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Crônicas de Evandro Duarte

~ Textos sobre o universo ao meu redor.

Crônicas de Evandro Duarte

Arquivos da Tag: Florianópolis

Entre a Praça e o Porto, de Angelo Renato Biléssimo

13 segunda-feira ago 2018

Posted by Evandro Duarte in Florianópolis, Livros

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Angelo Renato Biléssimo, Desterro, Entre a praça e o porto, escravidão, Florianópolis, História


Sob a égide da liberdade, parece-nos que a faceta mais relevante da história é sua capacidade de jamais se esgotar. O recorte objetivo de uma documentação disponível (mas pouco explorada) nos permite ir além do que os dados contam na superfície. Neste Entre a praça e o porto: grandes fortunas nos inventários post mortem em Desterro (1860-1880), o historiador Angelo Renato Biléssimo lida com o passado da capital catarinense, então chamada Desterro, para discutir as relações humanas na sua complexidade de sempre, porém com um vigor pioneiro. Os inventários post mortem, que servem de eixo condutor do livro, revelam nuanças de uma elite que se estruturou na cidade e cujos desenlaces socioeconômicos ainda são presentes no cotidiano de Florianópolis. A escravidão também marca presença no livro – os cativos faziam parte do patrimônio de muitas destas famílias com grande poder na economia e na política. Porque a cidade e as pessoas nunca param no tempo.

> Entre a Praça e o Porto: grandes fortunas nos inventários Post Mortem em Desterro (1860-1880). Casa Aberta, 2008.

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O Detetive de Florianópolis, de Jair Francisco Hamms

29 domingo abr 2018

Posted by Evandro Duarte in Livros

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Conto, Crônica, Croniconto, Domingos Tertuliano Tive, Florianópolis, Jair Francisco Hamms, Livro, O Detetive de Florianópolis


Jornalista, colecionador de vocábulos, escritor de mão cheia, imortal da Academia Catarinense de Letras. Jair Francisco Hamms foi um dos maiores no texto curto tipicamente brasileiro. Em O Detetive de Florianópolis (1983), uma seleção de crônicas, contos e/ou cronicontos publicadas no jornal O Estado, passam personagens característicos da capital de então, com o melhor do humor sacana sem ser de mal gosto. Domingos Tertuliano Tive. Ou apenas D. T. Tive. Porque ser desempregado não era/é uma boa opção em Florianópolis. E em lugar algum.

detetive

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Aniversário de Floripa

23 quinta-feira mar 2017

Posted by Evandro Duarte in Cidades da Grande Florianópolis, Florianópolis

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Aniversário, Florianópolis, Mercado Público


Você fica sabendo do aniversário de Florianópolis pelo telefone celular. Terra em que nasceu ou escolheu para ser seu lar. São 344 anos resumidos em um único bipe; mas há muitos outros dias idos ainda no tempo de Meiembipe. As tradições gostam de marcar o tempo por cerimônias formais. E não importa se muito antes de Dias Velho já moravam as tribos locais. Antes, apenas uma Ilha perdida no meio do mar. Hoje, o continente trouxe histórias para somar.

– Mas, esperem aí, esta Ilha não é o paraíso de que todos falam?, pergunta o visitante oriundo de um país estrangeiro.

– Talvez seja, ô. Mas mesmo no paraíso há os que apenas consentem e calam!, responde o ilhéu com seu típico linguajar ligeiro.

Como toda metrópole, esta é uma cidade de dicotomias e desigualdades. Mas quem a conhece de perto, e parte, sempre carrega consigo amigos e saudades. No fundo, somos todos imigrantes numa terra cheia de leis. Porque a natureza não reconhece cartórios ou reis. Em alguns lugares, há corpos delineados por plásticas e carros importados num clima de ostentação. Noutras regiões, a infraestrutura mais básica sequer recebe alguma atenção. Os erros se repetem em todo o mundo, mesmo que tenhamos o sentimento mais profundo.

Na esfera pública, os aniversários de um município são praticamente todos iguais. Se há dinheiro no caixa, a população se anima toda para ver artistas internacionais. Seria uma contradição celebrar o lugar e exaltar o exterior? Ou talvez esta seja nada mais que uma questão posterior. Na pergunta primeira, gritamos: – O que temos para celebrar? E, com o rabo entre as pernas, fingem ter alguma noção para administrar. É a velha e manjada narrativa de quem escolhe um progresso que nada se parece com um justo futuro. No outro lado da balança, os moradores (a grande maioria) seguem firmes sem sucesso, pagando impostos e trabalhando duro.

Tudo bem, ô, falemos de coisas boas e divertidas. Como um chopp no Mercado ou a quitação das dívidas. Afinal, o dia parece ser muito mais urgente. Assim o é para mim e para toda gente. Passado e futuro estão noutras estações distantes. Longínquos como os falsos moinhos de Cervantes. Melhor pedir outro chopp em taça tulipa. Afinal, é aniversário de Floripa.

> Crônica publicada no jornal Notícias do Dia em 23/03/2017.

A Ilha e as perguntas sem respostas

05 quinta-feira jan 2017

Posted by Evandro Duarte in Cidades da Grande Florianópolis, Florianópolis

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Evolução, Florianópolis, Política, Progresso, Travessa Ratcliff


Para azar de 2017, o ano que lhe antecedeu foi sobremaneira desastroso, ainda mais quando levamos em consideração um recorte político. Pois que mesmo os otimistas estão olhando duas vezes antes de atravessar a rua, ou mesmo uma travessa miúda como a Travessa Ratclif, ali no Centro da Ilha. Se é tempo de cuidado e atenção, o mesmo deveria valer para uma administração municipal assim que assume um novo mandato. Em Florianópolis, por sinal, fazia bastante tempo que um mesmo prefeito ficava apenas quatro anos no seu gabinete – claro que, de vez em quando, os alcaides sempre arranjam uma maneira de tomar um ar nas ruas longe das vaias ou dos aplausos. Ao novo prefeito e, por consequência, seus colaboradores, resta a pergunta de sempre: qual progresso estão buscando? “Buscando”. No gerúndio mesmo, já que parece que nunca chegamos nele de fato.

Florianópolis tem suas particularidades, como qualquer outra cidade, mas com aquele ligeiro diferencial que só cabe a outros vinte e cinco municípios – descontando o Distrito Federal, claro: trata-se de uma capital de Estado. E uma capital na qual os principais serviços se encontram numa Ilha, ligada ao continente por duas pontes quase sempre entulhadas de veículos e outra ponte que virou cartão postal em permanente estado de reforma. É bem verdade que os administradores públicos estão cansados de saber disso. E, talvez, tantas singularidades empolguem os candidatos no pleito municipal. Mas a questão do parágrafo anterior continua em aberto.

O progresso tem muitas formas. Diria até que ele possui muitas aparências que se disfarçam de conteúdo. Por isso, sempre que posso, procuro não misturar os conceitos de progresso e de evolução. Enquanto a evolução está meio que por aí, rindo do destino e sorrindo ao acaso, o progresso permanece calado, fruto de uma decisão fria e calculada. Progresso e evolução têm seus defeitos e suas qualidades, sejamos justos. Ambos não nasceram para se transformarem em vilões da história. Pelo contrário, quem carrega esse fardo, em geral, são justamente os líderes políticos, militares, etc… quando ignoram o resto de nós em troca da bonança e do mais do mesmo.

Nós, ilhéus por nascimento ou por adoção, questionaremos até que a resposta seja, ao menos, satisfatória – o que já será um ganho e tanto.

> Crônica publicada no jornal Notícias do Dia em 05/01/2017.

 

A ostra do Sr. Holmes

17 quinta-feira nov 2016

Posted by Evandro Duarte in Florianópolis

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Brexit, Brighton, Dr. Watson, Florianópolis, Inglaterra, Londres, Ribeirão da Ilha, Sherlock Holmes


Tendo aceitado o convite de um velho amigo, o Sr. Holmes veio aproveitar a primavera numa casa com vista para o mar lá no Ribeirão da Ilha. Para não perturbar o pobre senhorio, vamos manter a identidade desse amigo no anonimato, mas convém dizer que o mesmo não faz parte dessa elite antropofágica que só faz deglutir os próprios bens. Era um sujeito simples, tão cordial que o Sr. Holmes tomou-lhe por melhor amigo tão logo seu companheiro de aventuras, Dr. Watson, foi para um universo indecifrável até mesmo para o mestre das deduções. É assim que a vida faz com quem insiste nela: ceifa-lhe tudo – do pó ao pó.

Assim que colocou os pés na areia, o Sr. Holmes se deu conta de que, pela primeira vez, estava numa praia única e exclusivamente motivado pelo lazer. Claro que noutras oportunidades visitara o mar. No litoral sul da Inglaterra, sentia certo apreço por Brighton, uma cidade que atrai muitos turistas, mesmo não sendo tão fascinante pela qualidade de suas praias. O Ribeirão em nada lembrava Brighton, como Florianópolis pouco se assemelhava à Londres.

Entrementes, Holmes, com sua idade avançada, cansara de Baker Street. Logo após o enterro de Watson, revistou as velhas anotações do doutor e decidiu rever amigos de um tempo que estava deixando de ser lembrança viva para se tornar história. Visitou uma ou duas pessoas no Reino Unido, quando o nome de um brasileiro lhe chamou a atenção. Fora aquele nome pitoresco para um londrino ou fora o Brexit (a saída do Reino Unido da Europa)? Não importava: A decisão de cruzar a oceano já estava tomada.

O anfitrião ilhéu do Sr. Holmes levara-o para comer ostras logo na primeira noite. Ah, e como o convidado ficara fascinado com o sabor da iguaria. Trocaria os milhares de chá que tomara no passado para ter conhecido as ostras muito tempo atrás. Mas nem mesmo o detetive mais brilhante de todos os tempos pode alterar o passado. Assim, contentou-se em pedir mais uma dúzia do molusco gratinado – para dividir com seu amigo, evidentemente. Foi aí que lhe ocorreu a solução de um caso que ficara perdido num canto escuro de sua memória. Lembrara-se, agora, de uma história mais surpreendente que Um Estudo em Vermelho ou O Cão dos Baskervilles. Sim, tinha a resposta na ponta da sua língua. Mas, primeiro, haveria de terminar com as ostras.

– Deliciosas!, exclamou.

Uma dedução elementar.

> Crônica publicada no jornal Notícias do Dia em 17/11/2016.

Predicados litorâneos

03 quinta-feira mar 2016

Posted by Evandro Duarte in Florianópolis

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Átomos,, Bósons, Chuva, Ciência, Divino, Florianópolis, Litoral, Natureza, Quarks, Santa Catarina


Quem mora no litoral sabe que o calor quase sempre vem acompanhado de uma chuva passageira. É um jeito divertido de a natureza oferecer a companhia do mar, o calor tão indispensável à vida e, ao mesmo tempo, lavar tudo como quem apazigua os ânimos mais exaltados.

Para o verão, temos um incremento considerável nas chuvas, no calor e em tudo o mais porque a natureza é tão mágica quanto científica. Vide o caso desta Ilha, capital do estado e das discórdias emocionais. Esta cidade, carinhosamente apelidada por estrategistas publicitários de “ilha da magia”, é igualmente um paraíso da ciência construído a partir das mais imbricadas e complexas relações químicas. Átomos, quarks e bósons fazem valer sua presença tanto quanto as bruxas e outros seres fantásticos elencados por Franklin Cascaes. E é justo que seja assim, porque deuses e homens sempre compartilharam do mesmo universo.

Se a natureza foi divina para com a Ilha de Santa Catarina, devemos-lhe prestar algum tributo; seja numa crônica ou tomando um banho de mar antes que comece a chover. Estas homenagens, claro, dão-se cotidianamente ao longo do ano, mas acentuam-se no verão porque, então, a cidade torna-se amplamente ocupada, como se não houvesse lugar vazio ou inexplorado. Há locais, sim, subjugados à vontade de uns poucos – reservados pela separação física inerente ao capital. Mas o verão sempre foi uma estação marginal e, como tal, destinada à democracia muito mais que suas três irmãs. A chuva que cai molha o rico e o pobre deitados sobre o mesmo solo arenoso chamado praia. Uns bebem champanhe, outros cervejas populares: todos saúdam a algo muito maior e mais relevante.

Hoje, aqui no litoral, é dia de compor uma ode ao verão. Por isso, pego meu violão e sigo toda vida reto até a primeira praia que me apetece. Não estou nem aí para o trânsito lento, as buzinas mal educadas ou a fumaça dos veículos. As únicas reações químicas que me interessam passam longe da combustão que nos leva de lá para cá. Sigo contra a corrente, mas a favor da maré e dos mares. Navego sem conexões wi-fi.

Pronto, cheguei. Sinto-me mais do que preparado para traduzir em melodia esses predicados litorâneos sempre ligados a sujeitos ocultos e felizes. Enquanto o sol ponteia o horizonte, ponteio cá as cordas do violão comprado em dez prestações. Agora, a canção está pronta, mesmo que ninguém além de mim a conheça ou venha a conhecê-la. Será para sempre um mistério não resolvido disputado pela magia e pela ciência: um empate técnico sob a chuva.

> Crônica publicada no Jornal Notícias do Dia em 03/03/2016.

cronicafalada

Navios e aviões em águas internacionais

01 quinta-feira out 2015

Posted by Evandro Duarte in Florianópolis, Pensamentos Imperfeitos

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Brasília, Dólar, Economia, Estações, Florianópolis, Política


A temperatura está tão indecisa quanto as pessoas. Há dias de choro nos quais é possível dar risada; há dias nublados em que se vê mais longe do que o próprio coração. As estações foram uma iniciativa grandiloquente em sua origem, principalmente porque se acreditava ter algum controle sobre o que torna a todos tão pequenos. Mas fingido é o clima em qualquer lugar, seja na seca Brasília (uma ilha-avião que nunca decola) ou na úmida Florianópolis (ilha-embarcação que navega sobre si mesma).

E se o clima pode variar, por que não as taxas de câmbio? O dólar nas alturas aquece e esfria mercados ainda mais severamente que uma frente fria oriunda de uma massa polar. Qual o aquecimento global que nos aproxima mais rapidamente de uma nova idade do gelo, essa economia de capitais especulativos nos encaminha às crises que se repetem tanto quanto aquele Vento Sul na ilha-embarcação. E mesmo o dólar dos turistas não é o suficiente para aplacar o sopro dos gigantes que estremecem lojas, empresas e fábricas de Naufragados à Ponta das Canas. Naveguem por aqui, verdes desenhos de George Washington, Ulysses S. Grant e Benjamin Franklin. Hoje, mais do que antes, dólares são mais do que reais.

Mas se o boom do turismo em dólar na capital catarinense ocorreu ali pelo final da década de 1990, o mesmo não pode ser dito da capital da nação. Lá, as verdinhas sempre falaram alto, seja como patrocínio indevido, incentivos fora de ordem ou, claro, corrupção na cara dura. A ilha-avião é, também, um porto-seguro para quem passeia por tempestades e afins. Para os que têm contatos, não há dia ruim, mesmo que a falta de umidade bata recordes históricos. Ali, como em qualquer parte, a opção do jeitinho sempre é uma segunda via quando a burocracia e as leis soam incômodas aos malandros de carteirinha. O motor de Brasília não funciona porque a gasolina foi desviada.

Pode ser ingenuidade acreditar que as leis ainda dão sinal de vida. Mas esta é uma sensação que permanece no ar apesar de tudo, como uma brisa quente anunciando mudanças no termômetro. Em princípio, não adianta esperar por uma chuva torrencial que lave a alma dos corruptos e incompetentes, mas também não é hora de abandonar o navio (ou o avião) e se deixar levar pelas águas internacionais. O que é o dólar se não um artifício fingido que também depende de tudo o mais para se manter de pé? Se o clima favorece a moeda estrangeira, vamos mudar o mundo de lugar. Olha o vento sul chegando…

> Crônica publicada no Jornal Notícias do Dia em 01/10/2015.

Quadrinhonópolis

27 quinta-feira ago 2015

Posted by Evandro Duarte in Florianópolis

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Conto, Florianópolis, História em quadrinho, Super-herói, Vintage


Nesta história em quadrinhos que ainda não foi desenhada, existem balões mágicos que trazem textos e sonhos. Não é uma aventura de super-herói porque a Florianópolis não convém esse clima vintage. Mas é uma trama cheia de sutilezas e sabores peculiares.

Começa com um sujeito comum sentado à beira da praça engraxando os sapatos de outro sujeito prosaico. Prosa vai, verso volta e no quadrinho seguinte a notícia surge na voz de um menino apressado:

– …mas estão dizendo que não vai sobrar nada em pé.

Com tão pouca informação, o engraxate não tem a menor ideia sobre o que o infante comentava. O sujeito prosaico sequer ouviu qualquer coisa, pois estava com um desses aparelhos que tocam mp3. Então, veio a primeira onda: não uma tsunami, mas sim um marouço de pessoas. O engraxate terminou o serviço, cobrou o cliente e seguiu o balanço de gente.

Entrementes, damos com um desenho em página dupla. Um formigueiro de gente subindo a Rua dos Ilhéus. É uma ilustração do ponto de vista de um helicóptero, com um único balão de pensamento: “que destino nos aguarda?”, indaga-se o engraxate.

A sequência das duas próximas páginas é uma espécie de ordenamento do caos: gritos, sirenes, empurrões, apitos, tambores, cassetetes, retroescavadeiras, arranhões. A utilização de onomatopeias destaca o clima urbano e barulhento que se pretende.

Na janela de um casarão antigo, alguém grita:

– Não vou sair daqui!

No balão de pensamento do oficial de justiça entendemos a situação: “Eu estava saindo para comer um cachorro-quente e me mandam aqui despejar essa senhora porque é preciso demolir uma casa velha. Até aí, nada demais. Poderia ter feito tudo em cinco minutos. Mas foi só a imprensa aparecer e afirmar que esta é a construção mais antiga da cidade que isso aqui virou uma festa do arrivismo social! E eu continuo com fome”.

Este é um daqueles momentos em que deveria aparecer um super-herói, mas sabemos que isso não vai acontecer desde o primeiro parágrafo.

Outra página cheia: são as metades dos rostos da senhora da casa e do engraxate como que formando uma única pessoa. A frase de um parece completar a do outro.

Senhora:

– Garantir o futuro para vocês é…

Engraxate:

– …não se importar com o passado.

Última página: uma nuvem fecha o sol e o desenho fica escurecido aos poucos… no quadro seguinte, a imagem já está em preto e branco. A retroescavadeira avança no mesmo momento em que a mulher é puxada para fora da edificação. O sapato dela cai bem ao lado do engraxate.

O engraxate pega o calçado e fala para si mesmo:

– Um passo. Um passado.

Não há final feliz. Nem super-herói.

> Crônica publicada no Jornal Notícias do Dia em 27/08/2015.

Memórias de inverno

25 quinta-feira jun 2015

Posted by Evandro Duarte in Florianópolis

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Bom Retiro (SC), Escola, Florianópolis, Inverno, Lembrança, Litoral, Memórias, Nordeste Brasileiro


Quando ainda estudava no ginásio (ou seja lá como o chamam agora), tive a sorte de ser levado para a escola no carro da família – o que fazia uma enorme diferença no inverno. Meu pai me conduzia ao colégio que ficava a aproximadamente dois quilômetros da minha casa, em Florianópolis. O que aparenta ser uma distância grande fica minúscula quando ouço meu avô materno contar que minha mãe e seus irmãos andavam dez quilômetros para estudar lá na gelada Bom Retiro. Mas o que podemos desejar que não o melhor para cada geração seguinte? De tal modo, não tenho palavras para agradecer a educação que tive dentro de casa, o que me ensinou a dar valor para gestos tão modestos quanto esta carona familiar.

Como sempre frequentei o colégio de manhã, muitas vezes seguia rumo aos estudos com algum bocado de sono (que aumentava ainda mais no inverno), e cochilava no banco traseiro do carro. Em oportunidades ocasionais, meu pai conduzia o carro no itinerário automático da manhã; saía de casa, passava em frente à escola, e voltava para casa. E eu? Às vezes, ficava dormindo no banco traseiro que não despertava sequer a atenção do meu pai, e acordava já na metade do caminho de volta, sempre avisando: “ei, passamos da escola!”. Hoje, lembrando destes momentos, já não busco encontrar o responsável por aquelas desventuras, mas perceber como estas situações do cotidiano transformam nossa realidade e formam nosso caráter.

Numa destas muitas idas e vindas, uma ou duas vezes meu pai deu carona para alguém. Lembro especificamente de um dia de inverno, daqueles em que até os cães mais peludos buscam um cobertor ou a perna quente do dono. Fora do carro, um rapaz de uns vinte e poucos anos e um outro tanto de roupas quentes pedia carona. Meu pai parou; o rapaz entrou, e conversaram até chegarmos ao meu destino estudantil. Ficamos então sabendo que o jovem encasacado era do Nordeste, e nunca passara tanto frio assim na vida. Fico imaginando se ele chegou à capital catarinense no verão e encontrou nas praias e na agitação dos dias quentes as similaridades de sua terra natal. Então, o inverno chegou como um convidado indesejado e PUFT! Derrubou suas expectativas familiares. E, para ser sincero, creio que ele tem alguma razão. Num país tropical, fica difícil entender como o inverno pode ser tão surpreendente no litoral, com as praias vazias quando antes era difícil encontrar um cantinho na areia para abrir o guarda-sol.

As memórias de inverno são geladas demais para esquecer. E os cachorros, outra vez, estão encolhidos sobre o cobertor.

> Crônica publicada no Jornal Notícias do Dia em 25/06/2015.

Florianópolis estrangulada

07 quinta-feira maio 2015

Posted by Evandro Duarte in Florianópolis

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aterro, Florianópolis, Ministério Público, Política, Roberto Burle Marx


Muito mais do que um estrangulamento físico, refletido nas vias entupidas de veículos, nos prédios que crescem sem uma gestação saudável e na carência cada vez maior de áreas ocupadas pela natureza, Florianópolis vive um estrangulamento político – e em seu pior momento, diga-se de passagem. A política aqui não entra apenas na questão partidária ou nas atuações dos governos municipais que se alternam sem alterar os paradigmas. O estrangulamento político pelo qual a cidade é sufocada tem muito mais a ver com a demanda equivocada dos mais diversos segmentos sociais.

Não obstante o fato da capital do estado ter se tornado um chamariz por suas belezas naturais, há aqui também um palco ideal para a criação de forças políticas vazias e, ainda assim, contraditórias. Esses rivais de fachada se alimentam mutuamente, girando uma roda que não sai do lugar, quais escravos de si mesmos. À direita ou à esquerda, as brasas dormidas não reacendem porque lhes faltam interesses comuns. Para essa gente preocupada demais consigo mesma, é necessário refutar tudo o que não lhe diz respeito, partindo para acusações mesmo que não existam testemunhas. Alguns, claro, costumam pedir que o Ministério Público investigue, como que lavando as mãos do processo.

Essas deficiências de entendimento imputaram à cidade uma condição peculiar de urgência e ausência do pensamento reflexivo. Esse drama já vem de muito tempo, mas começou a ficar mais evidenciado na época dos aterros da região central e da Beira Mar Norte. Para o aterro do Centro da Ilha, o arquiteto-paisagista Roberto Burle Marx pôde até ter desenvolvido um projeto impecável, mas a pergunta que ficou até hoje ainda não foi respondida: era preciso? O mau uso do aterro, que inclui estacionamento, um centro de convenções tão elaborado quanto um caixote de madeira e uma usina de tratamento de esgoto que recebia os recém-chegados à Ilha com um desagradável fedor de excreções, é o exemplo perfeito dessa incompetência para conceber a cidade a longo prazo.

As demandas, então, efervescem como comprimido no copo d’água, sendo engolidas tão rapidamente quanto surgem: os movimentos sociais pelo passe livre e contra o aumento da tarifa, as greves dos motoristas de ônibus, as manifestações contra obras que interferem no meio ambiente… e outros tantos pleitos factuais ou sazonais não criam vínculo porque o estrangulamento é anterior a tudo isso. Vale destacar que essas reivindicações populares são legítimas bem como necessárias à democracia. Mas, sem o entendimento, o sufoco só tende a aumentar.

Vamos respirar enquanto ainda for possível.

> Crônica publicada no Jornal Notícias do Dia em 07/05/2015.

Paris via Florianópolis

29 quinta-feira jan 2015

Posted by Evandro Duarte in Cidades da Grande Florianópolis, Florianópolis

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Casablanca, Charlie Hebdo, Cinema, Florianópolis, Humphrey Bogart, Ingrid Bergman, Marrocos, Paris


Pois é uma verdade que a arte faz a gente viajar sem sair do lugar. Esta deve ser uma ideia tão velha quanto o dia e a noite, mas reverbera diuturnamente, como um estar consigo itinerante.

De um cinema em Florianópolis, fui para Paris enquanto assistia ao filme “Casablanca”, pela primeira vez numa tela grande. Por tê-lo assistido incontáveis vezes em muitos aparelhos de televisão diferentes, tenho muitas falas na ponta da língua. Mas, para registro, vou ficar com uma dita por Rick Blaine, a personagem principal, quase ao final do filme: “Sempre teremos Paris”. No momento em que Rick, interpretado pelo genial Humphrey Bogart, diz esta frase para sua amada Ilsa, a não menos genial Ingrid Bergman, Paris estava ocupada pelas tropas nazistas e o futuro parecia um erro trágico. Ainda assim, com o mundo em guerra, a Paris de que Rick fala é aquela de paz e paixão.

O filme, realizado quase inteiramente dentro de estúdios, não teve cenas gravadas em Paris ou mesmo em Casablanca, no Marrocos. Mesmo assim, ainda hoje é possível ir para qualquer uma destas cidades, como um viajante de ocasião que, de repente, acordou com vontade de subir a Torre Eiffel. E se Paris está de novo no centro das atenções por motivos torpes, como a chacina que ocorreu dentro revista Charlie Hebdo, é ainda mais necessário assistir ao filme de 1942. Não se trata de escapismo barato ou aceitar que realidades artificiais são mais interessantes. Pelo contrário, a arte é uma possibilidade infinita justamente porque reafirma a importância dos nossos contextos. Entre avanços e recuos, o quanto estamos longe daquele momento de que a película aborda? A resposta é precisamente aquilo que torna uma obra clássica no sentido mais concreto do termo, longe de distinções sociais ou noções pueris de nobreza.

Na viagem que fiz, parti de Florianópolis como se aqui mesmo também fosse o destino final, porque sempre voltamos para casa, de um jeito ou de outro. E se lembrei da Paris de ontem e hoje, poderia fazer o mesmo com essa Ilha capital. O que se espera desta cidade que abraça o futuro sem entender que sua essência é o passado-presente? Que diria Rick Blaine se tivesse deixado Casablanca no avião seguinte e viesse ter com nossa gente de falar apressado da Tapera ou do Ribeirão? Imagino que Rick passaria uns maus bocados para entender a língua nativa tanto quanto tivera para compreender o alemão. Mas, após um ou dois anos gastando o dinheiro que ganhara de uma aposta, abriria aqui também um café-bar, e deixaria que tocassem, de novo, As Times Goes By ao piano.

> Crônica publicada no Jornal Notícias do Dia em 29/01/2015.

Paixão doidivanas

22 quinta-feira dez 2011

Posted by Evandro Duarte in Cidades da Grande Florianópolis, Florianópolis, Praias de Florianópolis

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Amor, Beverly Hills, Conto, Florianópolis, Hollywood, Lagoa da Conceição


Foi sem querer quando os dois ficaram juntos na primeira loucura. Ele voava de asa-delta e ela esquiava nas águas quentes da Lagoa da Conceição, em Florianópolis. Henrique, já com seus vinte e tantos anos, encantou-se pela garota que lhe acenara com as duas mãos antes de cair na água. Ele estava prestes a pousar, mas a visão de Anita molhada quase provocou um encontro não programado entre Henrique e uma árvore que pretendia imitar aquelas palmeiras de Beverly Hills. Ainda assim, alcançou o solo em segurança e foi ter com a encharcada Anita que, não por acaso, parecia uma estrela de Hollywood da qual ele não lembrava o nome.

– Mas que loucura!, foi o que ela disse logo que se encontraram. Aquele jeito dela falar lhe pareceu um tanto quanto encantador demais para uma amante de esportes radicais.

E assim, num dia quente de dezembro, começaram a se amar. Quando conversaram para se conhecer, Anita lhe contou o quanto sofrera em sua última relação e tudo por causa de sua sogra que não apreciara seus dons culinários. Já Henrique revelou que tivera um filho pouco antes de prestar o vestibular e logo depois acabou se divorciando da mãe. E fora durante o divórcio que ele iniciou suas aventuras nas alturas. Na primeira vez, andou de balão, mas achou muito vagaroso. Então, partiu para a asa-delta. “Quando nos conhecemos, eu estava fazendo o meu primeiro voo solo”, disse orgulhoso.

No primeiro aniversário de namoro, ela saltou de bungee jumping – “porque o nosso amor foi rápido como um pulo”, Anita gritou durante a queda, enquanto ele assistia angustiado.

Naquele tempo, eu (que narro esta história) ainda era amigo deles, mas não pude deixar de perceber que o exagero só fazia crescer.

Quando ela passou num concurso público, Henrique escalou uma montanha congelada. Assim que ele conseguiu comprar um carro zero, Anita desceu de rapel uma cachoeira no meio da selva. E quando souberam que iriam ser pais? O que você acha que eles inventaram? Vá, use sua mente e pense numa ousadia qualquer. Acaso imaginou um salto de paraquedas? Sim? Pois acertou um cheio. As alegrias da vida eram motivos de sobra para ambos explorarem ainda mais os seus limites pessoais.

Atualmente, já não tenho mais contato com ambos. Soube que o filho deles está em Hollywood, aquele lugar das palmeiras, e trabalha como dublê em filmes de ação. Dizem que as cenas nas quais ele atua dão medo só de assistir, mas foi assim que ele encontrou a sua atual namorada. E ainda tem gente que não acredita naquela famosa frase que diz que amar é correr riscos.

> Crônica publicada no jornal Notícias do Dia em 22/12/2011.

A coisa que era um negócio

01 quinta-feira out 2009

Posted by Evandro Duarte in Cidades da Grande Florianópolis, Florianópolis, Pensamentos Imperfeitos

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Beira Mar Norte, Conto, Florianópolis, Literatura, Pescador


E é mais uma história de pescador. Ou não. O fato é que Valdir, empresário famoso na região da Grande Florianópolis, possuía um apartamento na Avenida Beira Mar. Diziam as fofoqueiras de plantão que daquele local, exatamente a meia-noite, o homem saía voando pela janela do seu quarto e retornava algum tempo depois. Como se pode constatar atualmente, não há nada que comprove essas ocorrências, pois nem mesmo Notícias do Dia divulgou tal coisa.

Um mês. Um semestre. Um ano. O tempo passava e Carlos, pescador que vivia madrugando no mar da mesma avenida, continuava a ver aquele estranho fenômeno acontecer nos céus da Ilha de Santa Catarina. Entretanto, Carlos não contou o fato para ninguém, pois algum mané poderia chamá-lo de doido varrido.

Numa sexta-feira 13, porém, antes de entrar no seu barco, o pescador tomou coragem e decidiu falar com Valdir. Tocou o interfone da Cobertura 1666. Ninguém atendeu. Casualmente, Valdir chegava em frente ao prédio e os dois se encontraram. Olho no olho, ambos ficaram parados por uma fração de segundo. Uma pomba voava por ali, mas isso não tem nada a ver com a trama.

– Olha, seu Valdir – disse Carlos com uma fala rápida e respiração agitada. – Toda noite sai uma coisa voando da janela do seu apartamento. O senhor poderia me dizer que diabos é aquilo?

– É uma coisa – respondeu Valdir calmamente.

– Ah, uma coisa.

– Isso. Exatamente uma coisa.

– E que coisa é essa?

– Essa coisa é um negócio meu.

– Um negócio teu?

– É, meu. E um negócio grande.

– Um negócio grande que voa?

– Isso. Mas é um negócio colorido, bem grande e que voa.

– E que negócio é esse?

– Uma coisa.

Algum tempo depois, um outro pescador que era amigo de Carlos viu uma coisa saindo pela janela do apartamento de Valdir. Ele então foi comentar o fato com seu amigo de trabalho. Carlos contou-lhe logo a verdade:

– Não se preocupe, meu caro amigo. Aquela coisa que sai voando é um negócio colorido bem grande e que voa.

…

Pouco antes de ir deitar, Valdir continuou a fazer o que já era de costume nas suas noites. Ele pegou a linha, jogou a pipa no ar e ficou brincando alegremente com seu brinquedo colorido bem grande que voava.

> Crônica publicada no Jornal Notícias do Dia em 01/10/2009.

Crônicas de quinta(-feira)

30 quarta-feira abr 2008

Posted by Evandro Duarte in Notícias do Dia, Pensamentos Imperfeitos

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Crônicas, Florianópolis, Notícias do Dia


Este blog inicia hoje para divulgar as crônicas publicadas por este escriba às quintas-feiras no Jornal Notícias do Dia, que circula na Grande Florianópolis – Santa Catarina.

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Perfil

Jornalista. Escritor. Leitor. Espectador. Algumas passagens da minha trajetória: Em 1998, fui Diretor de Imprensa do grêmio estudantil da Escola Técnica Federal de Santa Catarina (Florianópolis/SC). Entre 2001 e 2005, editei o fanzine JornalSIN na UNISUL (Palhoça/SC). No mesmo período, editei a seção de Literatura do portal cultural www.sarcastico.com.br (Florianópolis/SC). Realizei a cobertura crítica do Fórum Social Mundial (em Porto Alegre/RS) nos anos de 2002, 2003, 2005 e 2010 para o site www.sarcastico.com.br. Em 2002, atuei como cronista de cinema e editor de Cultura do Jornal Mercosul (Florianópolis/SC). Em 2004, publiquei o livro "Caderno Amarelo de Poesias". Entre 2005 e 2006, atuei na área se assessoria de imprensa na Exato Segundo Produções – tendo como clientes a Banda Os Chefes, o Fundo Municipal de Cinema de Florianópolis, Catavídeo – Mostra de Vídeos Catarinenses, além de diversas produções audiovisuais. Em 2008, fui um dos vencedores do 6º Concurso Literário Conto e Poesia realizado pelo Sinergia - com a poesia "Nova Iorque em Vermelho". Em 2011, fui um dos vencedores do 7º Concurso Literário Conto e Poesia realizado pelo Sinergia - com a poesia "Soldado sem sentido" e com o conto "Velhos corações imaturos". Entre 2013 e 2015, fui editor-chefe do Jornal Independente (Biguaçu/SC). De 30/04/2009 a 10/08/2017, fui cronista semanal do jornal Notícias do Dia (Florianópolis/SC). Desde 2016, sou um dos fundadores e cronistas do site www.centopeia.info. Escrevo constantemente para meu blog www.cronicasdoevandro.wordpress.com e atualizo o perfil do instagram @cronicasdoevandro.

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