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Crônicas de Evandro Duarte

~ Textos sobre o universo ao meu redor.

Crônicas de Evandro Duarte

Arquivos da Tag: Sociedade

Trump e nós

09 quarta-feira nov 2016

Posted by Evandro Duarte in Pensamentos Imperfeitos

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Donald Trump, EUA, Política, Sociedade


Num sentido mais estrito e histórico do que prático e cultural, a eleição de Donald Trump diz mais sobre as nossas expectativas do que sobre nossas necessidades. Temos, evidentemente, sempre medo de falhar. É o que nos torna humanos. É o que nos faz tomar decisões arriscadas, apenas para fugir de uma inevitabilidade histórica: as mudanças estão aí para nos iludir, fazendo-nos acreditar nessa ideia de progresso. A continuidade é menos conservadora do que a mudança porque ela não mexe com os desejos individuais. E vivemos a Era dos Desejos. Todos querem tudo; e agora. O cotidiano se tornou um ambiente inóspito por si só, principalmente quando se perdem as expectativas de mudanças: mudar de classe, de roupa, de refeição, de tudo que é físico e revela quem queremos parecer.

Justamente por ser um mega-bilionário, Trump se parece mais com a ideia de sucesso do que nosso vizinho feliz. Já não interessa mais a grama verde e retilínea da casa ao lado, quando o que se almeja é não ser o que se é. Talvez este seja o drama de sempre da classe média. Com medo de perder o que tem, vive em angústia num suporte quase cego àqueles que têm demais. E se as oportunidades mínguam, como é próprio do capitalismo de tempos em tempos, o vale tudo ganha sua vez. É quando surgem os preconceitos, a polarização do debate, o ódio que enxerga apenas a si mesmo e nunca além.

Participando ou não das eleições, o cidadão comum olha para seus políticos qual o reflexo de um espelho. E o desafio do candidato é agradar seus eleitores até nas declarações mais pessoais que não dizem respeito ao trato da coisa pública. Na prática, a política é tão distante quanto esse reduzido universo dos bilionários quais Trump e Cia: Gente que perdeu muito dinheiro ao longo dos anos, decretando falências consecutivas, mantendo-se no topo assim mesmo porque cumpria os requisitos desse sistema invisível a quem todos culpam. Reparem que a culpa sempre está no outro, nunca em si mesmo. É o outro que não sabe escolher seus líderes. Mas a piada pronta continua ali: o Outro fala o mesmo de ti. Muitas vezes, utilizando dos mesmos argumentos, da mesma adjetivação barata e rasa. O espelho, de novo. E nunca é fácil olhar para si mesmo. Ainda mais quando a imagem que aparece é a de Donald Trump.

> Crônica publicada no jornal Notícias do Dia em 10/11/2016.

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A criança, a amamentação e o universo

27 quinta-feira out 2016

Posted by Evandro Duarte in Pensamentos Imperfeitos

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Amigos, Amizade, crianças, Família, Sociedade


A queda de um copo de vidro desperta a criança dormindo numa das cadeiras do restaurante. É hora da refeição. Para uns, um mais que saboroso buffet de carnes. Para a criança, o mais que necessário leite materno. Na amamentação, a vida e as possibilidades infinitas de quem ainda vai descobrir que essa experiência é única. Quando crescer, talvez a criança guarde-se em sua própria estrutura sentimental e se torne uma existencialista, daquelas que tem carteirinha de clube do Sartre e tudo. Mas não a fará mais ou menos feliz tal destino. Porque o conhecimento há de lhe abrir algumas portas, mas o contato físico, pessoal, afetivo intuirá outras janelas pelas quais será defenestrada, ainda que metaforicamente, do seu ambiente de convicções.

A criança mama com os olhos abertos, perscrutando quem lhe rodeia com sua imaginação em ebulição. Mesmo sem ter aprendido a falar, ela conta para si mesma que está segura no colo da mãe. De tempos em tempos, o pai lhe dá uma espiada e faz alguma careta engraçada. Essa coisa louca, antiga, moderna chamada família lhe traz algum sentido enquanto todo o mundo ainda não foi explorado. Talvez ela se torne uma exploradora. Do tipo que olha para baixo, como os arqueólogos? Ou do tipo que levanta a cabeça em direção às estrelas, como os astrônomos? Teremos que esperar para ver. De algum modo, sua preocupação é menos conceitual e mais urgente, quase efêmera, mas super relevante.

A refeição dos adultos ainda está longe de acabar, mas a da criança parece estar chegando ao fim. Ela fecha os olhos, não se importando com a acirrada e alegre conversa de seus pais e dos amigos deles. É bom tirar um cochilo para manter a juventude em dia. Em alguns anos, ela também descobrirá os amigos. No início, não importarão gostos pessoais, opiniões políticas ou questões do gênero. Haverá somente a brincadeira, o lazer, a diversão de quem teve uma oportunidade dourada numa sociedade cheia de tons acinzentados. Nas amizades que ganhará ou perderá pelo caminho, verá que não foi simples assim para todos. E aprenderá com os erros da imaturidade e o conformismo da sabedoria. Mudará.

Assim que terminou de mamar, pegou no sono outra vez, enquanto a mãe registrou aquele tenro momento com o celular, postando a imagem da criança numa rede social. E todo mundo curtiu.

> Crônica publicada no Jornal Notícias do Dia em 27/10/2016.

cronicafalada

O dilema burguês

28 quinta-feira abr 2016

Posted by Evandro Duarte in Pensamentos Imperfeitos

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Burguês, Burguesia, História, Historiografia, Humanidade, Liberdade, Maria Antonieta, Nacionalismo, Sociedade


Se existem idiossincrasias suficientes na burguesia talvez seja porque sua origem está muito mais ligada à propensão de terceiros com posição superior do que ao processo naturalmente histórico – na medida em que a natureza e a história possam ter alguma coerência. A aurora do burguês irrompe feito um sintoma: a picada de um mosquito invisível, mas nem por isso menos palpável, chamado exploração. Tal nascimento tenderá à culpa ou à responsabilidade, dependendo do grau de tolerância de cada indivíduo, mas pouco importará no desenrolar dos fatos. O dilema que se eleva é muito mais humano e menos social.

Concomitante ao progresso burguês há um esvaziamento de vontades coletivas, como bem mostram os resultados das inúmeras revoluções, muito mais claramente após aquela que fez Maria Antonieta perder seus vestidos e sua cabeça. Desde então, a conquista no singular recebe apoio em massa, porque os dias devem ser aproveitados à exaustão. Não por acaso, as reformulações nos universos religioso e familiar se untam das possibilidades materialistas para construir uma oportuna ideia de sucesso. O deus do perdão definitivamente assume o lugar do deus da punição – mesmo para os extremistas, mantidos sob idêntica ordem e hierarquia. A carne ainda falará mais alto que as leis.

Com tantas possibilidades de liberdades aparentes, não parece nada contraditório que em muitos momentos – e ainda hoje – as nações encampem sentimentos tão pessoais quanto unilaterais para cercear o direito alheio. Os nacionalismos, as guerras e todas as decepções que lhes acompanham trazem consigo o peso do capital como única origem aceitável para o lucro disfarçado de triunfo. Qual a grama do vizinho que sempre está mais verde, governos e governantes olham com ganância para as reservas naturais de outrem, seja para retirar ouro negro ou branco. O equilíbrio só acontece com os vencedores no controle e os vencidos esmagados, que assimilam a cultura vitoriosa porque não querem ficar de fora dos dividendos.

E como fica o burguês no meio disso tudo? As intrigantes respostas são unificadas sob o mesmo manto histórico e historiográfico: de alguma maneira, o burguês se vê participando dos grandes enredos sociais porque ele próprio traz a pena e o papiro (ou o teclado e tela) que registrarão tais episódios. Mesmo que ele seja pouco gentil para com nomes de peso ou artífices dos grandes acontecimentos, em essência o burguês reproduzirá os velhos conceitos libertadores de longo prazo, assumindo para si as maiores ilusões que ficcionista alguma seria capaz de produzir.

> Crônica publicada no Jornal Notícias do Dia em 28/04/2016.

cronicafalada

Recados de Marte

24 quinta-feira mar 2016

Posted by Evandro Duarte in Pensamentos Imperfeitos

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Colonização, Marte, Nova Iorque, Sociedade, Terra, Terraformação


Quando a exploração humana em Marte teve início, sondas robóticas encontraram um planeta com pouco potencial, mas com um jeitinho todo especial. Os cientistas e demais interessados percebiam que aquele planeta traduzia a possibilidade dos primeiros passos em colônias fora da Terra. A Lua ficara para trás, avaliada apenas como uma bola rochosa gigante que influencia as marés e os cortes de cabelo.

Os primeiros humanos que pisaram no planeta vermelho jamais voltaram à Terra – não havia como, e eles sabiam disso. Mesmo assim, viveram bem em casulos artificiais que simulavam com muita propriedade as condições naturais terrestres. Tornaram o solo fértil e souberam como reaproveitar a água congelada encontrada no planeta. Eram pioneiros que tinham de lidar com a alta tecnologia dos equipamentos que permitiam a vida, mas também sabiam conviver com algum bucolismo de uma existência voltada à agricultura.

Por questões orçamentárias, no início foram enviadas não mais que uma dúzia de pessoas. Seis mulheres e seis homens de diversas nacionalidades com o objetivo de começar uma sociedade igualitária. Décadas mais tarde, os casulos ficaram muito maiores. O maior deles fora batizado como Supernova Iorque, por abrigar duas vezes a população da Grande Maçã original. Marte, agora, era um local atraente. O planeta inóspito de antes começara a dar sinais próprios de terraformação. A primeira árvore que brotou fora de um casulo foi notícia em dois mundos. O futuro promissor e a digna organização social deixaram a Terra em segundo plano. A moda agora era ter uma família marciana, como eram chamados os nascidos neste novo mundo sem índios.

Ninguém soube exatamente de quem ou de onde viera a primeira ordem legitimamente marciana: outro tipo de controle era preciso. Até então, todas as famílias ou indivíduos solteiros tinham de produzir sua própria comida e ajudar na manutenção do casulo. Isso não era visto como um ato obrigatório, mas sim um livre exercício de apego à sociedade. Desta vez, porém, este “outro tipo de controle” pegara-os de surpresa. Como ficariam os relacionamentos dali em diante? Qual a razão para questionar a harmonia vigente? Sem respostas concretas, foram à eleição assim mesmo. O administrador escolhido era um dos moradores mais antigos de Supernova Iorque, filho dos primeiros colonizadores. Ele aceitou a função com alguma relutância e prometeu mudanças. Anos depois, foi retirado do poder por suspeitas de corrupção.

Foi assim que começou o próximo erro humano.

> Crônica publicada no Jornal Notícias do Dia em 24/03/2016.

cronicafalada

Apelo ao universo

17 quinta-feira set 2015

Posted by Evandro Duarte in Pensamentos Imperfeitos

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Apelos, Arte, Debate, Sociedade, Universo


A experiência artística diz muito das nossas pretensões. Por um espelho criativo, seja uma caneta ou uma filmadora, refletimos para além de si porque é preciso navegar. Entristecem-me aqueles que passam pela vida sem arte; nem chegaram a experimentar a magia que nos distingue nesse mundinho fechado – sem deméritos às outras espécies, que se registre. O planeta é uma explosão viva que busca o equilíbrio. Assim foi; assim será.

Quisera uma arte que dê conta de tudo, ‘inda que não esgote o conteúdo. E nosso recorte, desta vez, é o social. Não há como fugir dele, afinal. E não somos ilha para esquecer dos outros. Por sorte, o social é justamente a companhia primeira desde que deixamos o ventre. Choramos e nos encontramos num ambiente quase hostil, despreparado para nossas necessidades. Logo, aprendemos. Adaptamo-nos. Sorrimos.

A sociedade se revela para quem está do outro lado do espelho. Voyeurs. Um pouquinho de observação e fetiche. Deleites e deletérios. Mesmo assim, há uma vontade essencial de se fazer enxergar. Eis a arte, claro. Mas não exageremos ou inevitavelmente cairemos no mau gosto, nas ofensas e nas vaidades cotidianas que nos afastam de nossa própria origem mística. À arte não convém apelar apenas quando se quer chamar a atenção. Este lado apelativo que beira uma publicidade social não é interessante mesmo quando fala de grandes temas. Injustiças econômicas, preconceitos de cor e tom, intrigas de religiosos: a arte apelativa ignora o debate e parte para uma visão maniqueísta das pessoas. E o maniqueísmo está ultrapassado desde sempre – ainda que alguns insistam em lhes dar um respaldo tolo.

Entrementes, um adendo que não é um desdito: apelar é essencial aos artistas. Não se pode compor um poema sem apelar ao coração; não se pode pintar um quadro sem apelar à imagem que temos de nós mesmos; não se pode criar sem ter a si mesmo e aos outros em mente. O apelo em questão se faz necessário ao princípio da arte: transformar mentes e corações. Esta é a evolução da qual somos partícipes. Você pode pensar em destino, em progresso ou no dia do julgamento final. Pense. Mas fique sempre com uma pontinha de dúvida porque não temos o direito (e tampouco seria divertido) de sermos maiores que todas as coisas. Não somos. Eu não quero ser; nem agora, nem depois.

Façamos, por fim, um apelo ao próprio universo para que nos dê ao menos uma chance da eternidade. Pois a finitude não combina com arte e nem com nossas pretensões.

> Crônica publicada no Jornal Notícias do Dia em 17/09/2015.

Abaixo ao muro

19 quinta-feira mar 2015

Posted by Evandro Duarte in Pensamentos Imperfeitos

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Another brick in the wall, Democracia, Pink Floyd, Sociedade


Outro tijolo no muro / another brick in the wall. A frase-título da famosa música do grupo inglês Pink Floyd nos remete a uma discussão sem fim, ou com um fim, aparentemente, muito distante.

Somos realmente apenas outro tijolo no muro? Estamos aqui porque servimos para alguém? É difícil saber o real motivo de tudo o que nos cerca. Acredito que, em diversas vezes, o chamado “sistema” impele ao ser humano determinadas ações que não são sequer passíveis de explicação. As atividades ocorrem de forma sintomática, tão mecânica quanto um relógio. Tic, Tac.

Inocentes e culpados. Certo ou errado. Por impulso, seguimos em frente ouvindo o som oriundo das hélices do helicóptero (ou seria um drone?) que sobrevoa nossas cabeças, como um vigilante atento a todos os passos da humanidade. Fim da privacidade? Será que ainda existe alguma privacidade?
A tecnologia está aí para quem quiser ver e para alguns poderem usufruí-la. O destino da nossa espécie reside num botão capaz de iniciar uma guerra, eliminando de uma só vez milhões de vidas.

O bombardeio do helicóptero começa. As forças do poder instituído, mas não respeitado, ajudam nesse massacre que controla o avanço das forças contrárias ao sistema vigente. Tijolos e dinheiro ergueram o império. E você? Você é apenas outro tijolo no muro?

As hélices giram formando um círculo contínuo de som e vento. Os mísseis são lançados numa velocidade que os olhos não vêem, mas o coração sente. Mesmo que estejam despedaçados, ainda existem os corações que batem fora de ritmo tal qual a vida de seus donos inconformados.

No lugar de corações, medalhas. No lugar de vitórias, perdas. Ninguém sai lucrando quando um lado quer se manter no alto do pódio, comandando seus exércitos que seguem com vendas nos olhos para que não vejam os horrores que cometem – tal e qual a musa Justiça.

A sintonia não existe mais. O ritmo agora segue fora do compasso. A música que toca dispensa apresentações e vai direto ao assunto, sem rodeios, sem perguntas. O intervencionismo é a ordem da vez.

O sonho da democracia existe, ainda que muitos vivam em pesadelo constante. Quem luta pela paz faz guerra. Quem proclama a liberdade prega o fascismo. Sonhos perseguidos, destruídos por bombas de status.

A prova mais dura para um estudante. A lição que o pai não sabe como explicar para seu filho.

O caminho da conciliação, do entendimento, do respeito mútuo, da celebração das diferenças é só mais um tijolo no muro erguido sobre o sangue civil. Mas, ainda assim, é o tijolo que fazemos questão de carregar.

> Crônica publicada no Jornal Notícias do Dia em 19/03/2015.

Criar é mais importante que seguir regras

06 quinta-feira set 2012

Posted by Evandro Duarte in Pensamentos Imperfeitos

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Brasil, Educação, Internet, Machado de Assis, Mário de Andrade, Paulo Freire, Pós-Modernismo, Sociedade


Outra grave questão da educação é que as coisas estão ficando tão complexas que as responsabilidades já nem são tão visíveis assim. O estado tem sua culpa, mas não exclusividade da atual situação. As sociabilidades estão diferentes (internet, tv e afins modificando comportamentos) e as famílias não-nucleares já não dão suporte para aquele tipo tradicional de educação que se tinha com mais ênfase até os 60, com menos ênfase até o final dos 90, e com pouquíssima ênfase de 2000 para cá – em linhas gerais, claro.

Em última estância, poderíamos culpar os poderosos, ou o capitalismo… mas mesmo aquela educação tradicional de antes só existiu em função do capital. Veja-se que mesmo a literatura pós-revolução industrial foi produzida durante muito tempo por gente que esteve ligada ou à igreja ou à nobreza – dois ícones do acúmulo de capital. Peguem-se aí como exemplos nossos principais autores brasileiros do naturalismo, realismo e até um pouco antes do modernismo tardio de Mário de Andrade. Praticamente todos, incluindo nosso mestre-mor Machado de Assis, fizeram o que fizeram bancados pelo estado. E hoje não é nada muito diferente. Mesmo na Europa, os autores eram quase sempre bancados pelos eclesiásticos ou por mecenas. E, óbvio, o mesmo se deu com as outras artes. Ainda assim, façamos a ressalva: até o modernismo, as pessoas vinham de uma longa tradição na qual as criações ainda eram mais surpreendentes que as regras.

O pós-modernismo pôs fim às tradições, e ficaram apenas as regras mais esdrúxulas (alô, politicamente correto?) por companheiras. Assim, sobrou para a educação um método de ensino absolutamente defasado – e as tecnologias que surgiram nos últimos 20 anos só tornaram isso ainda mais claro. Alguém já disse que se um aluno do século XV (ou antes) fosse transportado para uma sala de aula nos dias atuais ele não se sentiria muito deslocado. O problema é que todo o resto mudou. Engraçado que o Paulo Freire, que é idolatrado no país e mesmo no mundo, escreveu sobre essa falta de “leitura do mundo” há décadas e ninguém entendeu bulhufas.

Absolutamente todos os países do globo estão vulneráveis às variações econômicas e às crises externas / internas. A economia mundial só mostra o óbvio: com ou sem educação, o que regula os mercados por aí em nada tem a ver com os bem educados. Não por acaso, o Brasil se tornou a oitava economia mundial mesmo com baixíssimos índices na área educacional. Ainda assim, não se trata apenas de dar o que o mercado quer, mas de atender à demanda básica do ser humano naquilo que o torna humano: o conhecimento.

> Crônica publicada no Jornal Notícias do Dia em 06/09/2012.

Ensino mais ou menos torto

05 quinta-feira jul 2012

Posted by Evandro Duarte in Pensamentos Imperfeitos

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Educação, Ensino, Escola, Ortega y Gasset, Sociedade, vestibular


À medida que a gente envelhece, compreende as coisas de um jeito diferente. Não tem nada a ver com ficar mais inteligente ou sábio, pois esse é um terreno no qual pisam cada vez menos pessoas nesta pós-modernidade. Trata-se, essencialmente, de admitir que certas descrenças são os pilares fundamentais sobre os quais a sociedade se erigiu.

Entre as principais descrenças que, inevitavelmente, fomos condicionados a aceitar está a massificação do ensino, coisa assim tão óbvia para nós que, em algum momento, deixamos de lado e nos acostumamos. Quando os governos colocam burocratas em cargos de gerenciamento no setor educacional, temos aí o anúncio de que a igualdade entre os estudantes se dará apenas na mediocridade de seus conhecimentos ditos fundamentais. Não por acaso, a lógica do vestibular determinou que todo ensino médio se tornasse apenas um curso prolongado para passar num teste. Claro que o vestibular não é um teste qualquer, mas sim a continuidade da lógica massificadora, pois apenas aqueles que se submeterem ao sistema do ensino burocrático, privilegiando a homogeneidade sobre a singularidade, terão algum êxito e conquistarão as vagas de sua preferência.

Se no ensino público temos as inconveniências de gestores cujo único objetivo é aumentar os índices escolares para que o trabalho seja reconhecido por seus superiores, no ensino privado as coisas vão mal igualmente – já os negócios vão muito bem, obrigado. Os donos de colégios, cursinhos e afins são meros empresários no sentido de origem. No mercado, não há espaço para loucos cheios de boas intenções que desejam tornar as pessoas melhores. Nada disso; e não me venham com esses discursinhos floreados em períodos de matrículas escolares. O aluno da rede privada é sujeito da situação: um cliente, para todos os efeitos dentro da sua instituição. Mesmo o professor particular sabe que tanto maior será sua renda quanto melhor o aluno se acostumar às ideias massificadoras. Incentivar a criatividade, a discussão sobre os porquês da grade curricular ou ainda instigar a leitura de mundo não trará retorno algum ao aluno que se prepara para o vestibular, pois as questões somatórias ou de assinalar não levem em consideração a originalidade das respostas.

Esses conceitos, vale lembrar, não são novos. A meu ver, o principal autor que serve de apoio para estes pensamentos sempre imperfeitos é o filósofo Ortega y Gasset, que cunhou a ideia do homem-massa: este ser que a sociedade inconscientemente deseja que nos tornemos todos, iguais justamente naquilo que deveríamos ser diferentes – seres humanos mais ou menos tortos.

> Crônica publicada no Jornal Notícias do Dia em 05/07/2012.

Seja no Rio, seja na Ilha

09 quinta-feira dez 2010

Posted by Evandro Duarte in Cidades da Grande Florianópolis, Florianópolis, Pensamentos Imperfeitos

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Brasil, Matar ou Morrer, Nação, Rio de Janeiro, Sociedade


Os dias atribulados no Brasil estão longe do fim que um morro carioca dito pacificado possa sugerir. Os processos históricos que culminaram nos recentes embates entre polícia (estado organizado com objetivo definido pela sociedade) e criminosos (quando o crime está pseudo-organizado sem quaisquer objetivos que não a sobrevivência) têm múltiplas explicações e, certamente, todas insatisfatórias. Assim, os governos das mais variadas esferas (que receiam em solucionar problemas porque, afinal, o que seriam dos políticos se tudo estivesse resolvido?) posam de mocinho e vilão, quando, na realidade das esquinas nacionais, não são nem uma coisa e tampouco outra.

Do Rio de Janeiro para esta nossa Ilha de Santa Catarina é um apenas um pulo, como as pessoas que andam de avião costumam dizer. E, mesmo aqueles que fazem uso dos ônibus interestaduais, sabemos que algumas horas de viagem não são suficientes para dizer que nossas realidades são assim tão diferentes. Florianopolitanos ou aqueles que residem nesta cidade pertencem à mesma pátria de cariocas. Tal situação é igual para porto-alegrenses, paulistanos ou porto-velhenses e tantos outros povos unidos sobre a bandeira verde-amarela. E se estamos todos sob o mesmo céu anil, sabemos que nossas desventuras tendem a ser similares, guardadas as proporções de praxe. O que ocorre acolá, portanto, dá-se também por aqui.

Quando os policiais, a tropa de choque e o exército subiram as favelas cariocas expulsando os criminosos de suas pequenas fortalezas, logo a lembrança do filme Matar ou Morrer (High Noon, 1952), um faroeste dirigido por Fred Zinnemann, surgiu em meu pensamento. Na película, o xerife Will Kane acaba de se casar quando descobre que um antigo criminoso está de volta à cidade após cumprir a pena devida e disposto a acertar as contas com aquele que lhe privou da liberdade. Kane titubeia, mas para o duelo pois ele sabe que, independente de onde ele estiver, o passado-presente mal resolvido vai lhe bater à porta. Pois é o que é. Sem enfrentar com vigor todos os problemas de uma só vez, a violência acaba de uma maneira ou outra entrando em nosso dia a dia, feito um filme de faroeste e sem final feliz.

Por enfrentar problemas entenda-se ir muito além de pacificar morros com a presença da força bruta do estado. Definir e aplicar programas sociais de manutenção e valorização de comunidades desfavorecidas, por exemplo, já seria um bom ponto de partida. Do contrário, estaremos apenas expulsando bandidos de um lugar para o outro e nos tornaremos tudo aquilo que mais detestamos, seja no Rio, seja na Ilha.

> Crônica publicada no Jornal Notícias do Dia em 09/12/2010.

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Perfil

Jornalista. Escritor. Leitor. Espectador. Algumas passagens da minha trajetória: Em 1998, fui Diretor de Imprensa do grêmio estudantil da Escola Técnica Federal de Santa Catarina (Florianópolis/SC). Entre 2001 e 2005, editei o fanzine JornalSIN na UNISUL (Palhoça/SC). No mesmo período, editei a seção de Literatura do portal cultural www.sarcastico.com.br (Florianópolis/SC). Realizei a cobertura crítica do Fórum Social Mundial (em Porto Alegre/RS) nos anos de 2002, 2003, 2005 e 2010 para o site www.sarcastico.com.br. Em 2002, atuei como cronista de cinema e editor de Cultura do Jornal Mercosul (Florianópolis/SC). Em 2004, publiquei o livro "Caderno Amarelo de Poesias". Entre 2005 e 2006, atuei na área se assessoria de imprensa na Exato Segundo Produções – tendo como clientes a Banda Os Chefes, o Fundo Municipal de Cinema de Florianópolis, Catavídeo – Mostra de Vídeos Catarinenses, além de diversas produções audiovisuais. Em 2008, fui um dos vencedores do 6º Concurso Literário Conto e Poesia realizado pelo Sinergia - com a poesia "Nova Iorque em Vermelho". Em 2011, fui um dos vencedores do 7º Concurso Literário Conto e Poesia realizado pelo Sinergia - com a poesia "Soldado sem sentido" e com o conto "Velhos corações imaturos". Entre 2013 e 2015, fui editor-chefe do Jornal Independente (Biguaçu/SC). De 30/04/2009 a 10/08/2017, fui cronista semanal do jornal Notícias do Dia (Florianópolis/SC). Desde 2016, sou um dos fundadores e cronistas do site www.centopeia.info. Escrevo constantemente para meu blog www.cronicasdoevandro.wordpress.com e atualizo o perfil do instagram @cronicasdoevandro.

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