2020 foi o melhor dos anos. 2020 foi o pior dos anos. A referência à abertura de Um Conto de Duas Cidades, romance histórico de Charles Dickens lançado em 1859, também se apresenta qual um lembrete do que desejamos esquecer; do que não esqueceremos jamais. De tempos em tempos, uma geração se coloca numa situação limite. E as provações aparecem. Alteramos o conceito de pandemia para sindemia por razões próprias deste contemporâneo. Talvez nada tenhamos de especiais ou melhores ou maiores em relação àqueles que já se reencontraram no pó.
Para além do mistério insuperável, a vida se faz dentro do infinito particular. O universo, ou tão somente a ideia do universo, cabe dentro de mentes e corações. As hipóteses se confundem sem um critério definitivo. No fim das contas, tudo tende a permanecer em aberto. E, quando se fecham, cicatrizes ou feridas expostas têm a mesma importância. A existência se desenrola noutros corpos que ainda respiram: universos diferentes e, por vezes, quase antagônicos. De ilusão se vive e se morre.
Os que podemos também passamos um ano inteiro reclusos, com pouca interação social; distantes de familiares e amigos; ausentes de encontros e comemorações que jamais ocorreram ou foram postergadas. Os que escrevemos também deixamos um legado em interpretações que se querem miúdas ou que se ambicionam épicas. Tanto faz. A cada qual conforme suas habilidades.
A arte se fez companheira porque sempre esteve ali, mesmo contra a crueza do real e a impassividade daqueles que já não se importam mais com ninguém. Livros, filmes, canções, gibis, fotografias, pinturas… na bagagem de cada universo a expansão em multiversos.
O poeta jamais se cansa, a poeta nunca desiste.