As adaptações de Stephen Hawking


Parece não haver dúvidas de que a mente científica mais brilhante do século XX tenha sido a do físico teórico alemão Albert Einstein. Popular mesmo entre os não iniciados, o imaginário coletivo legou ao criador da Teoria da Relatividade o título de gênio, feito que poucos notáveis realizaram, caso do também físico Stephen Hawking. E para além dos feitos de Einstein, as adaptações pelas quais passou Hawking ao longo de sua vida foram ainda mais surpreendentes que seu trabalho de divulgação científica.

Nascido na Inglaterra, Stephen Hawking enfrentou desde muito jovem uma rara doença sem cura, o que lhe paralisa os músculos do corpo sem atingir a capacidade intelectual. E que capacidade! Adaptando-se às dificuldades, recebeu as mais importantes premiações mundiais na área das ciências (inclusive a Medalha Albert Einstein, em 1979). O autor popularizou o conhecimento da física e do cosmo com obras que se tornaram Best Sellers, quais sejam Uma Breve História do Tempo: do Big Bang aos Buracos Negros e O Universo numa Casca de Noz, entre outras.

Como bom professor, suas publicações são verdadeiras aulas sobre a vida e as leis que regem o Universo. Não por acaso, Hawking é uma verdadeira celebridade contemporânea, com participações em diversos programas de televisão, sendo a mais lembrada na série Jornada nas Estrelas: A Nova Geração.

As contribuições do cientista inglês poderão culminar, segundo seus próprios dizeres, numa Teoria de Tudo, donde será possível explicar a existência de maneira definitiva. Assim, quando nos deparamos com uma situação sem explicação, seja no trabalho ou na vida particular, parece que essa busca por uma origem comum – do caos à ordem – que Hawking vem executando imóvel em sua cadeira de rodas pode dar sentido àquela eterna necessidade de nos adaptarmos ao mundo. Pode parecer coisa de gênio, mas é algo tão essencial quanto o próprio universo.

Adaptar-se para mudar o mundo: Hawking mostrou como isso é possível aos que desejam ser bem sucedidos.

Não escreva romances! Escreva novelas!


Antes de tudo, um alerta para quem encontrou esse texto pelo título. Escreva o que você quiser. Eu, particularmente, acho que todo mundo pode escrever o que bem entender. Se estiver dentro da lei, toque adiante. Então, por que não escrever romances? Simples: romances exigem um mínimo de comprometimento para o qual, talvez, você não esteja preparado. Numa narrativa tão longa, é muito fácil se perder em contradições, furos de roteiro e personagens confusas ou mal construídas.

Entretanto, reitero: cada um sabe de si. Aceite o convite se assim o quiser. Aceitou? Então, vamos às novelas.

Claro, cabe um alerta inicial: estou falando aqui de novelas literárias, textos situados em tamanho e em estrutura entre os contos e os romances. Quem está pensando em novelas como aquelas das redes de televisão e dos serviços de streaming, lamento informar, caiu de paraquedas no meio do deserto. Não vai ter nada por aqui para quem ambiciona ser o próximo Dias Gomes ou a próxima Glória Perez. Então, novelistas e noveleiros, favor se dirigirem ao terminal de embarque.

Continua por aqui? Então preste atenção no início: o argumento. O motivo para uma novela pode ser quase nada, uma ideia miúda como aquela maçã que caiu na cabeça do Isaac Newton. Como escreveu Machado de Assis: “Palavra puxa palavra, uma ideia traz outra, e assim se faz um livro, um governo, ou uma revolução, alguns dizem mesmo que assim é que a natureza compôs as suas espécies”. Definido o argumento, temos aí o sentido de escrever. Não importa se a ideia tem mais a ver com o começo, o meio ou o final da obra literária em si. É a faísca que acende a fogueira, seja de cima para baixo, seja da metade para o final. As chamas vão arder de qualquer maneira. Por isso, convém manter uma distância segura, para se aquecer e, ao mesmo tempo, não se queimar.

Trazemos a metáfora do fogo para a escrita: tenha intimidade com a história que você vai desenvolver. Se deseja falar de robôs que não existem, alienígenas ou monstros, ainda assim, recorra às situações com as quais você se relacionou ao longo da sua vida. Use os fatos vividos, presenciados ou observados à distância por meio de livros, filmes, histórias em quadrinhos, esculturas etecetera e tal. Essa bagagem vai embasar seu estilo. Se não fizer isso, existirá uma grande chance de você chegar ao final do escrito com uma trama vazia, cheia de intenções mal desenvolvidas, burocráticas e nada empáticas.

Escrever pode não ser tão prazeroso para a maioria – e quase nunca é mesmo. Em geral, os autores gostam de ter escrito, não necessariamente de estar escrevendo. Como avisei no início, escrever requer um mínimo de comprometimento. Mas, diferentemente do romance, sua novela pode se desenrolar sob uma atmosfera mais leve, até mesmo descompromissada. Nesse aspecto, novelas, contos e crônicas são como irmãs que assistiram as mesmas aulas.

Aqui, então, vai outra dica: não se arrisque em novelas se nunca escreveu contos ou crônicas. Veja bem, não é uma exigência ou um conselho, mas uma dica para se divertir com as palavras. Ninguém começa numa academia de ginástica com os halteres mais pesados. Deixe a preguiça minimamente de lado e escreva contos ou crônicas de uma única página. Com eles, você vai entender o escritor que já é. Quanto mais escrever, também pode descobrir o escritor que quer ser e que pode ser. Não adianta se espelhar em Shakespeare ou Dostoiévski sem nenhuma base para tal. Só poucos conseguem. Se você conseguir, tanto melhor. Se não conseguir, ainda assim pode escrever com a dignidade que cabe a todo artista.

Depois do argumento, pense em personagens passíveis de se envolver em problemas. Na vida real como na ficção, resolver ou não um problema tem a ver com a própria existência. É trivial, mas sobremaneira importante. Após o nascimento, vem o primeiro problema: a fome. E, logo em seguida, a solução: o alimento. Assim acontece para todo mundo. Os anos passam e os problemas só se amontoam. As personagens da sua história precisarão lidar com os problemas de um jeito que o leitor não perca o interesse pelo que virá a seguir. Se as personagens vão se sair bem ou mal, isso depende das características que elas receberam, das relações delas com as forças além do controle e, principalmente, do grau de empatia de você para com elas. O autor é onipotente, mesmo quando se deixa levar pela própria história. Por isso, aqui, mais uma dica: saiba para onde está indo. Alguns dos grandes autores só começam a desenvolver o argumento inicial se conhecem o final da trama. Talvez não seja necessário ter um desfecho detalhado antecipadamente; basta que o problema central da sua narrativa chegue a um ponto sem volta. Aquele momento em que você revela ao leitor, finalmente, porque precisou da companhia dele até ali. Podemos chamar isso de ponto-de-não-retorno ou de clímax. O que vier depois é apenas consequência.

E como tudo parece ter causa e consequência, uma história linear também lhe ajudará a não se perder durante a escrita. Claro, lembranças, flashbacks e afins surgem de quando em quando, mas isso não deve impedir você de manter a ação sempre em frente. As personagens podem ou não aprender algo ao longo da história; vai depender da sofisticação do caráter de cada uma. Mas, se a linearidade existir, elas devem obrigatoriamente estar em pontos distintos quando do início e do fim. Se não houver movimento, o nada deixa de ser uma possibilidade dramática (aquilo que chamamos de niilismo) e se transforma em mero tédio ou em expectativa frustrada. Dentro disso, podemos definir que os chamados clichês não são responsáveis por estragar o argumento inicial. Pelo contrário; se bem administrados, clichês transmitem uma sensação de verossimilhança e ajudam a compartilhar a intimidade entre leitor e autor. Afinal, lemos as variações das mesmas histórias desde sempre.

Por último, não se acanhe em mergulhar num universo só seu. A perda da dignidade autoral tem início quando aquilo que te orienta na escrita é agradar o seu hipotético leitor. Lide com as palavras como bem entender. Não facilite no vocabulário que você domina. Deixe fluir os parágrafos com a sinceridade que lhe é peculiar. Faça parágrafos longos ou curtos. Seja rebuscado ou coloquial. Escrever é ato solitário. Aproveite toda a liberdade de ser o único que existe à sua maneira e não tenha vergonha de utilizar as referências. Deixe que os outros se preocupem com o que é ou não é original em sua obra. Faça da sua verdade a única possível nesta história. E, evidentemente, não copie. A lei é clara e o plágio é crime.

As novelas, justamente porque situadas entre o conto e o romance, expandem um pouco mais os desejos sem invadir totalmente a catarse no horizonte. Escreva a sua novela e tenha a satisfação de ter feito o melhor que poderia.

Algumas considerações sobre o jornalismo impresso


Novas tecnologias sempre são um desafio. Estabelecer limites, parâmetros, regras gerais, uma ética própria… nunca é um caminho fácil. Com o jornalismo impresso, as lógicas antigas foram colocadas pelo avesso quando da chegada massiva da internet. A mesma comodidade que não te faz sair de casa e matou as videolocadoras também inibe a compra espontânea da mídia impressa. Revistas em circulação há décadas desapareceram. Jornais de papel migraram para os sites. A competição online é maior, mas o fluxo das informações está inequivocamente ligado à força do capital – como todos os negócios. Ainda que alguns se vejam como super-heróis disfarçados, o jornalista e a jornalista são profissionais como quaisquer outros. Sujeitos aos mesmos vícios e qualidades, dilemas éticos e financeiros, sejam empregados ou empregadores. De modo geral, a questão dos jornais diários parece, de longe, a que chama mais atenção. Desde sempre, o jornalismo diário tem sobre si a foice do tempo, ceifando o aprofundamento que se faz tão necessário quanto maior a complexidade do tema. As duas últimas décadas do século XX e a as duas primeiras do XXI como que aprofundaram a crise da produção. Ora por ter adversários com mais recursos (a televisão, pois), ora por lidar com a onipresença do virtual. Tudo isso aconteceu, essencialmente, nos jornais bancados por grandes empresas e, portanto, amarrados às linhas editoriais que quase sempre privilegiam uma elite cheia de si. Nesse ambiente, alguns poucos excelentes profissionais se destacaram, evidentemente. Ainda assim, quem ousaria bater de frente com a política editorial dos patrões? Daí que o jornalismo é um negócio, com interesses próprios. O que não é necessariamente ruim, desde que o leitor saiba o que está comprando. E há a questão das verbas governamentais, distribuídas majoritariamente entre os veículos mais ricos justamente para manter o apoio institucional que um país tão desigual quanto o Brasil impõe. Nesse ínterim, coexistem os jornais de bairro, em sua maioria trabalhando por migalhas de prefeituras ou governos estaduais, dispostos a quase tudo para manter a circulação (que tem muito mais apelo à comunidade próxima do que um jornalão a resenhar o país e o mundo) e pagar as contas. Tudo, mas tudo mesmo, sempre esteve ligado à forma e ao conteúdo – sobretudo nas ciências sociais que lidam com objetividades cada vez mais diluídas num universo de ideias que aceita tudo. Não haverá jornalismo de qualidade sem talento, sem universidades e professores comprometidos com um sistema educacional plural e que exijam do aluno a não-conformidade. É preciso pensar e acreditar que o leitor tem esta mesma capacidade de, humildemente, saber-se ciente de si e dos outros. O Estado também precisa fazer a sua parte, apostando numa mídia muito mais variada, com pequenos núcleos espalhados por todo o país empoderando as comunidades locais, investindo na própria mídia institucional gerida por conselhos da sociedade civil, para fugir do autoritarismo que sempre atrai os que têm a caneta na mão. O jornalismo precisa voltar a fazer sentido se quiser continuar relevante.

Florianópolis e os nomes capitais


Ainda que seja uma abstração humana, o tempo está aí feito aquele convidado indesejado. As ruas e outros locais públicos de uma cidade também têm seu próprio tempo: uma história singular que as colocam numa estreita sintonia com o desajeitado percurso da humanidade.

Nesta Florianópolis que os humanos aterraram além da conta, algumas de suas principais ruas, praças e até mesmo a própria cidade já tiveram seus nomes alterados em função da forma de governo vigente.

Vejamos o caso da praça onde nosso maior monumento vivo, a figueira centenária, descansa solenemente. O local marcou o nascimento da Vila de Nossa Senhora do Desterro. Francisco Dias Velho, o fundador deste pedacinho de terra, construiu sua casa no mesmo lugar em que hoje se encontra a praça, além de erguer uma capela que ocupava o local da atual Catedral Metropolitana. Naquela época, em 1678, a comunidade que ocupava a Ilha era então composta por aproximadamente 400 pessoas. No período de 1748 a 1756, seis mil açorianos aportaram na vila e agregaram outros aspectos culturais às vidas dos moradores já estabelecidos. Em 1823, um ano após a proclamação da Independência do Brasil, o imperador Dom Pedro I elevou Desterro à categoria de cidade. A Ilha era a capital de Santa Catarina, província do Império. Em 1889, o marechal Deodoro da Fonseca proclamou a República e o dia do ato, 15 de novembro, daria nome à praça mais famosa da Ilha.

E, agora, nossa atenção se volta para a própria Ilha: com a renúncia de Deodoro em 6 de setembro de 1893, Floriano Peixoto assumiu seu lugar. Alguns revoltosos da Marinha, porém, se dispuseram a derrubar o novo presidente. Mas Floriano conseguiu desmantelar a revolta. Em Santa Catarina, alguns revoltosos tiveram um desfecho trágico: na Fortaleza de Santa Cruz, situada na Ilha de Anhatomirim, cerca de quarenta presos políticos foram fuzilados. Em 1º de outubro de 1894, o governador Hercílio Luz trocou o nome de Desterro para Florianópolis, em homenagem a Floriano. A Ilha ganharia seu nome atual às custas do sangue derramado. E o nome de Hercílio Luz seria utilizado por todo o município, incluindo a mais antiga ponte que une a Ilha ao continente, a praça nas proximidades da mesma ponte, uma avenida no centro da cidade, etc.

Outra homenagem de gosto duvidoso está presente na Rua Felipe Schmidt, que antes se chamava, pela ordem, Rua Bela, Rua Bela do Senado e Rua da República. Já a atual Rua Conselheiro Mafra chamava-se Rua do Príncipe. Deduzimos, pois, que o tal Príncipe em questão perdeu a coroa quando da Proclamação da República. Assim, os bons conselhos do Sr. Mafra tomaram-lhe a alcunha do logradouro.

Que histórias estes locais urbanos ainda guardam? E até que ponto as mudanças alcançarão nossas esquinas do passado? Fosse possível viajar pelo tempo, recuar às lembranças ou avançar no inimaginável, quão extraordinário seria visitar estes lugares que nos são tão próximos. O curioso é que nem sempre percebemos que o tempo da cidade é tanto aquele no qual vivemos quanto aquele que a história conta.