Filmes como Gravidade, do diretor Alfonso Cuarón, projetam uma certeza de que o cinema nasceu da ciência para abraçar a arte. O exato nascimento desta sétima e última arte se dá pela benção da tecnologia. Antes da exibição, o cinema já existe na máquina. Assim como o conhecimento científico, as artes se completam através de um continuo exercício da técnica. E Gravidade é a excelência tecnológica do início ao fim.
Mas não me entendam exclusivamente pelo viés dos avanços visuais que o mundo digital legou ao cinema contemporâneo. Para fugir disso, reveja em sua coleção o trabalho de Stanley Kubrick em 2001 – Uma Odisseia no Espaço (1968). A ciência de um filme ambientado no espaço já estava completa lá. Mas Cuarón distancia-se do mundo épico e sensorial da obra sessentista. O diretor sintetiza a filosofia extemporânea numa situação mais do que concreta: continuar a existir. Essa constância de sua personagem central, a astronauta Ryan Stone (Sandra Bullock) também será a de seus planos, cenas e sequências indissociáveis. A poesia inevitável de uma película cósmica terá muito mais a ver com os limites do espaço ao redor do que com a infinitude do universo que se expande.
Se Alfonso Cuarón é um cineasta que contempla todas as possibilidades definindo sua arte pela técnica (ou seria o contrário?), essa mesma determinação está visível no trabalho de Sandra Bullock, tão excepcional e metódica como em A Casa do Lago (2006), de Alejandro Agresti.
Não há espaço para o solene em Gravidade: pois o tempo não faz apagar memórias. E na ausência das condições mínimas de sobrevivência, Stone (pedra, em inglês) cai com dignidade.
Afinal, se as leis da física são a favor da vida, mantendo o universo unido, também ao artista recai o peso de sua própria existência.