Solidão não faz sentido


A conhecida e hipotética pergunta “quem você levaria para uma ilha deserta?” esconde em si mesma uma das maiores mentiras da humanidade: não há como ser feliz na solidão, mesmo se compartilhada. A dúvida primeira na ilha deserta é ainda aquela que guiou mulheres e homens desde os primórdios dos tempos. Os deuses antigos criaram a humanidade porque se sentiam solitários. Eva descobre a maçã e a reparte com Adão porque quer saber dos outros – a unidade-complementar não lhes basta.

Penso que a vida mais completa para um religioso não se dá por meio de uma dedicação exclusiva a sua divindade, mas sim no compartilhar o melhor do si com seus semelhantes. Nas páginas da literatura, a personagem Robinson Crusoé, de Daniel Defoe, jamais está solitária de fato, mesmo que isto lhe pareça ser o fardo de um único sobrevivente de um naufrágio, abandonado ao próprio destino numa ilha que parecia ser desabitada. Primeiro, Crusoé encontra alguma companhia ao preencher as páginas de um diário. Depois, o nativo Sexta-Feira, assume o lugar.

Menos sorte teve Chuck Noland, personagem cuja desventura é apresentada no filme Náufrago, de Robert Zemeckis. Após uma queda de avião no meio do oceano, Noland encontra refúgio numa diminuta ilha, então, deserta de fato; ainda assim, uma bola de vôlei faz as vezes de amigo imaginário. Wilson – a nomeada bola – é essa eterna procura pelo outro que não cessará até o último ser humano deixar de existir.

Mesmo nas mais tenebrosas situações, a solidão não faz sentido e seu único propósito consiste em nos lembrar que uma ilha deserta é o último lugar no qual gostaríamos de estar.