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Crônicas de Evandro Duarte

~ Textos sobre o universo ao meu redor.

Crônicas de Evandro Duarte

Arquivos da Tag: Recordações

Familiares

21 quinta-feira jan 2016

Posted by Evandro Duarte in Cronicontos

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Crônicas, Família, Fotografia, Lembranças, Memórias, Recordações


O tempo conta uma história sobre eles, ainda que não a compreendam durante sua própria narrativa. Um recorte instantâneo do mundo na foto da família colocada numa imensa moldura na parede da sala de estar.

Quem eram aquelas pessoas e o que faziam naquele determinado momento? As lembranças já não são precisas assim porque há uma urgência que escapa aos dias, como a felicidade inconstante jamais encontrada em atos de vingança. Mas não, não era nada tão drástico assim. Apenas uma nuance cheia de intenções captadas pela lente de um fotógrafo do qual ninguém mais recorda o nome – afinal, ele não era da família.

Na imagem rural, todos se arrumaram para o evento em frente à velha casa de madeira na qual nascera o patriarca. A modesta habitação já não combinava mais com as muitas riquezas acumuladas pelos filhos e netos. Entretanto, por algum motivo nostálgico, preservaram o local como um símbolo do progresso. Para alguns, apenas um ventinho de vaidade refrescando-lhes os rostos: olhavam o passado, mas gostavam mesmo do presente. Para outros, tudo não passava de uma união estranha. Entre primos e tios que pouco se viam, também existiam aqueles que nunca se deram bem. Rusgas e feridas de outrora que ainda não cicatrizaram por completo. Perdoar é mais difícil para os orgulhosos. Mesmo assim, todos sorriram no momento em que o flash foi disparado. Já era. A fotografia seria por si só um contexto fechado. As interpretações posteriores também viriam daquela imagem tão rápida qual um suspiro.

Olhando para o quadro, suspirou. Não visitava os avós há muito tempo porque escolhera sair daquele círculo familiar. Mudou de estado civil (casou), mudou de estado da federação (foi para o Norte) e encontrou na distância daqueles que um dia lhe foram tão próximos um entendimento libertador de quem não deve nada a ninguém. Claro que existiram mágoas, mas estas foram esquecidas tão logo se mudou. Voltou para uma despedida. Um adeus para a avó que já perdia as forças que o mundo cobra. E logo que entrou na casa dos avós, o quadro lhe surpreendeu. Era ainda um garoto quando olhou para a aquele anônimo fotógrafo que pedia que todos lhe dissessem “x”. Quanta bobagem, pensou de imediato ao ver o cabelo curto, molhado e penteado, que usava à época – justamente o oposto de agora. O avô reparou que ele olhava fixo e tirou sua atenção com um abraço. Foi só então quando aquele mundo acabou que ele aprendeu a começar de novo. Despediu-se da avó com um registro apenas na memória – o flash ficaria para quando se reencontrassem.

> Crônica publicada no Jornal Notícias do Dia em 21/01/2016.

2014

08 quinta-feira jan 2015

Posted by Evandro Duarte in Ideias Imperfeitas

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2014, História, Historiografia, Lembranças, Melancolia, Nostalgia, Recordações, Saudade, Terra


Existe uma tradição na historiografia de contar a história apenas através dos grandes fatos, principalmente aqueles relacionados aos governos que impõem suas leis, quase sempre achando que estão fazendo o melhor que podem.

Mais recentemente, porém, houve uma mudança na rotina dos historiadores. Com a coragem de quem não está satisfeito com as tradições, muitos partiram para pesquisas de campo que, entre outras atribuições, colocaram a história do cotidiano como ponto de partida e não apenas de forma ilustrativa como acontecia até então. Assim, as memórias das pessoas comuns, longe dos gabinetes governamentais ou dos quartéis militares, tomaram corpo e ganharam seu lugar na história que, afinal de contas, sempre foi de todos.

Partindo desse princípio, podemos supor que a corrente tradicional não incluirá o ano de 2014 entre os melhores, seja para o país, seja para todo o planeta. Novamente, uma série de conflitos explodiu em várias partes do globo. O terrorismo também evocou o que há de pior no ser humano e muitas vidas foram ceifadas, seja por motivos econômicos, políticos, religiosos… E a Terra, cada vez mais conectada pela tecnologia e pelas decisões compartilhadas entre as nações, ainda não aprendeu que o único mundo possível é aquele no qual o princípio da igualdade está diretamente ligado ao respeito pelas diferenças.

Não de outro modo, pois, os historiadores do cotidiano usarão esses feitos que afetam a vida de bilhões de pessoas em todo o globo como um conteúdo complementar à vida que acontece a todo instante, incluindo agora, enquanto você está lendo a crônica.

Nessas histórias de gente comum, certamente haverá espaço para as boas recordações. Mesmo que sua empresa não tenha obtido o lucro esperado por causa das apreensões do mercado, mesmo que a sua saúde esteja um pouco prejudicada pelo descaso nos hospitais e postos de saúde, mesmo que tenha sido praticamente um desafio diário controlar o salário para que durasse o mês inteiro, mesmo com tudo isso, certamente, você também viveu oportunidades que valeram à pena.

Quase sempre, olhamos para o passado com um misto de felicidade e tristeza. Algumas pessoas chamam isso de nostalgia, outros de melancolia. Já na língua portuguesa há uma palavra exclusiva para tal sensação: saudade. Saudade: esta é a palavra que a história sempre deixou de lado. E, passado algum tempo, a saudade chegará trazendo à tona dias corriqueiros e desafiadores, como estes que você viveu em 2014.

> Crônica publicada no Jornal Notícias do Dia em 08/01/2015.

Caso de humor

26 quinta-feira jul 2012

Posted by Evandro Duarte in Ideias Imperfeitas

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Bossa Nova, Férias, Humor, Músicas, Rap, Recordações, Trabalho


Poderia ser um caso de amor, mas eu não estava apaixonado. Mandei flores, é bem verdade, mas foi mais por uma questão de simples galanteio e, claro, por ter uns trocados sobrando no bolso para gastar com algo cujo resultado me era desconhecido. A conheci num trabalho provisório, quando estava cobrindo as férias dalgum funcionário tão terceirizado quanto eu. Assim, teria a companhia daqueles que lá trabalhavam por pouco menos de 30 dias úteis, que é de fato o que importa para se construir qualquer caso.

Com uma ou duas deixas insinuadas em suas falas, coisas do tipo “sou nova na cidade e não conheço muito”, concluí que uma oportunidade assim não aparece todo dia, ainda mais quando se está trabalhando nas férias de outra pessoa. Pensem vocês, leitores e leitoras, o funcionário de fato do setor deveria estar na praia ou em casa, descansando dos 11 meses anteriores e, talvez, estivesse com menos sorte do que eu para ter um caso destes. Ou, quiçá, estivesse muito melhor… mas prefiro deixar esse ponto de vista de lado, ou esta crônica não seria de humor, e sim de tristeza.

O fato é que cumpri lá meus dias; e voltei para meu local de origem. Na mesma semana, enviei flores acompanhadas de um convite para sairmos. Esse caso ocorreu há muitos anos, vai daí que minha memória não seja das melhores. E não muito boas também eram minhas habilidades ao volante naquela época. Aprendi a dirigir apenas na autoescola e fazia poucos dias que estava legalmente habilitado a assumir o volante de um veículo motorizado.

Após buscá-la, fomos à procura de um restaurante na principal Avenida da cidade. Acontece que o local estava tão lotado que até mesmo as vagas de estacionamento da rua estavam saindo pelo ladrão. E, para piorar, tive de voltar dirigindo o carro de ré, pois não havia espaço para fazer a volta e a via era sem saída. Foi aí que lhe contei sobre minha recente inserção no ramo automobilístico ou, trocando em miúdos, minha pouca experiência em dirigir carros. E ela falou: “bom que você me diz isso agora”. Sorri amarelo.

Quando consegui deixar o lugar, suando pelo esforço naquela direção que não era hidráulica, peguei a Avenida Beira Mar Norte e rumei ao Continente. Ela elogiou uma música que tocava no aparelho de rádio do carro. Acho que era uma bossa nova, e lhe falei que eu mesmo havia gravado as canções numa fita cassete. “Selecionei para esta noite”, enrolei. Mas eis que começou um rap falando das conquistas não muito românticas de um jovem, estragando o ritmo e o clima.

No fim, escolhemos a pizzaria mais simples na qual não era preciso manobrar o carro. E foi só alegria durante uma ou duas horas. Mas na volta para casa, descobri que ela era muito religiosa e meus comentários existencialistas não foram lá muito bem entendidos. Sim, sim, até rolou uma certa intimidade, mas as lembranças que ficaram foram apenas essas de algum humor. Desde então, jamais a vi novamente. Lembrando disso agora, mais de uma década após estes eventos, penso que aquele funcionário, que estava de férias enquanto eu trabalhava, era sim um cara de sorte.

> Crônica publicada no Jornal Notícias do Dia em 26/07/2012.

O morador da Ilha e o cotidiano

19 sexta-feira ago 2011

Posted by Evandro Duarte in Florianópolis

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Crônicas, Cronistas, Flávio José Cardozo, Florianópolis, Jair Francisco Hamms, Recordações


Os ares provincianos e distantes do agito ainda não se dissiparam totalmente da Ilha. E podemos conferir tais características nos textos dos cronistas Flávio José Cardozo e Jair Francisco Hamms.

Ao ver um pequeno alvoroço no centro da cidade, Flávio fala que nada acontece naquela Ilha porque a “terrinha ainda é toda remanso“. E assim afirma: “Me aproximo, tocado pela curiosidade jornalística que mora em todos nós, cidadãos da Ilha. É manhã de sábado, e nenhum sujeito saudável há de vir à cidade nas manhãs de sábado apenas para comprar peixe, carne de churrasco. (…) vem principalmente para ver se de alguma esquina dispara afinal uma novidade qualquer que acabe com essa placidez da semana que morre”.

Flávio também narra as dificuldades que encontra para andar 40 minutos diários, recomendado por médicos. Segundo o cronista, é difícil não se distrair com o lugar em que mora, Santo Antônio de Lisboa, e com a gente dali. Eis o lugar bucólico aos olhos do cronista: “Um cheiro de mato misturado aos cheiros do mar. Ao fundo, rente ao morro, o ronco dos carros, que se abranda ao atravessar espinheiros e cajuzais. E mugidos de vaca. Gosto imensamente deles, dos mugidos de vaca batendo quentes, algo nostálgicos, no rugido áspero dos automóveis lá longe”.

Assim como Flávio, Jair Francisco Hamms também mora numa praia: a Armação. O lugar é de pouco movimento se comparado às praias agitadas como Canasvieiras, Ingleses ou Joaquina. E os causos de Hamms também são muitos: “O meu amalucado amigo Zé Flores telefona lá de Roseira, no Paraná, às seis da manhã, e me arranca da cama só para saber o que eu tenho feito, de férias aqui na Armação. Aos bocejos, respondo que ‘por não ser muito chegado a praias, o que mais faço é cozinhar e especular a vida alheia”. Cabe apenas ressaltar que “a vida alheia” citada pelo cronista é não mais que a vida das flores.

Muitos dos florianopolitanos gostam de criar curiós em casa para exibi-los na rua. Jair fez do personagem Domingos na crônica “Domingos do Domingos”, um destes, com seu linguajar bem coloquial: “- Mo curió, homi. Nomi dele é Artur. Nomi do mo fio, qui faleceu. Faleceu tem vinte anos já. No dia qui morreu este qui tá qui nasceu. Descascou o ovinho, abriu o biquinho, uma lindeza. Bote logo u nomi di Artur”.

As crônicas de Jair e Flávio trazem personagens que revelam o cotidiano da nossa cidade que, se não é mais o mesmo, ainda guarda em si mesmo muitas das suas principais particularidades que singularizam esse pedacinho de terra chamado Florianópolis.

> Crônica publicada no jornal Notícias do Dia em 18/08/2011.

Perfil

Jornalista. Escritor. Leitor. Espectador. Algumas passagens da minha trajetória: Em 1998, fui Diretor de Imprensa do grêmio estudantil da Escola Técnica Federal de Santa Catarina (Florianópolis/SC). Entre 2001 e 2005, editei o fanzine JornalSIN na UNISUL (Palhoça/SC). No mesmo período, editei a seção de Literatura do portal cultural SARCÁSTICOcomBR (Florianópolis/SC). Nos anos de 2002, 2003, 2005 e 2010, realizei a cobertura crítica do Fórum Social Mundial (em Porto Alegre/RS) para o site SARCÁSTICOcomBR. Em 2002, atuei como cronista de cinema e editor de Cultura do Jornal Mercosul (Florianópolis/SC). Em 2004, publiquei de modo independente o livro "Caderno Amarelo de Poesias". Entre 2005 e 2006, atuei na área de assessoria de imprensa na Exato Segundo Produções (Florianópolis/SC). Em 2008, fui um dos vencedores do 6º Concurso Literário Conto e Poesia realizado pelo Sinergia - com a poesia "Nova Iorque em Vermelho". Em 2011, fui um dos vencedores do 7º Concurso Literário Conto e Poesia realizado pelo Sinergia - com a poesia "Soldado sem sentido" e com o conto "Velhos corações imaturos". Em 2012, apresentei o Programa Geral e o Ponto de Encontro no canal fechado TVN (São José/SC). Entre 2013 e 2015, fui editor-chefe do Jornal Independente (Biguaçu/SC). De 30/04/2009 a 10/08/2017, escrevi crônicas semanais para o jornal Notícias do Dia (Florianópolis/SC). Desde 2016, sou um dos editores e cronistas do Centopeia Site. Também produzo e apresento programas para o canal Centopeia TV no YouTube e para o podcast Centopeia Falante no Spotify. Publico semanalmente no blog Crônicas do Evandro e atualizo ocasionalmente o perfil do Instagram @cronicasdoevandro.

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