O Brasil teve uma modernidade tardia, como fora tardio tudo o mais. Até mesmo a família real portuguesa chegou tarde nestas terras promissoras. Quando o continente americano recebeu a tradição europeia, os atrasos na importação/exportação cultural tiveram reflexos na formação nacional. Neste sentido, a literatura também segue caminhos tardios. Um fato objetivo; menos uma análise pessimista das origens de nossas desigualdades. Luís Augusto Fischer, no livro Literatura Brasileira: Modos de Usar (2003), avalia que o realismo inaugurou uma tradição em nossa literatura que perdura até os dias presentes. De Machado de Assis, Aluísio de Azevedo, José de Alencar, passando por Jorge Amado, Graciliano Ramos, Erico Verissimo, chegando até Roberto Drummond, Rubem Fonseca, Ana Miranda e outros tantos. Ainda segundo o autor, este legado realista se origina no sentimento daqueles portugueses que nos colonizaram, que tinham a convicção do “não vale a pena”, sentimento” (…) marcado por falta de método, de previdência, por uma espécie de desleixo (…)”. Seríamos realistas, pois, por falta de perspectivas. Resta provado que nem todos os autores mergulham de cabeça no realismo. Há aparição singulares que destoam de tais gênero. Vide um Augusto dos Anjos ou uma Clarice Lispector; esta, no íntimo psicológico, aquele, no íntimo físico. A pós-modernidade, intrínseca à internet como registro de todo o conhecimento humano, reduziu as distâncias do tempo. Todas as épocas podem ser consumidas por igual, a qualquer momento. As ideias do realismo se fundiram numa perspectiva surreal. O avesso do avesso, como melhor se lhe aprouver. De todo o modo, parece que a literatura brasileira acordou tarde para o banquete cultural, mas teve a malandragem de aparecer na hora da sobremesa.
> Literatura Brasileira – Modos de Usar. Escrito por Luís Augusto Fischer. Publicado originalmente em 2003 pela editora Abril. Relançado em 2007 na coleção L&PM Pocket.