeitando-o em quase sua totalidade. Mas negar os erros enquanto história é uma impossibilidade em si mesma.

Ninguém quer para si apenas a sua própria época – tampouco isto seria divertido ou interessante. Mesmo a internet é cheia de nostalgia, de lembranças e de história. Aquelas aventuras que vivíamos na década de 1980 se tornaram objeto de desejo para alguns. Para outros, tudo aquilo virou paixão.

O cinema deste início de milênio, calcado em remakes e revivals, já sacou esse filão, e está aí Super 8 (2011), de J. J. Abrams, para comprovar a tese. A produção de Steven Spielberg usa da imagem icônica que a chamada década perdida impingiu em nossa realidade – o que a série Stranger Things exploraria com muito mais entusiasmo alguns anos depois. Estão ali os elementos de uma sensibilidade juvenil marcada indelevelmente pelo cinema-e-vídeo. Há as bicicletas, a turma da escola, o medo do desconhecido, a aventura simples que toma dimensões arrasadoras. E existe ainda a vaga sensação de que o mundo ao nosso redor estava, por assim dizer, sob nosso controle, mesmo nas horas mais difíceis, mesmo nos dramas mais pessoais.

Super 8 pode soar pouco empático para essa turma pós-1995 (pós-moderna, pós-tudo), mas não chega a ser distópico ou anacrônico porque o diretor é precisamente uma das peças mais características do que o cinemão hollywoodiano ainda é capaz de identificar. Em miúdos, a película ainda aponta para essa separação entre o já reconhecível e o mistério do que está para ser. Talvez por isso o acidente com o trem seja muito mais eficaz que o desfecho, quando aquele se dá pela característica do diretor enquanto este resvala numa piegas imitação oitentista.

Desta feita, com alguma tristeza percebemos o quanto estas aventuras que vivemos noutros tempos permanecem, de fato, apenas numa área qualquer do cérebro, acionada vez por outra, seja através de uma música ou de um filme.

super8