Todos os regimes políticos, se investigados em profundidade, levam à aporia. E o que vem depois da dialética inconclusiva? O desespero. Sobretudo no mundo mediatizado, sem um ponto de sustentação no qual todos concordam.
Daí que o fim da aferição consensual se traduz na enormidade de produção vazia e no conteúdo inócuo forjado pela avidez consumista. Meios e mensagens permanecem esmagados sob uma campanha de marketing do “eu” bem como do “si mesmo”.
Anulam-se os incômodos num enredo fictício; perde-se a intimidade e, pior, ausenta-se a necessidade do estranho, da pauta que não lhe pertence, do entendimento que o outro nos engrandece por oposição. O prazer se esvai num bueiro burguês e apátrida.
Quando a alienação atinge seu ápice, os referenciais são dispensáveis. O caos se instala com ares de suavidade se deixamos de saborear o silêncio da reflexão.
Particularmente, lamento a falta de disposição da maioria em analisar os fluxos do pensamento ou as consonâncias entre os modos de produção e as necessidades ético-morais.
Sobram dívidas de um lado, dividendos de outro, mas quase nada de euforia silenciosa, de prazer venturoso no ócio, de equidades catárticas, de laivos criativos.
A sociedade olha para si e enxerga apenas um casal enrolado num cobertor amarelo e uma mancha esquálida que lembram, vagamente, algo que já foi humano.